ATL 2024: Uma Perspectiva Única sobre a Diversidade Ancestral e a Luta pela Terra

ATL 2024: Uma Perspectiva Única sobre a Diversidade Ancestral e a Luta pela Terra

O Acampamento Terra Livre (ATL) é apresentado como uma manifestação crucial na luta contínua dos povos indígenas brasileiros por seus direitos e territórios. Originado como resposta às diversas ameaças enfrentadas pelas comunidades indígenas, o ATL representa uma união de líderes e lideranças étnicas em defesa de suas terras e modos de vida. A autora, uma advogada e filha de um líder indígena, destaca a importância do ATL como uma oportunidade para destacar a diversidade ancestral e lutar contra políticas anti-indígenas. O ATL 2024 é descrito como um evento que promove a solidariedade e apoio aos povos indígenas na busca por justiça e igualdade.

  O Acampamento Terra Livre (ATL) é uma manifestação emblemática da luta contínua dos povos indígenas do Brasil por seus direitos e territórios. Sua origem remonta aos primórdios da resistência indígena moderna, quando líderes e lideranças de diferentes etnias perceberam a necessidade de se unir em uma frente comum para enfrentar as crescentes ameaças à suas terras e modos de vida.

O ATL teve suas raízes plantadas em uma época em que as comunidades indígenas eram confrontadas com invasões de terras, destruição do meio ambiente, violência e discriminação sistemática. Em 2004 ocorreu o primeiro ATL em prol do desenlace do processo demarcatório da terra indígena Raposa Serra do Sol em Roraima a qual defrontava com o poder político e ruralista da região. Desde esta época apenas 67 Territórios Indígenas alcançaram sua finalização demarcatória com a assinatura do presidente da República nos referidos processos, de acordo com dados levantados pelo ISA (Instituto Socio Ambiental).

No Brasil, ainda existem 254 Territórios Indígenas em processos demarcatórios e, além disso, muitos outros territórios estão que estão em disputa ainda nem obtiveram o grupo de trabalho e demais procedimentos iniciado pela Fundação Nacional dos povos indígenas (FUNAI). Desde a constituinte de 1988, a demarcação dos territórios indígenas é um direito constitucional e foi instituído a demarcação de todos os territórios indígenas no prazo de cinco anos após a promulgação da carta magna, o que claramente não ocorreu. Como advogada e filha de um líder indígena, vejo o ATL 2024 não apenas como um evento, mas como uma oportunidade singular para destacar a importância da diversidade ancestral, a contínua luta pela preservação das suas terras ancestrais e contra as políticas anti indígenas no Brasil.

Nascida da união entre a cultura jurídica e os valores ancestrais, o Acampamento Terra Livre 2024 traz a baila uma homenagem à herança que recebi de meu pai. Ele, um líder respeitado de sua comunidade, sempre me ensinou a valorizar e defender nossas tradições, ao mesmo tempo em que buscava justiça para seu povo e neste ano, este evento não se fundou apenas na reunião de povos indígenas com intuito de discutir querelas territoriais, culturais e ambientais, mas também, de dar voz a todos nós indígenas para lutarmos contra o esquecimento e apagamento institucionalizados da nossa história ancestral.

Neste 20º Acampamento Terra Livre na capital brasileira, as participações de diversos povos indígenas oriundos de diferentes regiões do Brasil reuniram-se para reverberar ao mundo que o nosso marco é ancestral e sempre estivemos aqui e, a tese do marco temporal fere profundamente a todos os povos indígenas que lutam por suas demarcações preterias a constituinte de 88. Desde a colonização portuguesa os povos indígenas foram, além de toda barbárie sofrida, expulsos de suas terras ancestrais. E sim, nossa existência é ancestral e nossa diversidade é o nosso futuro que, apesar da colonização e das inúmeras tentativas de extermínio, resistimos e nos fortalecemos juntos.

Este evento foi um chamado à ação, um convite para todos nós nos unirmos em solidariedade aos povos indígenas, apoiando suas causas e trabalhando junto para garantir um futuro mais justo e equitativo para todos. Que possamos honrar a diversidade ancestral, defender as terras indígenas e seguir adiante com uma visão de justiça e igualdade para todos.

 

Iassonara Veríssimo Fulni-ô - Advogada indígena da etnia Fulni-ô; filha do líder indígena Santxiê Tapuya Fulni-ô, escritora, poetisa, filantropa, Presidente da APORI - Associação dos Povos Originários, Vice-presidente da Comissão de Direitos dos Povos Originários da OAB/RJ e CEO da WX IT Solutions Technologies em Portugal.

E-mail: iassonara@apori.org.br

Instagram: @iafulnio

Instagram da APORI: @aporiorg

 

 

Por Jornal da República em 02/05/2024
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