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BRASÍLIA — A trajetória política do líder do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Altineu Côrtes (RJ), sintetizada bem a caminhada de grande parte de seus colegas do Centrão. Embora hoje tenham se declarado alinhados com Bolsonaro, e adversários do atual governo, ou seja, contra Lula por terem feito parte do governo do ex-presidente, muitos deles se inscreveram como fileiras do Lula no passado.
No caso de Côrtes, o parlamentar não só esteve ao lado dos que agora são considerados inimigos, como já foi um deles. E, num passado nada distante, abriu fogo contra um aliado de primeira hora do presidente da República, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.
Desde que Bolsonaro se casou, Côrtes nem sempre agrediu a cartilha do chefe do Executivo. Num dos episódios mais emblemáticos de descompasso, ele se posicionou de forma a apoiar os projetos caros ao ex-presidente, como o que propunha uma instituição de voto impresso no país, que acabou sendo derrubado pela Câmara.
Ele também é a favor da legalização dos jogos no Brasil , como bingos, cassinos e jogo do bicho. O tema foi aprovado pela Casa, e Bolsonaro já adiantou que vetará a proposta, caso ela seja chancelada pelo Senado.
Quando questionado em plenário sobre seu grau de fidelidade, Altineu Côrtes afirma que segue a orientação do partido.
— (Bolsonaro) não estava errado (no caso do voto impresso). Minha posição é a orientação do partido. Eu sigo a orientação do PL. Quase 100% dos deputados estavam juntos. Só achamos que não precisamos implantar o sistema para essa eleição, o que isso poderia não dar certo — argumentou.
Nos bastidores, recentemente, ele também evitou abraçar um projeto de Bolsonaro para o Rio, domicílio eleitoral de ambos.
Campanha pelo PT
Côrtes afirma que seu plano era diferente do apresentado pelo correligionário
Hoje, o líder do PL e o ex-presidente da República dividem o mesmo quadrado partidário. Nem sempre foi assim. Em outros tempos, o deputado fluminense já foi filiado ao PT e brigou para ter sua imagem vinculada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o principal adversário de Bolsonaro.
Em 2008, aos 39 anos, Côrtes disputava a prefeitura de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, pelo partido de Lula. Era uma missão difícil, pois enfrentava a máquina do município, comandada por Aparecida Panisset (PDT). Favorita, ela irritou o adversário ao usar a imagem do então presidente na propaganda eleitoral.
Para conquistar a reeleição, Panisset tentou surfar na aprovação popular de quase 80% de Lula nessa altura. O ato gerou uma ocorrência conflitante. A campanha dele foi à Justiça Eleitoral e conseguiu barrar o uso da imagem. O argumento era que Lula integrava o partido da coligação adversária. Côrtes venceu na Justiça e perdeu nas urnas, vendo Panisset ser reeleita.
Sobre o passado petista, o deputado argumentou que “nunca foi ligado ao PT”, embora tenha sido candidato pelo partido. Afirma que, à época, a legenda da esquerda foi a única solução encontrada para disputar a prefeitura. Côrtes diz que tomou tal caminho, segundo ele, após ter sido traído pelo então governador do estado, Sérgio Cabral, que negociou a candidatura pelo MDB.
— Na realidade, eu não tive o apoio (do Lula). Foi a Aparecida, que teve apoio do (ex-senador petista) Lindbergh. Já sou deputado pelo PL há três mandatos. Disputei eleição pelo PT, mas não tive apoio de Lula — diz o novo aliado de Bolsonaro.
Em 2019, quando o PL ainda não integrava a base do governo na Câmara, Côrtes entrou em confronto direto com o então ministro da Educação, Abraham Weintraub. O titular da pasta gravou um vídeo em que responsabilizava os parlamentares da bancada do Rio pelo corte de verbos das famílias do Museu Nacional, destruídas por um incêndio meses antes.
A resposta de Côrtes veio ao plenário.
— Bolsonaro foi deputado nesta Casa por muitos anos. O mínimo que os deputados têm que ser aqui, e eu não cito sigla partidária, é respeitados pelos ministros — cobrou, antes de partir para o ataque: — O ministro gravou um novo vídeo, achincalhando a bancada do Rio de Janeiro(... ) O ministro faz um vídeo, uma tremenda palhaçada. Ele tem mais o que fazer, porque a educação é com muito problema.
Conquistas no Rio
Deixando o passado para trás, na opinião dos bolsonaristas, o que importar é atuar. O filiado ao PL, o deputado Bibo Nunes (RS), por exemplo, diz que a legenda terá como norte o apoio a Bolsonaro.
— O passado, eu não sei. Muitos já tiveram relação com o PT. Mas o importante é que o PL esteja comprometido com o ex-presidente Bolsonaro — argumentou.
Longe de Brasília, como presidente do diretório do Rio, Altineu Côrtes tenta organizar alianças e locais. Com o enfraquecimento do MDB no estado, PL e PSD são aproveitados para ocupar espaços relevantes nas máquinas dos municípios.
— Temos 31 prefeitos, praticamente um terço do Estado do Rio. E isso antes de o ex-presidente Bolsonaro chegar ao PL — comemoração.
Com informações O Globo
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