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A infertilidade é definida pela incapacidade em conceber após um ano de atividade sexual regular e afeta 17,5% da população mundial. O problema pode ser agravado por hábitos de vida como o tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, obesidade e exposição ambiental a produtos químicos. O adiamento da maternidade, realidade mundial, é outro fator importante e que reflete as mudanças sociais e econômicas das últimas décadas.
A Medicina Reprodutiva, ramo da medicina que se ocupa da avaliação e tratamento das alterações da fertilidade humana, abriu inúmeras oportunidades para o tratamento das pessoas que enfrentam problemas reprodutivos, mas o acesso ao diagnóstico e tratamentos adequados seguem sendo um entrave para milhares, principalmente nas regiões economicamente mais pobres do mundo. É o que revela um levantamento divulgado no início deste mês pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo a OMS, a infertilidade pode resultar em estresse físico e psíquico, comprometendo o bem-estar mental e psicossocial das pessoas. Em vista do elevado custo dos tratamentos e a ausência de políticas públicas voltadas para a saúde reprodutiva, as pessoas acabam por arcar com os custos dos tratamentos de reprodução assistida como a fertilização in vitro (FIV). De acordo com o estudo da OMS, cidadãos de países mais pobres gastam uma proporção maior de sua renda com cuidados de fertilidade em comparação com as pessoas nos países mais ricos, o que é um fator limitante para a maioria, tornando o tratamento inacessível e aumentando a desigualdade social e econômica.
A maioria das pessoas fica na dúvida a partir de quando deve começar a se preocupar com sua fertilidade. Infelizmente, não há nenhum método disponível capaz de saber adequadamente a fertilidade humana. Alguns fatores, entretanto, servem de alerta como a idade da mulher acima de 35 anos, ciclos menstruais irregulares, história de endometriose ou alterações no espermograma, uso de medicamentos que podem interferir na fertilidade como os quimioterápicos e casais que já tiveram mais de dois abortos. A abordagem inicial do casal inclui investigação da função ovulatória, das trompas e do útero assim como um espermograma. A avaliação deve ser individualizada levando em consideração a idade da mulher, há quanto tempo estão tentando engravidar e a opinião do casal. O especialista em infertilidade deve informar ao casal sobre as modalidades de tratamento existentes e seus respectivos benefícios, custos e riscos. Independente do tratamento indicado, as taxas de gravidez dependem de inúmeros fatores (tipo de medicação usada na indução, resposta à medicação, presença de fatores associados), sendo a idade da mulher o principal.
Ter um filho se e quando desejado é um componente fundamental da vida de muitas pessoas. Os direitos dos indivíduos de constituir uma família e decidir livre e responsavelmente o número, o espaçamento e o tempo de seus filhos, e de ter as informações e os meios para fazê-lo, constam em documentos internacionais de direitos humanos desde 1948. Apesar da inegável magnitude do problema, as soluções para a prevenção, diagnóstico e tratamento da infertilidade, incluindo a técnicas sofisticadas como a FIV, permanecem subfinanciadas e inacessíveis para muitos devido aos altos custos, estigma social e disponibilidade limitada.
A taxa de crescimento populacional, no entanto, está diminuindo à medida que as taxas de fertilidade reduzem em muitas áreas do mundo. Dados recentes revelam que a taxa global de fertilidade está diminuindo à medida que as mulheres buscam mais educação e têm acesso ao planejamento reprodutivo e, assim, há uma desaceleração do crescimento populacional mesmo em países como China e Índia. O impacto esperado na economia e na sociedade e em nosso modo de vida como um todo deve ser tremendo à medida que a população envelhece e as taxas de fertilidade reduzem. Portanto, a necessidade de se concentrar em fornecer cuidados reprodutivos decentes para todos não pode ser subestimada.
Fonte: Márcia Mendonça Carneiro
Diretora Científica da Clínica ORIGEN
Professora Titular Departamento de Ginecologia e Obstetrícia Faculdade de Medicina - UFMG
Foto: Divulgação
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