Eleições democráticas. Afinal de contas quem manda é o povo...

Eleições democráticas. Afinal de contas quem manda é o povo...

Eleições democráticas. Afinal de contas quem manda é o povo...

Boa parte dos governantes, focam nas preocupações do povo somente durante as eleições e, depois de eleitos, se esquecem que a população desempenha um papel crucial em sua continuidade no poder. Já se tornou lugar-comum afirmar que os candidatos tão logo eleitos, deixam de ouvir quem os elegeu. Mesmo aqueles que, por compreensão do processo democrático, se mantém mais próximos dos eleitores, raramente o fazem de maneira continuada. Como a democracia se baseia na representação e na responsabilidade, deveria ser preocupação constante dos governantes ouvir e prestar contas aos seus eleitores, de tal maneira que o cidadão se sinta realmente representado. Além de ser um dever, é também uma garantia de continuidade.

Eleger um governante não é uma carta branca que indica apoio irrestrito e permanente a tudo que, em seu nome, o eleito fizer ou disser. Até porque, as promessas de campanha geralmente oferecem apenas indicativos de intenções e prioridades. Elas são apenas suficientes para a população se identificar com o candidato, confiar em sua futura atuação e nele votar. Se trata apenas do estabelecimento de princípios, que ao longo do mandato precisam ser ajustados, diante da realidade dinâmica do processo de governo. Tanto para estabelecer promessas, como para entender as aspirações dos eleitores, assim como para medir a reação e entendimento das pessoas à sua atuação, o político precisa ouvir sistematicamente o povo. Aqueles que o elegeram e os demais. Essa preocupação transcende à mera perspectiva eleitoral e passa a ser a própria essência da democracia.

A participação povo não deve ser só votar, como de hábito entendem boa parte dos governantes, mas influenciar de maneira permanente a atuação de todos os eleitos. Muitas vezes até para que as pessoas compreendam decisões tomadas que, aparentemente, divergem do pensamento comum. Essa participação é essencial para fortalecer a legitimidade do governo e garantir que as políticas e decisões reflitam verdadeiramente as aspirações da sociedade.

Mesmo que um governante seja eleito democraticamente, ainda é importante considerar as vozes e perspectivas daqueles que podem não ter votado nele. A representação política idealmente inclui o respeito pelas diferentes opiniões e a busca de políticas que beneficiem toda a população, independentemente das preferências ideológicas. Portanto, é necessário um diálogo contínuo e mecanismos eficazes de participação cívica para garantir uma representação mais abrangente. Afinal de contas é o total da população que avalia, aprovando ou não, todo o desempenho da gestão de um governante.

É importante considerar que a percepção da população é multifacetada, e outros fatores, como transparência, comunicação eficaz, e a capacidade de lidar com desafios inesperados, também desempenham um papel significativo na avaliação do governo. Além disso, diferentes segmentos da sociedade podem ter prioridades e expectativas diversas, influenciando suas avaliações de maneiras distintas.

Em geral, atender às necessidades da população pode contribuir positivamente para a avaliação dos governantes. Quando as políticas e ações do governo resultam em melhorias tangíveis na qualidade de vida, serviços públicos eficientes e soluções para os problemas enfrentados pela sociedade, é provável que a população avalie positivamente o desempenho dos governantes. A falta de diagnóstico e harmonia eficaz entre o governo e a população pode levar a decisões que não refletem totalmente as diversas perspectivas e demandas presentes na sociedade.

Quando os governos não conseguem ouvir adequadamente a população, há o risco de que as políticas e alocações de recursos não estejam alinhadas com as reais necessidades e prioridades da sociedade. Isso pode resultar em uma entrega não satisfatória, gerando uma avaliação negativa do governo.

As denominadas pesquisas de gestão permitem aos governantes compreenderem melhor as expectativas, preocupações e necessidades da população em questões específicas. Essa abordagem mais detalhada pode informar a formulação de políticas mais alinhadas com as reais demandas da sociedade, contribuindo para uma administração mais eficiente e responsiva. A interação constante com a população por meio de pesquisas de gestão pode ajudar a ajustar e adaptar as políticas ao longo do tempo, conforme as circunstâncias. As necessidades evoluem, fazendo com que uma determinada promessa não seja mais necessária, o governo estando alinhado com a população, não causará desconforto na relação.

Ouvir a opinião pública é uma forma preponderante de envolver a população na governança e é considerada uma expressão de participação cívica. Quando os governantes levam em conta as opiniões, preocupações e necessidades da população, estão, de certa forma, incorporando a participação da população no processo de tomada de decisões.

Um governo mal avaliado pela população pode criar dificuldades de gestão para o governante, a confiança da população é um elemento primordial na liderança, e se a população não aprova a atuação governante, pode levar a uma menor legitimidade, resistência da sociedade às políticas propostas e dificuldades na implementação de medidas importantes. A falta de apoio da população também pode influenciar negativamente as relações políticas e afetar a capacidade do governante de liderar efetivamente. A credibilidade é fundamental para a governabilidade e o sucesso na gestão.

O julgamento pela população a um governante mal avaliado, geralmente ocorre nas urnas durante as eleições seguintes. Os eleitores têm o poder de expressar sua insatisfação votando contra o candidato no poder. Além disso, a má avaliação pode levar a protestos, manifestações e pressão social, influenciando a imagem do governante e suas ações futuras. Portanto, a punição principal costuma ser a perda de apoio eleitoral e, consequentemente, a não reeleição do governante.

Um governante que ouve e atende às preocupações da população ao longo do mandato pode construir uma base de apoio sólida e conquistar a confiança dos eleitores. Isso pode resultar em uma campanha de reeleição mais eficiente e possivelmente bem mais barata, pois já teria estabelecido uma relação positiva com a comunidade. A comunicação aberta e a resposta às necessidades dos cidadãos ao longo do tempo podem criar uma imagem favorável que se reflete positivamente durante a campanha eleitoral.

Por Gabriel Pazos - Presidente Instituto Gerp

Por Jornal da República em 29/02/2024
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