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O desfecho das investigações para identificar os envolvidos no audacioso plano de sequestro de um helicóptero de uma empresa particular, deflagrado no último fim de semana, para libertar criminosos de um presídio da Zona Oeste do Rio, aponta para traficantes de Niterói. Além de chegar a dois acusados de serem os executores do plano, a polícia descobriu que Carlos Vinicius Lírio da Silva, o Cabeça, apontado como líder do tráfico na Comunidade do Sabão, em São Lourenço, e pivô de uma sangrenta disputa por comunidades na antiga capital do estado, no primeiro semestre desse ano, organizou, de dentro da cadeia, a ação de resgate, não apenas fugir na aeronave, mas também tirar da cadeia outros líderes do Comando Vermelho (CV).
A cúpula da Polícia Civil do Rio, em entrevista coletiva, nesta quarta-feira (22), anunciou o resultado das investigações, que se iniciaram logo após o plano de fuga ter sido frustrado, graças a ação heroica do piloto-policial Adonis Lopes de Oliveira, no último domingo (19).
Era ele quem estava no helicóptero e se negou a seguir viagem a poucos quilômetros do presídio, jogando a aeronave, em uma tentativa de pouso forçado sobre o 14ºBPM (Bangu). Os dois criminosos tentaram impedir o pouso e entraram em luta corporal contra o piloto, em cenas reais que se assemelham aos filmes de ação, mas acabaram recuando diante da possibilidade de morrerem se a aeronave caísse. "Imaginei que aquele pudesse ser meu último voo’, disse o piloto da polícia sequestrado em helicóptero.
De acordo com as investigações da Delegacia de Repressão ao Crime Oraganizado (Draco), os homens que alugaram o helicóptero são dois subordinados de Cabeça no controle do tráfico de drogas na Comunidade do Sabão. São eles Marco Antônio da Silva, o Pará, gerente das bocas de fumo da região, e Khawan Eduardo Costa Silva.
Ambos foram reconhecidos pelo piloto e aparecem em vídeos de um circuitos interno de câmera enquanto aguardam o abastecimento do helicóptero. Os investigadores descobriram também que a dupla exigiu um helicóptero esquilo, que coubesse pelo menos cinco passageiros. Para a Polícia Civil, este é um indicativo de que o plano era resgatar mais de um traficante preso no Presídio Vicente Piragibe, em Bangu.
“Eles queriam uma aeronave de pelo menos cinco lugares. Então, para nós, isso indica que mais de um detento iria fugir”, diz o delegado William Pena Júnior, titular da Draco. Na noite de terça-feira, a Draco conseguiu localizar o carro usado para deixar os dois criminosos no heliponto da Lagoa, na manhã de domingo. O motorista de aplicativo foi contratado, recebeu R$ 100 pela corrida, entre a região de Niterói e a Lagoa Rodrigo de Freitas. Os executores do plano pensaram nos mínimos detalhes para executar o plano: pelas imagens, percebe-se que estavam bem vestidos e usavam roupas novas.
Segundo a polícia, os passageiros contrataram um voo para Angra dos Reis, no sul fluminense, com previsão de retorno ao Rio nesta segunda-feira. No final da tarde deste domingo (19), eles informaram que voltariam no mesmo dia. Como o piloto que fez o voo não estava se sentindo bem, solicitou ajuda de outro colega.
O que possibilitou o rápido desfecho da primeira fase de investigações foi o acesso a um número variado de imagens de circuitos de rua e que foram registrados os passos dos criminosos. Num primeiro vídeo, às 10h56 da manhã de domingo, dia 19, Pará e Kahwan chegam no heliponto da Lagoa para o embarque na aeronave. Um carrega uma bolsa a tiracolo.
Khawan vem em seguida arrastando uma mala pequena de rodinha. Os investigadores sabem que ali dentro eles levavam dois fuzis, usados para render Adonis no trajeto de volta de Angra dos Reis. Outra imagem divulgada é na sede da HeliRio, no Recreio dos Bandeirantes.
Assim que saíram da Lagoa, eles foram até lá para abastecer e deixar o dinheiro pago pelo aluguel da aeronave – 14.500 reais em espécie. Para não despertar suspeitas, os criminosos usaram documentos de identidade falsos, com nomes de pessoas sem antecedentes criminais.
Segundo as investigações, Pará já estava foragido, pois foi preso, ganhou um benefício e se evadiu do sistema. Segundo a polícia, Ele é o 'gerente' do Sabão, homem de confiança de Cabeça, que é o dono da favela e está preso no Vicente Piragibe, onde a aeronave pousaria.
'Cabeça', do Sabão: líder do plano, segundo a polícia | Foto: Divulgação
Mentor - Os investigadores também identificaram o preso Carlos Vinícius Lírio da Silva como principal suspeito de ser o mentor do plano. Conhecido como Cabeça, ele é o chefe do tráfico da comunidade do Sabão, no Centro de Niterói, na Região Metropolitana. O criminoso foi investigado por, mesmo preso, comandar algumas das mais recentes guerras pelo controle de territórios na cidade.
Para conseguir expulsar o Terceiro Comando Puro (TCP) de cinco comunidades do Fonseca e da Riodades, Carlos Vinicius se aliou a uma espécie de 'consórcio' do Comando Vermelho, formado também por criminosos dos Complexo da Coruja, em Neves SG, e da comunidade do Viradouro, em Santa Rosa, Niterói. O mesmo 'consórcio do tráfico, segundo a polícia, conseguiu se estabelecer também no Morro do Estado, após vencer a 'guerra' contra o TCP.
A polícia já sabe que Cabeça era um dos quatro detentos que estavam na quadra do Presídio Vicente Piragibe, no complexo penitenciário de Gericino, à espera da chegada do helicóptero, que havia sido sequestrado, na tarde de domingo. De acordo com as investigações ele estava junto com Marcio Gomes de Medeiros Roque, o Marcinho do Turano, um dos principais chefe da maior facção criminosa do Estado, na quadra da unidade prisional, de regime semi-aberto, por volta das 17h20 do último domingo.
Também demorou a entrar na galeria José Benemário da Araújo, chefe do tráfico na Favela do Mandela, preso no Paraguai em 2013. Segundo uma fonte da polícia, eles estavam 'enrolando' para voltar para as celas, já que o horário para receberem visitas na área externa do presídio já havia se encerrado. Apesar de a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) não dar informações sobre a investigação, que corre em sigilo, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) transferiu Marcinho do Turano direto para Bangu 1 (unidade de segurança máxima) no início da noite de ontem.
"Não há dúvida de que há um mentor e que era um plano do Comando Vermelho. Durante o voo, depois do resgate frustrado, eles queriam que a aeronave pousasse no Complexo da Penha. Depois desembarcam em outra favela da mesma facção (Morro do Castro), em Niterói”, afirma o delegado, na coletiva desta quarta. Do Morro do Castro, em Tenente Jardim, protegidos por aliados, os dois teriam voltado à comunidade do Sabão.
Fracasso - Cabeça do Sabão está preso no Vicente Piragibe e participou diretamente de outra fracassada tentativa de resgate, em 2005. Na época, bandidos tentaram libertar traficantes que iriam depor no Fórum da Ilha do Governador. No ataque, dois policiais civis acabaram morrendo.
O criminoso foi alvo ainda da polícia e do Ministério Público estadual na Operação Disney que descobriu que uma empresa se associou a traficantes para o fornecimento de sinal de internet clandestino em áreas dominadas pelos criminosos da facção.
Via O São Gonçalo
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