20 de Novembro e a Revolução Brasileira

Por Ricardo Oliveira da Silva - Doutor em História pela UFRGS e docente do Curso de História da UFMS/CPNA

20 de Novembro e a Revolução Brasileira

 

A data de 20 de novembro possui um significado histórico no Brasil. Nesse dia, no ano de 1695, foi assassinado Zumbi dos Palmares, líder do quilombo dos Palmares, localizado na atual Serra da Barriga, no estado de Alagoas.

Palmares, cujas referências sobre sua existência datam do final do século XVI, resistiu por mais de um século as ações dos colonizadores europeus e tornou-se um símbolo de luta contra o regime escravista.

A escravidão representa ainda hoje a instituição mais longeva na história do Brasil. O regime de trabalho escravo foi introduzido no território pelos portugueses nas primeiras décadas do século XVI e só findou legalmente em 13 de maio de 1888.

O Brasil foi o último país a abolir o trabalho escravo, o qual persistiu por séculos, apesar das resistências que foram efetuadas pelos trabalhadores escravizados, tanto indígenas quanto africanos.

A historiografia costuma apontar que o regime de trabalho escravo foi introduzido no Brasil com base nos objetivos que os colonizadores portugueses almejavam alcançar na América: a produção em grande escala de mercadorias que pudessem ser rentáveis no mercado europeu, o que exigia enorme quantidade de mão de obra.

Os portugueses, que já eram familiarizados com a exploração da mão de obra escrava a trouxeram para a colônia.

Em um primeiro momento, os povos indígenas foram utilizados como mão de obra escrava pelos colonizadores e, logo na sequência, tiveram a companhia das populações que foram trazidas à força do continente africano. No entanto, a escravidão no Brasil não se resumiu a uma finalidade produtiva.

A escravatura moldou o perfil da sociedade em seu modo de ser e entender o mundo, sendo a base de um éthos hierárquico e aristocrático que a caracteriza.

A atual visão degradante sobre o trabalho braçal, rotineiramente mal remunerado; os espaços socialmente segregados, como as universidades, que até poucos anos atrás era privilégio da população branca; a ideia que possui força na classe média e setores mais ricos de que o Estado não deve investir em políticas públicas para os grupos que estão na base da pirâmide social, uma vez que o destino dessas pessoas é apenas ser mão de obra de baixo custo; a distinção social expressa na célebre frase “sabe com quem está falando?”; tudo isso são heranças de uma formação social escravocrata que ainda persistem.

O fato da escravidão ter sido o pilar de um modo de vida fez com que as manifestações de protesto e revolta contra ela fossem sistematicamente reprimidas no decorrer da história do Brasil. Isso aconteceu na fazenda, onde o escravizado rebelde era barbaramente punido; nas inúmeras revoltas reprimidas pelos grandes proprietários de terra e pelas forças do Estado; nos sucessivos ataques aos quilombos até fins do século XIX; na resistência a política de cotas no ensino superior.

E, apesar de tudo, onde tinha opressão, havia resistência. Prova disso é o 20 de novembro, o qual se tornou uma data de reflexão e protesto no país graças a militância do movimento negro nas últimas décadas.

Ao longo de sua história o Brasil conheceu a organização de forças sociais progressistas que lutaram por transformações que se traduzissem em um país com maior igualdade econômica e social. Uma palavra expressou esses anseios: revolução. Essa luta persiste até hoje.

E sobre isso eu diria que a autêntica e radical revolução brasileira será aquela que acabar com a herança escravocrata que ainda em nossos dias influencia os destinos da sociedade. Zumbi dos Palmares é uma referência nessa luta. Viva o 20 de novembro!

Por Ricardo Oliveira da Silva 

Doutor em História pela UFRGS e docente do Curso de História da UFMS/CPNA 

 

 

 

Por Jornal da República em 19/11/2021
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