Bispa de Washington defendeu imigrantes e pessoas LGBTQIA+

O culto inter-religioso inaugural na Catedral Nacional de Washington nesta terça-feira (21) teve como ponto alto o sermão da reverenda Mariann Edgar Budde. Ela surpreendeu a todos ao fazer um apelo direto a Donald Trump.

Lembrando a afirmação do presidente republicano na segunda-feira de que ele foi “salvo por Deus” depois que uma bala atingiu sua orelha em uma tentativa de assassinato em julho, Budde pediu a Trump, que estava sentado em uma das primeiras fileiras, “em nome do nosso Deus… para ter misericórdia das pessoas em nosso país que estão assustadas agora”.

“Há crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes”, disse Budde. “Algumas que temem por suas vidas. E as pessoas que colhem nossas plantações e limpam nossos prédios de escritórios, que trabalham em granjas avícolas e frigoríficos, que lavam a louça depois que comemos em restaurantes e trabalham nos turnos noturnos em hospitais. Elas podem não ser cidadãs ou ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos imigrantes não são criminosos.”

“Peço que tenha misericórdia, sr. presidente, daqueles em nossas comunidades cujos filhos temem que seus pais sejam levados embora, e que ajude aqueles que fogem de zonas de guerra e perseguição em suas próprias terras a encontrar compaixão e boas-vindas aqui”, disse Budde, bispa episcopal de Washington, DC

O apelo de Budde aconteceu após a assinatura de 26 ordens executivas por Trump em seu primeiro dia no cargo, com dezenas de outras esperadas nos primeiros dias de seu segundo mandato. O presidente assinou ordens encerrando a cidadania por direito de nascimento — provocando contestações legais de grupos de direitos dos imigrantes e procuradores-gerais estaduais — e pausando admissões de refugiados, levando à devastação entre as pessoas que estavam esperando por consultas de asilo nos portos de entrada. Proclamações oficiais declararam emergência nacional na fronteira sul e afirmaram que a entrada de migrantes ali é uma “invasão”.

Trump também tomou medidas executivas para declarar que o governo federal reconhece apenas dois sexos, masculino e feminino.

“Que Deus nos conceda força e coragem para honrar a dignidade de cada ser humano, para falar a verdade uns aos outros com amor e caminhar humildemente uns com os outros e com nosso Deus para o bem de todas as pessoas nesta nação e no mundo”, disse Budde em seu discurso a Trump.

O presidente manteve os olhos em Budde durante boa parte do discurso, em um momento parecendo irritado e olhando para baixo. O vice-presidente JD Vance se inclinou e falou com sua esposa, Usha Vance, enquanto Budde falava sobre imigrantes sem documentos, e levantou as sobrancelhas quando ela disse que a maioria dos imigrantes não são criminosos.

Mais tarde, Trump disse aos repórteres que o serviço “não foi muito emocionante”.

“Não achei que fosse um bom serviço”, disse ele. “Eles podem fazer muito melhor.”

O estrategista democrata Keith Edwards aplaudiu a decisão de Budde de falar diretamente com o presidente, chamando-a de “incrivelmente corajosa”.

Budde “confrontou o fascismo de Trump cara a cara”, disse ele na plataforma de mídia social Bluesky.

Segundo a AFP, Trump, chamou nesta quarta-feira Mariann Edgar Budde de “desagradável” e exigiu um pedido de desculpas por ter dito que ele estava espalhando medo entre os migrantes e as pessoas LGBTQ+.

“A suposta bispa que falou na terça-feira no National Prayer Service é uma esquerdista radical que odeia Trump. Ela teve um tom desagradável, foi pouco convincente e pouco inteligente”, escreveu o presidente em sua conta na Truth Social.

“Além de seus comentários inadequados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho! Ela e sua igreja devem um pedido de desculpas ao público!”, postou ele.