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No final de fevereiro o temor de que um conflito militar ocorresse na Ucrânia se tornou realidade. Em meio ao cenário pandêmico em que ainda se vive a Rússia adentrou o território ucraniano com tropas militares. Mortes, destruições em cidades da Ucrânia, protestos de diversos países e sanções econômicas povoam desde então o cotidiano jornalístico.
Ao invés de comentar sobre os motivos da guerra, tarefa que inúmeros especialistas estão fazendo em diversas mídias, queria tratar nesse artigo sobre o comportamento que se verifica em parte dos brasileiros: a divisão de posicionamentos entre os que são pró-Rússia e os pró-Ucrânia como se a guerra fosse uma “partida de futebol”.
Os apoiadores da Rússia, muitos adeptos de uma posição política à esquerda no Brasil, analisam o conflito como se fosse uma reação defensiva do governo russo contra o imperialismo dos EUA, no qual a Ucrânia seria um fantoche do governo Joe Biden. Vladimir Putin passa a ser retratado como um símbolo para os povos oprimidos no mundo.
Nessa perspectiva se desconsidera ou se minimiza o fato de que Vladimir Putin governa a Rússia se utilizando de métodos autoritários como, por exemplo, na perseguição aos opositores políticos. Além disso, adota uma postura política hostil em relação à comunidade LGBTQIA+ russa e de aliança com os conservadores da Igreja Ortodoxa.
Os apoiadores da Ucrânia, muitos adeptos de uma posição política à direita no Brasil, adotam uma postura de defesa do governo ucraniano, alçando o presidente Volodymyr Zelensky ao status de “herói internacional”. A guerra seria a luta da liberdade (Ucrânia) contra o totalitarismo (Rússia), e cuja principal referência nessa questão seria os EUA.
Nessa segunda posição se deixa de lado ou se minimiza o fato de que o atual governo ucraniano, eleito com base em um discurso antipolítico, dissolveu o Parlamento em seus primeiros dias, está envolvido em polêmicas com grupos neonazistas e flerta com um governo, o dos EUA, o qual possui um histórico de invasões de outros países, como ocorreu recentemente no Iraque e no Afeganistão.
A simplificação de acontecimentos como a atual guerra na Ucrânia em um binarismo que retrata os atores envolvidos entre “mocinhos” e “bandidos”, seja para qual lado for, nubla os interesses e contradições que permeiam a dinâmica dessa guerra e faz com que pessoas acabem legitimando motivações escusas de ambos os lados do conflito.
E como é de praxe nessas situações, o saldo da guerra acaba sendo invariavelmente pago pelo grupo mais frágil, qual seja, a população civil na mira de tanques, soldados e interesses econômicos e geopolíticos situados seja em Moscou, em Kiev ou em Washington.
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