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Neste artigo o leitor perceberá que não está sendo bem informado sobre a cidade pelas mídias tradicionais. Não sendo vista como estratégica do ponto de vista turístico nem para o governo do Estado do Rio de Janeiro.
Antigamente, pensar em Angra era sinônimo de paraíso, luxo e natureza quase intocada. Porém nos últimos 20 anos a cidade perdeu o rumo, devido a no mínimo a incompetência das gestões municipais, que promoveram um turismo irresponsável de massa e consequentemente predatório onde deveria ser o sustentável que além de ser obrigatório por lei, mantem e valoriza seu ativo, não ao contrário como vem acontecendo.
Não só a questão do crime organizado que migrou da capital para a Costa Verde, mas a falta de planejamento e principalmente fiscalização efetiva, não obstante omissões do Ministério Público Estadual em determinar investigações – com exceções claro, transformaram numa cidade que antes prezava pelos seus ativos naturais e cultura “do mar”, respeito ao meio ambiente que é o seu ativo principal, numa verdadeira terra sem lei, mudando completamente seu conceito anterior.
O que se mais se fala nos grupos políticos da cidade, é que a mesma possui um turismo amador e que merecia profissionalização devido ao seu grande potencial, mas nada muda.
Vejamos então, como de fato está o balneário hoje.
Turismo insustentável
A belíssima Ilha Grande se encontra poluída em muitos locais, como no caso da Vila do Abraão, onde o esgoto é jogado em riachos que cruzam o povoado. Mendigos são vistos diariamente dormindo nas praias. A Desorganização também é substancial quanto venda de serviços turísticos em geral sendo claramente percebido, sem contar com denuncias de estupros em trilhas, conforme reportagem do jornal O Globo anos atrás, devido a protestos de mulheres locais.
A infraestrutura turística é precária e inadequada, e o turista qualificado que a visita já nota logo na chegada ao ver que descerá num cais que deixa muito a desejar. Não há qualquer cuidado com a arquitetura ao conceito do local. Quanto mais a poluição visual, numa área protegida ambientalmente.
Também no continente, Muitos veranistas antigos, principalmente tradicionais abastados, já venderam ou colocaram suas casas a venda, ou estão pensando nisso.
No condomínio que é considerado o mais exclusivo e imponente, o Mombaça, onde o dono da AMBEV e muitos outros milionários tradicionais possuem residências, não é mais movimentado como antigamente.
E os réveillons, antes disputados e lotados ao ponto de visitantes terem que estacionar a centenas de metros na estrada, nos últimos anos passaram quase em branco, mostrando indiferença de seus proprietários que não frequentam mais como outrora, isso os que ainda persistem.
Consequentemente suas casas foram desvalorizadas, e segundo alguns corretores locais, hoje valem um terço do que antes.
Se faz pensar que ninguém se sentiria confortável em frequentar ambientes onde turistas, moradores e veranistas se comportam mal, não respeitam normas básicas de convivência e quanto mais a natureza, que hoje, bem devastada por esse turismo considerado insustentável.
Um dos exemplos é a situação hoje da Praia do Dentista, ou Jurubaíba, que antigamente era o point de encontro de mega barcos com banhistas que procuravam desfrutar da beleza incomum e a tranquilidade, mas que hoje, com excesso usuários e de embarcações em geral, provocam grandes tumultos e poluição ambiental - química e sonora, oposto do turismo sustentável para lugares protegidos ambientalmente, danificando-a severamente.
Barcos fundeados e amarrados enfileirados lado a lado com churrasqueiras acopladas, emitindo altíssimos sons diversos cada um deles, gerando batidas de tons graves misturando ruídos, lixo no mar, desrespeito às normas náuticas de segurança como navegação acima da velocidade permitida ou dentre muitos outros, fizeram o lugar perder seus status de paraíso.
Até grandes eventos particulares de música eletrônica já foram realizados lá, contrariam leis ambientais que deveriam a proteger, e sem notícia de fiscalização municipal ou estadual. Chegando ao ponto de banhistas quebrarem um símbolo turístico do lugar e que foi até comoção nacional: o coqueiro torto.
