Alysson Paulinelli foi o JK do agronegócio brasileiro

SEBASTIÃO NERY

Alysson Paulinelli foi o JK do agronegócio brasileiro

Um grande brasileiro está completando 80 anos: Alysson Paulinelli, meu contemporâneo de política estudantil em Minas, professor e reitor da Universidade de Lavras, ministro da Agricultura de Geisel, o melhor que o Brasil teve durante anos, criador da Embrapa e pai da nova agricultura brasileira. Ele foi para a agricultura o que Juscelino foi para a indústria.

Naquela manhã de 30 de março de 1978, entrei no seu gabinete em Brasília. O jornalista mineiro e assessor de imprensa, meu amigo Silvestre Gorgulho, me recebeu ansioso. Abriu a “Sinopse” do dia (“Sinopse”, hoje “Clipping”, era um boletim mimeografado de 10 a 12 paginas, tamanho oficio, tipo corpo 12, meia hora de leitura, preparado de madrugada pela Agencia Nacional, sob a responsabilidade da Casa Civil da presidência da Republica, com a síntese do que diziam jornais e revistas). Edição limitada, reservada, só o primeiro escalão a recebia: o Presidente, vice, ministros, chefes dos outros poderes, Legislativo e Judiciário, comando militar.

Silvestre sabia a preciosidade que tinha: – “Veja o que o “Estado de Minas”, que representa 90% da imprensa mineira, está dizendo na edição de hoje, primeira pagina: – “Apesar dos 14 disputantes à vaga do governador Aureliano Chaves, o nome do presidente nacional da Arena, deputado Francelino Pereira, continua o mais cotado.Até o MDB já se pronunciou a favor”
Silvestre explicou: -Acontece que o “Estado de Minas” não diz nada.   Já telefonei para lá. Não tem nada. E também nada no “Diário de Minas”. Estão enxertando a “Sinopse” do alemão? Vou fazer um escândalo.

Cada dia uma manchete inventada. -“Diário de Minas”. O anúncio do futuro governador do Estado está sendo aguardado para o próximo dia 10 de abril. Até o momento o deputado Francelino Pereira é o mais cotado”. Pura invenção. Estavam engravidando o Geisel.

FUI PARA MINAS – Peguei as “Sinopses”, enrolei, sai às pressas. Fui direto para o aeroporto, tomei um avião para Belo Horizonte. Lá, passei nos jornais, comprei os citados e fui marcando. Nada conferia.No dia 31 a “Sinopse” atribuía ao “Estado de Minas”: -“Políticos mineiros veem em Francelino uma força total na ajuda ao presidente Geisel e ao general João Figueiredo”.  Fui à primeira banca, o “Estado de Minas” nada dizia. Enchi a mala de jornais, voltei para Brasília. No “Hotel Nacional”, onde me hospedava, encontrei no elevador o Mino Carta, diretor da revista “Isto É”, que me havia mandado para Paris entrevistar o embaixador Delfim Netto e para a Espanha cobrir a campanha da Constituinte espanhola:
– Mino, tenho uma “bomba” para você. Aqui na mala.

Em cinco minutos, Mino entendeu tudo. As “Sinopses” fraudadas e os jornais provando a fraude: – “Vá para São Paulo, leve tudo. Amanhã estarei lá”.

Saiu uma capa gritada: – “FranSinopse – Mentiram Para Geisel”.Na semana seguinte, outra capa da “Isto É”:-“O Minasgate”. O escândalo desaguou em todas as redações. A imprensa queria saber o que o governo ia fazer com a fraude na “Sinopse” do poderoso imperador Geisel.

INQUÉRITO – O governo abriu um inquérito na Agência Nacional em Brasília e na sucursal da Agencia Nacional em Belo Horizonte. O SNI (Serviço Nacional de Informações), que bisbilhotava a vida de todo mundo,foi desmoralizado. Eram fajutas as notícias que punham nas mãos de Geisel. Veio para cima de mim. Queria saber como eu tinha acesso à “Sinopse”, se era reservada para o Presidente e ministros. Dei um balão neles. Disse que havia pegado na mesa do ministro Petronio Portela.

No ministério, Paulinelli comandou sua revolução agrícola com o sábio mineiro Eliseu Alves criando a Embrapa, abrindo o Cerrado, implantando a Codevasf e multiplicando em milhões a safra agrícola.

Veio o “Premio Esso” de 1978, dividido com meus colegas da “Folha”, Getulio Bittencourt e Haroldo Lima.Prometi a Silvestre rachar o cheque. Não cumpri. Chamei a namorada, bebemos o vinho em Paris.

ADVOGADOS – O brilhante economista, professor e ex-deputado do MDB do Paraná Helio Duque fez uma pesquisa sobre os estudos de Direito no Brasil :

1.- O Brasil tem mais faculdades de Direito do que todos os demais países do mundo juntos. Haja Lava-Jato! O advogado Jefferson Kravchyn afirma: “Temos 1.240 Faculdades de Direito. No restante do mundo, incluindo China, Estados Unidos, Europa e África, são 1.100 cursos. O número de advogados inscritos na OAB, chega a 900 mil. Se não tivéssemos a OAB teríamos um número maior de advogados do que todo o mundo. Temos mais de 3 milhões de bacharéis não inscritos na Ordem”.

2. – O número aumentou de mais 26 faculdades, totalizando 1.266 cursos de Direito no Brasil. No final de 2015, a OAB selecionou, com “selo de qualidade”, 139 cursos em todo o País. Entre as faculdades, 78 são públicas e 61 privadas. Marcos Vinicius Coelho, à época presidente da OAB, advertiu: “Precisamos proteger a sociedade contra o estelionato educacional, que, sem qualquer qualidade, vende ilusão”. (Imagem: Arquivo).

Desculpem os colegas bacharéis. Precisamos de mais escolas de Agronomia do que de Direito.

 

Imagem incorporada SEBASTIÃO NERY

 

Por Jornal da República em 05/03/2023
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