As pontas do novelo começam a se encontrar

As pontas do novelo começam a se encontrar

 Será a mesma minuta?

Trechos atribuídos à delação de Mauro Cid à Polícia Federal, que se tornaram públicos nesta quinta-feira, 21, mostram que a tentativa de golpe de estado foi real e deixa muito clara a ligação direta e responsável do então presidente Jair Bolsonaro (PL) em toda essa trama sórdida. E aí surge o questionamento: será se essa minuta que Cid citou é a mesma encontrada casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, em janeiro deste ano?

Testemunha

O Tenente-Coronel Mauro Cid sabe que um falso testemunho lhe custará muito, muito caro. As supostas afirmações feitas em delação premiada, no entanto, parecem se encaixar como peças de um quebra-cabeça em toda a trajetória da tentativa de golpe de estado, desde que as ações coordenadas começaram a acontecer no pós-30 de outubro de 2022 até o fatídico domingo ensolarado de 8 de janeiro de 2023.

 Estado democrático 

A defesa do ex-presidente e o próprio Bolsonaro negam qualquer iniciativa para interferir no êxito da democracia. Anderson Torres, por ocasião de seu depoimento, negou que tenha participado da elaboração de um texto-base que validade um golpe de estado e a anulação das eleições presidenciais. Na suposta delação de Cid, ele revela que o Exército, ao contrário de Marinha e Aeronáutica, resistiu em endossar o plano "legal" para modificar o curso pós-eleitoral. Mas aí surge uma pergunta incômoda e até reticente: se o alto comando do Exército tivesse aceitado a ideia convicto de que era o certo a fazer como estava o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, estaríamos agora vivendo um estado de exceção? O golpe teria acontecido?

Narciso

Capitão do Exército que não chegou ao topo da carreira militar e encontrou na política uma forma de ter acesso e poder, Jair Bolsonaro usou do oportunismo político para chegar à presidência da República numa espécie de roleta russa. Chegou ao Planalto, ao topo do poder máximo de uma nação, que jamais as Forças Armadas ou qualquer outra função lhe proporcionaria sem um conhecimento acadêmico mais profundo. Chegou, viu, viveu, usufruiu, gostou e se embriagou pelo poder momentâneo e, assim como os regimes autoritários que sempre criticou e externou ojeriza, planejava na surdina e de forma quase impositiva permanecer com este poder, mas queria o aval de aliados para não ser acusado diretamente de ambicioso.

Vitória 

Depois de exatos 2 anos e muitos adiamentos, o plenário do Supremo Tribunal Federal finalizou no início da noite desta quinta-feira o julgamento da ação contrária à tese jurídica do marco temporal da demarcação das terras indígenas. Com. 9 votos a 2, o tribunal invalidou a tese defendida pelos ruralistas e deu ganho de causa aos indígenas Xokleng de Santa Catarina, autores da ação federal. Alguns pontos ainda precisam ser definidos, como possíveis indenizações para não-indígenas que ocupava a terra em questão e que terão que sair.

Despedida

A sessão desta quinta do STF teve outro componente, a saída do Procurador-geral da República, Augusto Aras, cujo mandato à frente da instituição termina este mês. Também é a penúltima semana da ministra Rosa Weber na corte, tanto como membro efetivo quanto presidente da instituição. Na próxima semana, ela se despede do Supremo, onde ficou por 11 anos por conta da aposentadoria compulsória. Mas antes dará posse ao novo presidente da instituição, o ministro Luís Roberto Barroso.

Incoerente

Por mais que tenha ido à suas redes sociais se justificar, pegou muito mal a declaração da presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffman, em que defende o fim da Justiça Eleitoral. A favor da PEC da Anistia, que tramita na Câmara, Gleisi prefere se posicionar enquanto dirigente de um partido político do que pela luta dos direitos políticos das mulheres.

Recuo

O corte em mais meio ponto percentual da taxa Selic, realizado ontem na reunião do Copom, mostra que a pressão sistemática do governo para a baixa dos juros começa a fazer efeito, mesmo que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não admita publicamente. Agora, a equipe econômica do governo tem que fazer valer as promessas de melhoria do cenário e fazer acontecer as mudanças aprovadas. A pendência da reforma tributária, que ainda está no Legislativo, deve dar o norte para esse rumo. Espera-se.

Por Coluna Valéria Costa em 21/09/2023
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