COMO É A ROTINA DO GUARDA MUNICIPAL NA ESCALA 12X36 ?

COMO É A ROTINA DO GUARDA MUNICIPAL NA ESCALA 12X36 ?

Com a alteração da escala da guarda municipal por meio da LC 7-A/21 na capital do Rio de Janeiro , o que se vê no momento é uma chuva de reclamações vinda da maior parte do efetivo. A considerar, a tristeza geral dos GCM'S teve apoio e compartilhamento em massa nos diversos grupos de  whatsapp de guardas municipais pelo Brasil, indo do Oiapoque ao Chuí. 

E na tentativa de entender o porquê de tanta indignação, fizemos uma experiência na rotina prática  destes profissionais  para verificar o porquê de tanta reclamação por parte da categoria logo após uma semana da implementação da chamada escala desumana.

Seja em qualquer capital ou município brasileiro em que o guarda municipal estiver na escala 12x36, saiba que nunca estará só, pois milhares de colegas de profissão passam por esse mesmo perrengue de acordar cedo, sem ter vida social, ganhando pouco, desvalorizado , com a saúde debilitada, sem plano de carreira e ainda ter de  prestar bom serviço e mostrar  aquele sorriso largo para-a sociedade.. E assim começa a saga do agente municipal! 

É impossível falar sobre segurança pública sem vivenciar na prática  . Lógico que em apenas um dia não se pode fazer um parâmetro do cotidiano do profissional guarda municipal. Por isso, vamos fazer uma experiência social na rotina de um deles, verificando como as coisas transcorrem no seu dia a dia como horário de acordar, tempo de deslocamento, meios de transportes, ambiente de trabalho , condições salariais e  vida social, dentro da medida do possível. E para preservar  seu nome e endereço , vamos identificá-lo como golf mike e citar apenas o bairro onde marcamos de nos encontrar próximo a sua residência.

Como combinado, exatamente às 03:55 da manhã, estávamos nos encontrando numa rua próxima a sua residência para pegar a primeira condução em direção à estação de trem de Campo Grande, na zona oeste do Rio . De lá, partiríamos de viagem no trem Santa Cruz x Central do Brasil num percurso muito exaustivo, estressante e de pé em quase duas horas de viagem, , enquanto ele contava sobre sua rotina nos dias de plantão como árdua da madrugada quando acorda às 3:30h até seu retorno para casa.  

Na chegada à estação terminal do Brasil, adentramos no terceiro meio de transporte da manhã. Pegamos o ônibus da linha 184 Central x Laranjeiras até a UOP Catete, na rua Antônio Mendes Campos n° 64 - Glória, num percurso cravado de vinte e nove minutos, totalizando três horas no percurso da viagem entre casa/trabalho.

Se o jargão popular " a primeira impressão é a que fica" coubesse para designar pessimamente um lugar,  a UOP Catete é o lugar perfeito. O cenário das instalações precário junto à falta de materiais de EPIs e as condições subumanas de trabalho numa unidade de ordem pública da prefeitura  dá bem a noção do quanto sofre o servidor guarda municipal. E se agrava à medida que o efetivo dobraria, em tese,  com o início da escala 12x36, aumentando o efetivo dentro daquelas fétidas bases,  que nem preparadas estavam  para recebê-los.

Não bastassem todos os equívocos  na falta de organização, tivemos oportunidade de acompanhar a execução do trabalho-operacional, o que se viu na realidade, porém , foram agentes desmotivados, sem perspectivas de melhoras, reclamando do descaso institucional, sendo submetidos a ficarem de pé sob sol, sem acesso fácil a água ou a banheiros tampouco havia suporte de viaturas  , devendo suportar pressão psicológica e cumprirem tarefas que não lhes caberiam executar. Sob olhares indignados, perguntamos se no final do dia se sentiam úteis à população  . De imediato, ouvimos um deles dizer :

" nós prestamos um desserviço à população porque não cumprimos as atribuições que nos cabe de fato. A população projeta no em nós a execução do serviço de-excelência e qualidade, mas que por forças do abandono institucional e do descaso da administração pública municipal, não temos como oferecer por diversas razões alheias as nossas decisões. Falta-nos a valorização na carreira , o reajuste  salarial, instalações e equipamentos adequados. Sem tudo isso , é impossível apresentar qualquer bom resultado ; inviabilizando, portanto, entregar a sociedade o que ela espera de nós."  

Depois de um desabafo tão sincero , fica claro porque tanto desespero dos guardas municipais. Muitos detalham que não é fácil conviver numa escala tão  humilhante. E ao contrário daquilo que a mídia vendeu para a população, a manutenção da escala anterior dava oportunidade  de manter suas famílias, pois nela conseguiam  cumprir a carga horária determinada em lei de 40 horas semanais .  E assim, complementavam a defasagem dos seus salários com bicos ou trabalhos extras. A partir de agora, vão precisar sobreviver com um salário indigno de sustentar suas próprias famílias numa escala ilegal.

A volta para casa depois de um dia de trabalho massacrado pelo cansaço e dor , não poderia ter sido menos pior.  Viagem longa  de três horas de duração, saindo do Catete até Campo Grande, em silêncio e com sentimento de tristeza. Afinal, essa triste rotina se repetiria em outras 15 vezes nos meses subsequentes do ano de 2023, 2024… Nada mudaria sua vida para melhor no dia seguinte. Com pouco dinheiro, sem vida social com a família e amigos, sem perspectiva de melhoras. 

Deus , olhe por essa categoria de bons profissionais. Olhe para os servidores da guarda municipal. Esperamos que tudo possa melhorar num futuro bem próximo para todos os agentes da segurança pública municipal do Brasil. 

Fonte

https://ficaadicaservidor.blogspot.com/?m=1

Por Jornal da República em 31/07/2023
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