O mesmo acontece em outra localidade chamada Lagoa Azul, na Ilha Grande. Outrora também point de encontro como no Dentista, mas anteriormente muito usado mais usado para mergulho amador devido à grande quantidade de peixes, hoje mal se vê esses animais marinhos, no entanto a desordem reina não só em épocas de férias e feriados, mas em grande parte dos finais de semana, aumentando sucessivamente ano após ano sua proporção.
Sem qualquer controle.
Inúmeras escunas lotadas com capacidade entre 100 a 200 passageiros aportam simultaneamente na faixa de areia da pequena de praia anexa, Freguesia de Santana, também emitindo sons mecânicos e alto falantes em máximo volume que ecoam significativamente em toda região , quando passageiros mergulham e retornam às embarcações, tumultuando e colocando em risco banhistas, sendo proibido tal fundeamento, inclusive com motores ligados e, obviamente, lançando óleo diesel na praia.
E para piorar ainda mais, barcos menores turísticos fundeiam rente a faixa de areia e lançam suas ancoras na própria faixa, causando pequenos à médios acidentes aos transeuntes que caminham pelas margens, onde também produzem grande quantidade de poluição sonora igualmente em suas embarcações, transformando o local numa verdadeira zorra.
E para piorar mais do que isso tudo, agora o maior problema são os jet skis. Segundo informações de moradores, cerca de 90% dos condutores do tipo não tem respeitado as normas mínimas marítimas de segurança na Baia de Ilha Grande, ou seja, em toda a região.
Essas embarcações navegam em altíssima velocidade em locais em que tais normas determinam ser oposto, fazendo manobras ariscadas proximo a banhistas e embarcações fundeadas. Alguns condutores chegaram a modificar o “escapamento” da moto aquática, semelhante como em motos normais gerando gritantes ruídos, fora aparelhos de sons mecânicos acoplados, reproduzindo músicas as vezes com conteúdo sexuais em altíssimo volume, incomodando também moradores em suas casas que ficam em praias e costões.
Com isso, acabam criando um verdadeiro inferno para quem está procurando descanso e lazer junto a um local de natureza protegida, bem como causam sérios riscos a integridade de banhistas e a outras embarcações.
A situação piora ainda mais quando grupos de condutores organizam eventos sem autorizações e apoios necessários. Com mais de 50, 100 motos aquáticas, descem ao mar geralmente em locais inadequados navegando praticamente em conjunto, e, em grande maioria, não respeitam praticamente nenhuma norma causando tumulto e muitos problemas por onde transitam, desde praias até a costões, onde passam em alta velocidade proximo a piers de residências.
Mesma situação acontece praticamente com os barcos turísticos pequenos e médios, cujos proprietários geralmente condutores, parecem que não sabem ou não querem pilotar corretamente, bem como não tratam tal serviço de turismo com seriedade, segundo locais consultados.
Não são só os condutores que causam muitos problemas.
Mas moradores e também visitantes. Que confundem o público com o privado.
Na faixa de areia das praias em ilhas ou no continente, a má educação reina: ao invés de apreciar as belezas e relaxar com a linda natureza, além de uso de caixas de som em altíssimo volume com músicas muitas vezes de gosto duvidoso com ruídos graves repetitivos, há gritarias intermitentes ou chamadas de plateia de grupos de turismo ou individuais, de jovens ou adultos, ou crianças cujos pais não as guardam direito, incomodando turistas desavisados e moradores locais.
Em muitos finais de semana, usuários mal conseguem dormir dependendo da localidade. Barulhos inconvenientes já começam desde as 7 da manhã, com gritarias na faixa de areia da praia ou movimentações de barcos, e se seguem muitas vezes até tarde da noite à madrugada, transformando-a num verdadeiro “parquinho barulhento” para crianças e adultos.
