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Um dos mais respeitados e citados sociólogos do mundo, o português Boaventura de Sousa Santos entende que a nova geração de lideranças europeias chegou ao fundo do poço. Para ele, os mandatários do velho continente são limitados intelectualmente, inabilidosos na diplomacia, ingênuos na subserviência aos EUA e caminham para um desastre anunciado, ao endossarem políticas de estrangulamento econômico a uma potência nuclear.
Boaventura ainda destaca e lamenta a falta de visão histórica que deveria aproximar a Europa da Rússia e não o contrário. O sociólogo condena a invasão da Ucrânia, mas sublinha que não há mocinhos neste cenário - e que a falta de habilidade em contornar esse conflito trágico pode levar a Europa a uma situação perigosa de dependência aos EUA.
Segundo Boaventura,
“Quanto ao futuro, duas notas parecem impor-se. A primeira é sobre as consequências da provável humilhação russa. Os EUA não se deram por satisfeitos com o fim da União Soviética nem com o facto de verem Mikhail Gorbachev a fazer o anúncio publicitário da Pizza Hut na televisão russa em 1998. Nas últimas três décadas têm vindo a humilhar a Rússia, sobretudo nos anos mais recentes, quando se tornou claro que a Rússia seria o aliado preferencial da China, que, entretanto, emergia como o grande rival dos EUA. Sem dúvida, a China não sai fortalecida desta crise porque, sendo um império asce ndente, tem sobretudo interesse na liberalização do comércio. Certamente que os líderes chineses leram o Mare Liberum de Hugo Grotius, publicado em 1609. Mas a humilhação da Rússia pode ter consequências imprevisíveis, sobretudo para a Europa. Em 1919, a Alemanha assinava o Tratado de Versalhes com que terminava a Primeira Guerra Mundial. Um jovem economista inglês, John Maynard Keynes, abandonava a conferência de paz em protesto contra as condições excessivamente punitivas impostas pelos aliados à Alemanha. Keynes previa que as exageradas reparações e outras duras condições impostas à Alemanha levariam ao colapso da Alemanha, o que teria consequências económicas e políticas sérias na Europa e no mundo (The Economic Consequences of the Peace, publicado em 1919). Revelou-se profético. Infelizmente, o mundo não parece dispor hoje de um Keynes.”
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