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RECIFE: Nova Escola de Sargentos em Pernambuco mobiliza política e meio ambiente
Em 23 de março do ano passado, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) descerrou uma placa para lançar a pedra fundamental da futura Escola de Sargentos do Exército na região metropolitana do Recife.
Parecia o ato irreversível de um megaprojeto avaliado em R$ 1,74 bilhão, iniciado na década passada e cujas obras, que nem começaram, podem se prolongar por pelo menos dez anos.
Desde o evento festivo, porém, surgiram dúvidas sobre o empreendimento que movimenta políticos de quatro estados, sobretudo de Pernambuco.
Em Minas Gerais está a atual ESA (Escola de Sargento de Armas) de Três Corações, cidade que ainda se debate contra a perda iminente de um dos pilares de sua economia e de sua fama –neste quesito a ESA só é superada pelo filho mais ilustre da terra, Pelé.
Rio Grande do Sul e Paraná, onde ficam Santa Maria e Ponta Grossa, municípios finalistas, ao lado do Grande Recife, de um processo iniciado com 16 concorrentes, em tese estão conformados, mas o envolvimento direto de seus governadores e prefeitos no processo indica que seguem em alerta para o caso de eventuais problemas com a sede eleita.
O anúncio da escolha de Pernambuco pelo Alto Comando do Exército foi feito em outubro de 2021. A cúpula da corporação destacou a união de políticos, empresários e sociedade pernambucana em torno do projeto como um dos diferenciais que os fez escolher o estado, e dão como certo que a escola será instalada lá.
Ambas as partes ressaltam o potencial econômico e social da obra, que geraria emprego e renda para a região –o efetivo passaria de 6.000 pessoas, entre alunos e corpo administrativo, e a folha salarial é estimada em mais de R$ 211 milhões anuais.
Mas falta definir de onde sairá a verba de um empreendimento que há dois anos era orçado em cerca de R$ 1 bilhão e agora está pelo menos R$ 740 milhões mais caro –alguns atores envolvidos já arredondam para 1,8 bilhão.
O Exército inicialmente planejava usar na obra o dinheiro que visa arrecadar com a venda de um terreno que possui em Brasília próximo à antiga Rodoferroviária. Ali, o Governo do Distrito Federal (GDF) projeta construir um novo bairro. Mas é possível que leve muito tempo até o dinheiro sair, a depender de negociações com GDF e incorporadores.
O Exército diz que, ao tomar ciência do projeto, o ministro da Defesa, José Múcio, se comprometeu a buscar recursos do Orçamento da União para garantir a obra e agilizar seu andamento.
"Nós achamos uma excelente ideia do ministro Múcio. Ele acha que daria celeridade ao processo, que se o recurso orçamentário fosse garantido e regular, a gente poderia ganhar de um a dois anos", afirma o general Richard Nunes, chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército e ex-comandante militar do Nordeste –neste último cargo participou ativamente do processo que escolheu Pernambuco.
O deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos-PE ), um dos coordenadores da bancada pernambucana na Câmara dos Deputados, confirma a inflexão em relação ao plano original.
"Está de fato havendo uma reavaliação para arrumar outras fontes, inclusive para não se esperar o processo de efetivação dessa venda [do terreno do Exército]. Isso já é uma ideia do novo governo, de Múcio com o presidente Lula."
Múcio diz que não é bem assim e continua contando que a verba virá da negociação do terreno do Exército.
"Tirar R$ 1,8 bilhão do Orçamento… é muito dinheiro. Primeiro a gente precisa decidir se vai ser em Pernambuco, e eu conto que será. O Exército está determinado a gastar, eu apenas falei: olha, é uma obra tão importante que eu me disponho a dar uma ajuda com o Orçamento."
Indagado se o presidente Lula está a par do projeto, Múcio afirmou que "en passant".
O Exército também conta com o Executivo estadual e a bancada federal de Pernambuco no Congresso –que já destinou R$ 15 milhões em emendas de bancada para o empreendimento.
A contrapartida do governo do estado, inicialmente divulgada como de R$ 330 milhões, será de R$ 110 milhões. Nem 10% do total, como frisou o comandante do Exército, general Tomás Paiva, ao apresentar o projeto numa audiência recente na Câmara.
O futuro complexo foi abraçado pelo ex-governador Paulo Câmara (PSB), e agora a gestão de Raquel Lyra, que também apoia a empreitada, criou um grupo de trabalho para acompanhar sua implantação.
Fonte: Folha de São Paulo
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