Não há fiscalização nem perto do mínimo necessário nesses momentos e nem preventiva, tanto da Marinha quanto da prefeitura. Raras são as placas informativas e educativas, e quando há, são confusas. Quanto mais programas de conscientização.
Não há qualquer planejamento adequado de médio a longo prazo pela municipalidade para um turismo sustentável, qualificado. Nem pelo Estado. Como também não há, que deveria por obrigatoriedade legal ter, plano de sustentabilidade e ambiental para o uso sustentável turístico de toda baia e sua região costeira.
Não há também qualquer limite de concessões para operações de embarcações turísticas, como acontece nas vizinhas Mangaratiba e Paraty. Quanto a Marinha, mesmo ultimamente tendo intensificado fiscalização após determinação judicial, não possui hoje condições técnicas básicas visto que é carente até de embarcações para cobrir a grande área, surrealmente possuindo somente uma embarcação para toda a extensa região.
Terra de “Marlboro”
Estranhamente a lei municipal 3830/2018, que versa sobre ordenamento náutico costeiro em geral, não é respeitada nem pela própria prefeitura, autora da mesma devido a convenio com a União, e com milhares de denúncias efetuadas durante muitos anos, nada acontecia. Há casos de seguidas denúncias para mesma situação que só foram sendo resolvidas somente na justiça mais de 6 anos depois, e há casos de mais de 10 ainda sem solução, mesmo se tratando de situação explicita de afronta a normas.
Como exemplo, há caso de inquérito civil aberto no MPF que durou mais de 6 anos, e que gerou acordos que não foram cumpridos nem pela prefeitura nem pela Marinha, resultando ao final ao parquet propositura de Ação Civil Pública e mesmo com decisão judicial favorável, a duas instituições só acataram a ordem meses depois de proferida. E isto somente aconteceu por ter o MPF requerido ao juízo julgamento antecipado do feito, devido a desobediência.
De competência concorrente, as Promotorias de Tutela Coletiva do MPRJ arquivaram todas as mesmas denúncias, não requerendo nem sequer investigações, mesmo com comprovação apresentadas de grandes indícios de supostas prevaricações de funcionários públicos, ao qual estes foram dezenas de vezes devidamente notificados oficialmente pelos denunciantes, inclusive alertados explicitamente de que estavam agindo com omissão do poder público, mas ignoraram.
Tal situação se refere a irregulares operações de grandes escunas turísticas numa determinada região da Ponta Leste, onde essas embarcações, com capacidade de no mínimo 100 passageiros chegando a 200, fundeavam rente a faixa de areia para embarcar e desembarcar hospedes de pousadas locais; situação esta, além de gerar degradação ambiental, desvirtuava e tumultuava a pequena enseada, colocando em risco banhistas e outras embarcações, não obstante incômodos gerados a moradores.
Nesse caso especifico, os denunciantes passaram mais de 10 anos reclamando diretamente a prefeitura e Marinha, mas estranhamente e mesmo insistentemente, nunca foram ouvidos até então, quanto mais nos departamentos ambientais estadual e municipal, sendo completamente ignorados, e pior, ridicularizados. Nem em suas corregedorias.
E com a decisão favorável da ação proposta pelo MPF, políticos municipais rapidamente se moveram publicamente para proteger e auxiliar os infratores do mau turismo, mesmo que constaram a degradação ambiental numa enseada que antes possuía rica vida marinha, de estrelas do mar a cavalos marinho, e hoje praticamente só se vê lodo.
Passando por cima da lei aprovada em sua própria “casa”, 3 vereadores que agora foram reeleitos, inexplicavelmente publicaram vídeos em suas redes sociais se vangloriando de literalmente pressionar o presidente da autarquia municipal de turismo, o Sr. Marc Olichon, a liberar essas mesmas operações turísticas para operarem também irregularmente em outra praia próxima à impedida judicialmente, mas que também é proibida pela mesma lei para tal atividade, ou seja, os que deveriam por lei serem fiscais do executivo, forçam outro funcionário público a agir fora da lei. E foi concedido.
