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A COP26 trouxe uma enxurrada de anúncios sobre a “proteção” das florestas. Entre eles está um novo acordo entre governos, incluindo o Brasil, para conter o desmatamento até 2030. Mais um item na bagagem de falsas soluções que o governo brasileiro trará na volta para casa. O acordo, na prática, substitui a Declaração de Nova York sobre Florestas de 2014, que estabeleceu a meta para o ano de 2020 (embora o Brasil não o tenha assinado).
De Glasgow, onde ocorre a Cúpula do Clima da ONU, a diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, afirma que “há um bom motivo pelo qual Bolsonaro se sentiu confortável em assinar este novo acordo. Ele estende o prazo para acabar com a destruição da floresta em dez anos, não é obrigatório e, quando se trata de limpar as cadeias de abastecimento, parece ter como alvo apenas o desmatamento ilegal.
Mas a Amazônia já está à beira do colapso e não pode sobreviver a mais uma década de destruição, legal ou não. Os povos indígenas estão clamando pela proteção de 80% da Amazônia até 2025, e eles têm razão: é o que é preciso. O clima e o mundo natural não têm condições de pagar por esse acordo.”
Outras intenções
Após três anos sem planos para reduzir efetivamente a derrubada da floresta, o governo promete agora cortar 15% do desmatamento em 2022, ano em que termina o atual mandato presidencial. Se em 2021 tivermos taxas de destruição iguais às dos últimos dois anos, esse número estaria por volta de 9 mil quilômetros quadrados de mata derrubada. Um aumento de 22% em relação ao ano de 2018, véspera do início do governo Bolsonaro.
O governo “antecipou” também a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028, mas a conta não fecha. Até lá, o governo estaria admitindo quase 42,2 mil quilômetros quadrados de desmatamento ilegal, uma área maior que a Holanda ou Suíça, por exemplo.
Enquanto o Brasil se aproveita da visibilidade da COP26 para anunciar diversos programas, novas metas de redução do desmatamento ilegal, cortes de emissões e um plano para acelerar a economia verde, por trás das cenas – como mostrou a reportagem de investigação jornalística do Unearthed, do Greenpeace no Reino Unido –, a intenção é outra.
O Brasil, ao lado de outros países, tentou interferir nas recomendações do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para excluir as menções à agropecuária como vilão do clima e a importância da adoção de uma dieta baseada em vegetais.
Vale lembrar que o desmatamento e a agropecuária representam 72% do total das emissões dos gases do efeito estufa do Brasil. As emissões no país aumentaram 9,5% em 2020, impulsionadas pela destruição da Amazônia — resultado de escolhas políticas deliberadas do governo Bolsonaro.
Hora de mudar
A falta de ação para reduzir a demanda por carnes e laticínios industriais – uma indústria que está causando a destruição do ecossistema por meio da produção de gado e do uso de soja para ração animal –, nos mostra que há poucas chances de o governo cumprir esse acordo e instigar políticas que colocariam o Brasil de volta ao caminho certo para diminuir o desmatamento.
Enquanto não adotarmos dietas baseadas em vegetais e reduzirmos a quantidade de carne industrial e laticínios que consumimos, os direitos dos povos indígenas continuarão a ser ameaçados e a natureza continuará a ser destruída, em vez de ter a oportunidade de se restaurar e se recuperar. (Do Greenpeace)
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