Bolsonaro acaba com área VIP no meio do comício de Ramagem no Rio, abolindo barreiras que separavam os governantes dos governados

Bolsonaro acaba com área VIP no meio do comício de Ramagem no Rio, abolindo barreiras que separavam os governantes dos governados

Em um movimento que pode ser visto tanto como um golpe de mestre na arte de capturar a atenção popular quanto uma tentativa de reescrever as regras do engajamento político, o ex-presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma cena que, sem dúvida, ficará gravada na memória dos presentes e na crônica política do país. Durante o ato de lançamento da pré-candidatura de Alexandre Ramagem ao Congresso, no coração do Rio de Janeiro, Bolsonaro decidiu, em um gesto teatral, abolir as áreas VIP, mandando retirar as grades que segregavam as autoridades do grande mar de gente que formava o público.

"Chega de divisões!" disse, enquanto as barreiras físicas eram desmontadas, simbolizando uma união entre os representantes e os representados, entre o poder e o povo. Este ato, carregado de simbolismo, foi recebido com entusiasmo pela multidão, que viu na figura de Bolsonaro não apenas um líder político, mas um verdadeiro arauto da igualdade.

No entanto, é preciso ir além do simbolismo e questionar: essa aproximação súbita entre autoridades e povo, promovida por Bolsonaro, reflete uma verdadeira intenção de democratizar o acesso ao poder? Ou seria apenas mais uma manobra, um espetáculo cuidadosamente orquestrado para solidificar sua base de apoio, enquanto distrai a atenção de questões mais prementes?

Não se pode negar a força da imagem criada por Bolsonaro ao derrubar as grades. Afinal, em tempos de crescente polarização e desconfiança na política, gestos que sugerem uma maior proximidade entre eleitos e eleitores têm seu valor. Contudo, o verdadeiro teste para essa promessa de união não está nos atos simbólicos, mas nas ações concretas que devem seguir-se. Será que Bolsonaro e seus aliados estão realmente dispostos a caminhar lado a lado com o povo, compartilhando não apenas o espaço físico em eventos públicos, mas também o poder de decisão e a responsabilidade por construir um futuro comum?

Ao eliminar a distinção espacial entre a classe política e seus eleitores, Bolsonaro reitera seu discurso anti-establishment, posicionando-se como um desbravador das velhas práticas políticas, embora sua trajetória no poder suscite debates acalorados sobre a efetividade e a coerência desse posicionamento.

O evento, que serviu de palco para a pré-candidatura de Ramagem, conhecido por sua proximidade com o ex-presidente e por seu papel na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi marcado por uma atmosfera de campanha que remete aos tempos de eleição, com slogans e cantos que ressoam os embates políticos recentes do país. A presença de Cláudio Castro, governador do estado, ao lado de Bolsonaro, reforça a aliança política local e sinaliza um endosso às aspirações de Ramagem.

A decisão de Bolsonaro de misturar autoridades e público, abolindo as áreas VIP, pode ser vista como uma estratégia de comunicação eficaz, que busca reforçar sua imagem de líder populista, alinhado aos interesses e à vida do "homem comum".

 

 

Por Jornal da República em 16/03/2024
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