Muitos dizem que Angra virou uma Sucupira piorada, porque tudo é explicito e nada acontece de efetivo para no mínimo frearem essas situações, resultando em desistências de denunciantes pelo cansaço e impotência, ou acabando serem perseguidos, ou vão embora da cidade.
Construções irregulares e em desconforme arquitetônico descaracterizam o “paraíso”
Construções de casas e condomínios estão sendo autorizados pela prefeitura sem critério de sustentabilidade, e segundo informações de ativistas locais, até em mangue vivo foi concedida autorização, isso, sem contar em cabeças de morros.
Na mesma Ponta Leste e na última catástrofe natural, casas caíram dobre vias devido a construção irregular de loteamento no alto de um morro, cuja geologia da região não permite segurança.
Grandes aterros também foram autorizados para construção de condomínios como no bairro Bracuhy, descaracterizando e desequilibrando o meio ambiente, causando problemas na infraestrutura da região, que também possui geologia e geografia complexa e insegura, gerando graves consequências como ocorreram recentemente substanciais alagamentos naquele bairro que perduraram por dias, com inúmeras casas ilhadas.
Segundo os mesmos ativistas, a secretaria de meio ambiente que virou uma autarquia – IMAAR, tem poderes totais municipais sobre o assunto, não seguindo a lei administrativa em casos qualificados, quando deveria processar em conjunto com outros órgãos municipais, como dentro do planejamento urbanístico, acordos com infratores ou certos licenciamentos mais complexos. Já o INEA, perdeu grande parte de sua competência devido a um acordo do Estado com os municípios, aos quais foram transferidas muitas atribuições de fiscalização.
São muitas construções irregulares ou supostamente autorizadas irregularmente pelo município em todos os cantos, e os processos administrativos são geralmente conduzidos erradamente, como a divisão destes em dois autos sobre o mesmo assunto, sendo um para uso interno e outro externo, dificultando transparência e o devido processo legal para autuados, também dificultando controle externo.
Com orçamento anual bilionário (2,3 bilhões em 2024) para 200 mil habitantes, a cidade deixa extremamente a desejar como turística, com serviços em geral de qualidade ruim bem como sua administração, perdendo sua verdadeira identidade e vocação, se transformando num balneário depreciado.
Ninguém com bom discernimento sobre um ativo ambiental como o de Angra gostará de frequentar ou investir onde se acorda as 7 da manhã num domingo por causa de embarcação turística emitindo vibrações de ronco de motores intermitentes ou sons de músicas no volume máximo e de gosto incompatível com praia e natureza, ou banhistas gritando como se tivessem num parque de diversão ou num estádio, ao invés de descansar, apreciar o barulho do mar e de passarinhos. E que está se desvalorizando.
Ou fundear barco numa ilha e posteriormente embarcações chegarem fazendo bandalha. Ou também ter um novo vizinho que coloca som alto durante todo o final de semana intermitentemente ou hospedes barulhentos.
Fora se chatear vendo as belezas naturais sendo devastadas. Usuários hoje em Angra tem dificuldade de respeitarem normas básicas. E o poder publico de resolver os problemas.
Angra se preservada, poderia estar gerando muito valor agregado para o município e seus moradores, com um turismo sustentável ou de “bem estar” como é o termo chamado agora, e que é o que mais cresce no mundo, considerado o mais promissor por especialistas, pois gera maiores receitas e preserva o ativo, composto de turistas conscientes; poderia ser um balneário referência internacional, ditando tendências inclusive como fez no passado. Mas houve preferencia pelo predatório, mesmo havendo leis ambientais impedindo.
Hoje os mais abastados preferem vender suas propriedades e comprarem em outros balneários como Paraty – mesmo com problemas é muito mais organizado, Trancoso ou praias de Santa Catarina como exemplo.
Infelizmente, o sonho de Angra em ser um balneário internacional de referência, acabou.
De Rolling Stones outrora na Ilha do Pitanguy ou famosos na de Caras, hoje são noticias praticamente de ex-BBBs.
Angra não é mais dos Reis... É dos predadores. Hell de Janeiro.
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