Eleição presidencial no Chile é decisiva para o futuro da América Latina

Eleição presidencial no Chile é decisiva para o futuro da América Latina

O Chile vai às urnas neste domingo (19/12) no segundo turno das eleições presidenciais que colocam dois candidatos representantes de setores políticos diametralmente opostos. O clima político do país sugere uma disputa voto a voto entre o esquerdista Gabriel Boric, candidato da coalizão Aprovo Dignidade (Frente Ampla e Partido Comunista), e José Antonio Kast, do Partido Republicano, de extrema direita.

O primeiro turno, ocorrido em 19 de novembro, foi vencido por Kast, que obteve 27,9%, contra 25,8% de Boric. Desde o retorno da democracia ao Chile – em 1990, após o fim da ditadura de Augusto Pinochet –, quem ganhou o primeiro turno das eleições presidenciais também o fez no segundo turno.

Entretanto, segundo as últimas pesquisas publicadas antes da votação deste domingo, Boric poderia realizar essa inédita reviravolta eleitoral. Inclusive, o candidato de esquerda aparece liderando quase todas as sondagens, apesar de alcançar diferentes vantagens.

A consultora Black&White foi a que mostrou a menor diferença entre os presidenciáveis, dentro da margem de erro: 51% para Boric e 49% para Kast. O instituto que indicou a maior vantagem foi Pulso Ciudadano: 42% para Boric contra 28% para Kast, uma diferença de 14%. A pesquisa que chegou mais perto do resultado no primeiro turno foi o da consultora Cosa Nostra, cuja última pesquisa de segundo turno apontou 46% para Boric contra 40% para Kast.

Todas essas pesquisas foram publicadas no dia 5 de dezembro, pois a lei eleitoral chilena proíbe publicar novas pesquisas nos 14 últimos dias de campanha. Portanto, essas últimas medições não observam as mudanças ocorridas no cenário eleitoral nesta reta final, incluindo os dois únicos debates realizados neste segundo turno, nos dias 10 e 13 de dezembro.

Outros fatos importantes ocorreram na reta final da campanha após a publicação das pesquisas. A acusação de um suposto assédio sexual cometido por Boric, difundida por partidários de José Antonio Kast, e as declarações da vítima desse suposto caso, que reclamou que a extrema direita utilizou seu caso eleitoralmente sem o seu consentimento, tomaram conta dos noticiários nas últimas semanas.

Os apoios internacionais também marcaram os últimos dias da campanha. Kast recebeu, por exemplo, o apoio do escritor peruano Mario Vargas Llosa. Já Boric foi apoiado pela ex-presidente e Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, e por dezenas de importantes figuras internacionais, como o ativista e ex-candidato presidencial brasileiro Guilherme Boulos, os músicos Roger Waters e Residente, o ator Danny Glover, os economistas Thomas Piketty e Joseph Stiglitz, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, o ex-premiê da Espanha, José Luis Zapatero, e a atual prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

Quem é Gabriel Boric?

Nascido na província de Magallanes, na região mais ao sul do país, Gabriel Boric tenta se tornar o presidente mais jovem do Chile: caso seja eleito, assumiria o poder em março com 36 anos, cinco a menos que Manuel Bulnes, que tinha 41 quando chegou à Presidência, em 1841.

Boric se tornou figura pública nacional durante as grandes marchas do movimento estudantil, entre os anos 2011 e 2013. Foi presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile no ano de 2012 e um dos líderes daquela onda de protestos que pedia o fim das dívidas estudantis e a gratuidade nas instituições de ensino, desde o ensino fundamental até o superior.

Em 2013, disputou as eleições como candidato independente e foi eleito deputado pela primeira vez, junto com outros líderes estudantis, como Camila Vallejo, Giorgio Jackson e Karol Cariola.

Durante seu primeiro mandato, ajudou a fundar a Frente Ampla, junto com Jackson, reunindo vários pequenos partidos ligados a ex-líderes estudantis.

Em 2021, a Frente Ampla fez uma aliança com o Partido Comunista – de Vallejo e Cariola – e surgiu assim a coalizão Aprovo Dignidade, a qual ele passou a encabeçar após vencer as eleições prévias em julho passado, ao superar o comunista Daniel Jadue, prefeito da comuna de Recoleta, uma das mais populosas da região metropolitana de Santiago.

Quem é José Antonio Kast?

José Antonio Kast nasceu em Santiago do Chile e tem 55 anos. Seu pai, Michael Kast, foi um oficial do exército nazista e militante do partido de Adolf Hitler, que fugiu do seu país natal após a derrota do Terceiro Reich na Segunda Guerra Mundial.

Atualmente representa o Partido Republicano, criado por ele em 2018 após sua saída da UDI (União Democrata Independente), o partido criado nos anos 1980 pelos principais colaboradores civis do pinochetismo, mas ao qual ele renunciou por considerar que estavam se afastando demais do ideário da direita.

Suas ligações com o regime de Augusto Pinochet (1973-1990) também começaram em família: José Antonio é o mais jovem de dez irmãos, sendo que um dos mais velhos, Miguel Kast, foi um dos famosos "Chicago Boys", economistas formados na Universidade de Chicago e encarregados de implementar o neoliberalismo no Chile com o apoio da repressão militar durante a ditadura. Miguel encabeçou dois ministérios durante os anos de Pinochet: o da Planificação, entre 1978 e 1980, e o do Trabalho, entre 1980 e 1982.

Mas Pinochet não é a única inspiração de José Antonio Kast. Em todas as entrevistas e debates, o candidato cita como seu modelo de governo na América Latina o do brasileiro Jair Bolsonaro. "Bolsonaro é um presidente que fez coisas importantes no Brasil em termos de combate à delinquência e de combate à corrupção e essas coisas eu quero reproduzir no Chile em meu governo", explicou Kast em um debate.

 

Por Jornal da República em 19/12/2021
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