Argentina estraga a festa improvisada

Com golaço de Di María, hermanos batem Brasil em pleno Maracanã por 1 a 0, vencem um torneio após 28 anos, proporcionam a Messi levantar primeiro troféu com seleção principal e estragam a “festa” do governo brasileiro

Argentina estraga a festa improvisada

“Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer”

O verso de Cazuza na música Brasil (1988) se encaixa com perfeição para o estrago que Di María causou nas pretensões do governo brasileiro de transformar um torneio de futebol improvisado em instrumento de propaganda para uma gestão cada vez mais contestada pela população que, segundo o Datafolha, 63% da população considera o atual presidente incapaz de liderar o país e, pela primeira vez, a maioria é favorável ao impeachment.

Mas vamos ao futebol.
Originalmente, a 47ª edição do torneio era para ser disputada simultaneamente na Colômbia e na Argentina, mas devido ao agravamento da pandemia de Covid-19, o evento foi cancelado nos dois países e, para surpresa do mundo, foi transferido para o Brasil, país com maior número de mortos pelo coronavirus no continente e segundo do planeta.

A Colômbia voltou para casa com o terceiro lugar após vencer o Peru por 3 a 2, já a Argentina, que não vencia um torneio há 28 anos e contava com um dos melhores jogadores de todos os tempos, Lionel Messi, que levantou a primeira taça com a seleção principal, voltou para casa de alma lavada.

Mas coube a Ángel Di María fazer história ao marcar um golaço aos 21 minutos do primeiro tempo, selando a merecida vitória do escrete albiceleste por 1 a 0.

Bastante combativa, em especial na dedicação de Paquetá, a Seleção Brasileira penou para achar brechas. Após lançamento, Richarlison escorou e Neymar arriscou o chute, mas a bola saiu prensada na marcação. Minutos depois, o "Pombo" concluiu e, após desvio, Emiliano Martínez salvou.  

Aos poucos, a Argentina foi dominando as ações no meio de campo e contou com um momento de hesitação da defesa brasileira para abrir o placar. De Paul fez lançamento milimétrico para Di María. Renan Lodi se atrapalhou ao tentar o corte e abriu caminho para o camisa 11 avançar livre e tocar por cobertura na saída de Ederson.

A vantagem empolgou a equipe de Lionel Scaloni. Em nova investida, Di María finalizou e, após um desvio na zaga, Marquinhos se desdobrou para evitar que Lautaro Martínez chegasse para concluir. Logo depois, Fred cochilou diante Messi, e o camisa 10 passou como quis para bater forte, rente à trave. 

Tite chegou a inverter o posicionamento do ataque, colocando Everton pela esquerda, Lucas Paquetá pela direita e deixou Neymar e Richarlison no centro. Contudo, a Seleção seguiu esbarrando no bloqueio argentino e tendo escassas finalizações. Casemiro encheu o pé e Emiliano Martínez encaixou. Já o "Cebolinha" viu sua conclusão parar na marcação.

A Seleção Brasileira voltou do intervalo com a Roberto Firmino no lugar de Fred. A mudança deixou a equipe mais incisiva e com espaço para atacar pelo lado esquerdo. Aos sete minutos, Paquetá abriu caminho para Richarlison na esquerda. O camisa 7 avançou com calma e tocou na saída do goleiro. Porém, a celebração durou pouco: o gol foi anulado por impedimento do "Pombo" no início da jogada. Minutos depois, Neymar esticou bola e Richarlison encheu o pé, mas parou nas mãos de Emiliano Martínez.

Pouco a pouco, a Argentina foi controlando os nervos do duelo. Além de picotar a partida com faltas e entradas mais duras, a equipe aproveitava brechas que apareciam no setor ofensivo. Messi se desvencilhou de Renan Lodi e esticou, mas Guido Rodríguez pegou mal. Enquanto isto, Neymar era bastante caçado pelos marcadores.

As entradas de Vinicius Júnior e Gabigol tornaram de vez a Seleção Brasileira mais impetuosa. Entre faltas dos dois lados e bate-bocas, a equipe canarinha colecionou chances. Gabigol recebeu passe na esquerda e arriscou rasteiro, mas a zaga se antecipou. Após cobrança de escanteio, Thiago Silva tentou de cabeça e a bola foi para fora. Danilo também encheu o pé e mandou nas nuvens.

O grito de gol brasileiro foi abafado aos 41 minutos. Neymar cruzou e, após desvio de Richarlison, Gabigol pegou na veia. Mas Emiliano Martínez evitou que a bola fosse para a rede.

A reta final não foi de expectativa só em relação ao fim da seca de títulos para os torcedores argentinos. Após contra-ataque, De Paul esticou e Messi surgiu livre na área. O camisa 10 tentou o drible em Ederson, mas acabou parado pelo goleiro. Em cochilo de Emerson, De Paul avançou até a área, mas parou também em Ederson. De qualquer forma, a agonia acabou. A Argentina pôs fim ao seu jejum no Maracanã, onde Messi bateu na trave na Copa do Mundo de 2014. Já Neymar ficou em lágrimas em uma partida oscilante da Seleção Brasileira.  

Por Jornal da República em 11/07/2021
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