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A segurança com base no discernimento é irrenunciável porque constitui o alicerce do funcionamento eficaz de tudo o mais.
Walter Felix Cardoso Junior
O discernimento é uma habilidade importante para se tomar decisões bem-informadas e seguras. Refere-se à capacidade de avaliar e compreender informações e situações, identificando padrões, riscos e oportunidades. Ter discernimento significa poder sopesar diferentes opções, considerando seus prós e contras, e escolher o que melhor se adequa às necessidades e objetivos. Isso também envolve a capacidade de considerar as consequências das escolhas e agir de acordo com valores e princípios. Em outras palavras, o discernimento equilibra a razão e a intuição, e a avaliação crítica com a compreensão emocional.
Ocorre que vivemos num mundo competitivo e impiedoso, onde a segurança costuma nos faltar, dificultando a compreensão do agora e agravando a incerteza sobre o futuro. Com efeito, especialmente naqueles maus dias, constatamos que a armadura natural que construímos ao longo dos anos não é mais suficiente. Preocupados com a “preservação da própria pele”, vamos criando mais e mais medidas de proteção, começando com as de cunho estrutural, depois chegando às eletrônicas e às que envolvem a guarda animal e a humana. Ocorre que isso tudo não é totalmente satisfatório, como podemos constatar pelas perdas estampadas todos os dias nos periódicos. Mas, se tem sido tão complicado salvaguardar os bens materiais, como devemos proteger o nosso principal patrimônio - a própria mente, onde armazenamos o que temos de mais valioso, a moral, o cabedal de conhecimentos, e a própria razão de viver?
A mente acaba sendo o nosso ativo mais crítico, porém, o mais vulnerável. Controlando as emoções, pensamentos, comportamentos e decisões, quando desequilibrada, a mente pode fracassar diante de dificuldades graves, tomando decisões nefastas. Em verdade, toda a segurança que tanto almejamos pode ser difícil de alcançar. As pressões da sociedade, a incerteza econômica, a rápida mudança tecnológica, o infortúnio, e a pertinácia dos rivais, podem nos colocar diante de situações verdadeiramente desafiadoras. No entanto, mesmo em um mundo tão excludente como o nosso, há medidas comportamentais que podem ampliar a proteção e o bem-estar pessoal e organizacional. Uma delas é investir em treinamentos sérios que melhorem as habilidades e que nos tornem mais atrativos ao mercado de trabalho. Contar com amigos e familiares que nos apoiem emocionalmente também favorece à lida com o estresse e a ansiedade. E as rede que caprichosamente construímos nos ambientes profissionais podem nos ajudar bastante com as conexões essenciais. Não obstante, deve ser destacado que a segurança em seu sentido amplo não é mais apenas financeira, física, emocional, espiritual, ela é cada vez mais informacional.
Nesse sentido, temos que refletir sobre a influência das mídias em nossa compreensão do mundo e do nosso próprio entorno, relacionando isso com as escolhas que fazemos, pois vivemos cada vez mais conectados e dependentes de informações atualizadas. Pois, as mídias, em suas diversas formas, exercem grande influência sobre a maneira como interpretamos dados e informações, sendo isso determinante para as nossas decisões. Essas mesmas mídias podem ser também um problema grande, já que dão suporte às organizações de comunicação que manipulam a opinião pública, promovendo crenças e valores controvertidos, disseminados pela propaganda, reportagens, artigos científicos, narrativas e outros meios virtuais, todos eivados de produtos irresponsáveis contaminados pelo viés negativo. Essa condição perigosa, muitas vezes nos impede de saber quem são os nossos verdadeiros inimigos e os seus propósitos. Podem ser empresas, grupos políticos ou outros agentes com interesses ocultos e criminosos, ou até mesmo pessoas desconhecidas com estranhas agendas, objetivando o poder político, financeiro ou ideológico. Difundem elas desinformação e Fake News, partindo de perfis falsos. Empregam algoritmos pelas plataformas digitais aumentando o alcance de suas mensagens danosas. Contudo, toda essa ação contra as nossas mentes pode ser mitigada quando governos e empresas de tecnologia resolvem combater a disseminação desses produtos informacionais. Com efeito, em qualquer cenário, as mentes são a última barreira de quaisquer sistemas eficazes de segurança, já que somos nós mesmos quem controlamos as etapas dos processos de proteção.
Entretanto, diante da complexidade global, pode ser perigoso oferecer total liberdade às mentes, sem que haja para elas quaisquer filtros ou orientações de segurança, pois podem se tornar alvo fácil para a introdução de crenças errôneas, preconceitos e comportamentos inadequados. Por outro lado, é preciso ter cuidado de não se obstar a expressão das ideias e a aprendizagem. Outro motivo importante para a proteção das mentes é prevenir quadros depressivos, sentimentos de inutilidade ou culpa, desinteresse profissional e o consequente descuido com a salvaguarda das informações que não podem ser compartilhadas por motivos estratégicos e de segurança. Mantendo-se fiel aos próprios valores e princípios, evitando abandonar a nossa integridade ética e pessoal, os esforços que tomamos para a proteção das mentes podem ser ainda excepcionalmente potencializados com os estudos de filosofia e de religião, permitindo reflexões e o questionamento de crenças e suposições. Sobre a religião especificamente, ela pode plasmar um arcabouço ético-moral de valores universais essenciais à vida. Seja como for, a humanidade inteira vive hoje a procura de uma Mão invisível que lhe garanta a segurança possível. WF
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina; graduado na Academia Militar das Agulhas Negras, ex-Comandante do 63 Batalhão de Infantaria, em Florianópolis; Egresso do Centro Hemisférico de Estudos de Defesa, em Washington/USA; diplomado em Gestão de Recursos de Defesa pela Escola Superior de Guerra; ex-Diretor do Departamento de Defesa e Segurança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo; e ex-Secretário de Planejamento Estratégico da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Publicou três obras de Inteligência Competitiva, uma delas na Argentina.
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