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"A praça é do povo como o céu é do condor", proclamava Castro Alves, evocando a essência democrática dos espaços públicos. Este ideal ressoa com particular intensidade ao refletirmos sobre o recente ato do 1º de maio de Lula com público deveras pequeno e do Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 25 de fevereiro de 2024. A manifestação, que segundo a Secretaria de Segurança Pública reuniu cerca de 750 mil pessoas, e de acordo com uma projeção da USP, 185 mil, simboliza uma demonstração de força da direita brasileira, cuja capacidade de mobilização parece superar a da esquerda, historicamente mais ativa em grandes manifestações populares.
Este fenômeno suscita uma questão fundamental: por que a direita, atualmente, demonstra maior habilidade em mobilizar seus apoiadores em comparação à esquerda? Para compreender esse cenário, é imprescindível analisar o significado de ser "de direita" ou "de esquerda" no contexto político brasileiro, bem como as principais diferenças entre essas duas correntes de pensamento.
Tradicionalmente, a direita é associada a princípios conservadores, valorizando o bem-estar individual, o estado mínimo e o liberalismo econômico. Em contrapartida, a esquerda defende os direitos dos trabalhadores, o bem-estar coletivo e a igualdade entre os indivíduos. Contudo, o espectro político brasileiro apresenta uma complexidade que transcende essa divisão simplista, abrangendo um leque de nuances que vai da extrema direita à extrema esquerda, incluindo posições centristas.
É crucial reconhecer que os conceitos de direita e esquerda são dinâmicos e se transformam ao longo do tempo, refletindo as mudanças sociais, econômicas e culturais. O Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo, embora tenha surgido como uma força de esquerda, foi acusado de adotar políticas de direita durante seus governos. Isso evidencia a fluidez dessas categorias, que não são absolutas nem universais.
Vários fatores podem explicar a maior capacidade de mobilização da direita nos tempos atuais. Primeiramente, a esquerda governou o Brasil por mais de 16 anos, nos últimos 22 anos carregando o desgaste natural da pesada máquina pública, o país enfrenta uma grave crise econômica e social, que gera insatisfação e desesperança em amplas camadas da população. por outro lado, a direita tem capitalizado esse cenário, oferecendo um discurso que promete mudança e combate à corrupção, além de defender valores tradicionais, o empreendedorismo e a meritocracia. Essas bandeiras encontram ressonância em uma parcela significativa da sociedade.
Além disso, a direita demonstrou maior habilidade no uso das redes sociais e no engajamento com a mídia, ampliando sua influência na opinião pública. Em contraste, a esquerda enfrentou desafios na comunicação digital e sofreu com ataques que prejudicaram sua imagem.
A fragmentação e o desgaste da esquerda, exacerbados por escândalos de corrupção e pela repressão de setores conservadores, também contribuíram para sua menor capacidade de mobilização. Ademais, a ausência de um projeto de sociedade convincente, especialmente após o fim da União Soviética, deixou um vácuo ideológico que a esquerda ainda busca preencher.
O poder de mobilização das igrejas e crescimento da bancada evangélica e a pauta que as igrejas passaram a exercer, condiz com o discurso ideológico da direita, por outro lado, o esvaziamento das pautas trabalhistas, o aparelhamento dos movimentos sociais e sindicais e o fim da forma de financiamento desses setores que eram os grandes mobilizadores da esquerda enfraqueceram o poder de aglutinar as massas em prol das lideranças de esquerda.
Em resumo, a ascensão da direita e os desafios enfrentados pela esquerda no Brasil refletem uma conjunção de fatores econômicos, sociais, midiáticos e ideológicos. Para reverter esse quadro, a esquerda precisa reavaliar suas estratégias de mobilização e comunicação, além de propor um projeto de sociedade que inspire e unifique seus apoiadores. Somente assim poderá reacender a chama do engajamento popular e reivindicar seu espaço na "praça" da democracia brasileira.
Fotos e Fontes: Redes Sociais
Por Ralph Lichotti - Advogado e Jornalista, Foi Sócio Diretor do Jornal O Fluminense e acionista majoritário do Tribuna da Imprensa, Secretário Geral da Associação Nacional, Internacional de Imprensa - ANI, Ex-Presidente da Comissão de Sindicância e Conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa - ABI - MTb 31.335/RJ
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