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O vereador Djalma Nery (PSOL), de São Carlos (SP), apresentou um projeto exemplar, estabelecendo que a Câmara Municipal substitua no início das sessões a leitura da Bíblia por trechos da Constituição e sejam retirados do plenário os símbolos religiosos. Exemplar porque pode encorajar vereadores de outras cidades a fazerem o mesmo.
Mas bastou uma conversa com o bispo auxiliar dom Eduardo Malaspina para que o vereador retirasse provisoriamente (segundo ele) o projeto de pauta, mesmo sabendo não haver na Câmara votos para aprová-lo.
Nery disse que não desistiu (será?) e que agora vai promover uma consulta pública, para a reapresentação do projeto.
A rigor, não haveria necessidade disso, porque a Constituição já diz que o Estado é laico, e nenhuma discussão pública pode mudar isso, mas a iniciativa do vereador, se ele efetuar, é válida porque colocará em discussão a fragilidade da laicidade brasileira.
São Carlos tem 250 mil habitantes e fica a 231 km de São Paulo. É cidade desenvolvida, universidade, do campus da USP e Ufscar. Se ali os religiosos se impõem à administração publica, é de se imaginar o que ocorre nos grotões do Brasil.
Nery anunciou que pretende ampliar a sua proposta, de modo a permitir não só a leitura da Bíblia como a de livros sagrados de religiões não cristãs e textos filosóficos e de reflexão.
Não consigo imaginar um vereador abrindo uma sessão com a leitura de um texto do candomblé ou de um texto fulminante do ateu Christopher Hitchens.
O bispo Malaspina não deixaria.
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