Carta aberta de uma família ao Presidente

Carta aberta de uma família ao Presidente

Sr. Presidente, 

Eu e meu marido nos dirigimos a vossa excelência, na qualidade de cidadãos brasileiros, país de um menino autista,  nosso querido e amado João, para manifestar nossa indignação, nosso repúdio e nosso  pavor à afirmação, da Comissão que autoriza procedimentos no SUS, CONITEC, vinculada ao Ministério da Saúde, de que a eletroconvulsoterapia (choque eletrico) tem resultados promissores no tratamento de autistas graves.
O senhor fala que a sua palavra é a última e deve ser. O senhor foi eleito democraticamente, portanto, como cidadãos perguntamos o seguinte: O senhor é familiarizado com os temas relativos ao universo do espectro autista ? Os sr conhece a luta dos pais de autistas ? O Sr tem noção dos tratamentos adotados para ajudar no desenvolvimento dos autistas ? O sr tem noção de quanto o Estado é omisso nessa questão? O sr conhece o tratamento de choque?!
Se fosse pai de autista, aceitaria tal tratamento para o seu filho?! Sendo Cristão, entende que é uma Missão zelar e cuidar de um anjo dado pelo Criador?!
Sendo pai, o sr acha que é um ato de amor expor ou concordar com essa sandice, com essa aberração, com a tortura travestida de terapia?! Sendo tambem um cidadão sabedor do alto valor dos impostos e do enorme sacrifício do  povo até então, o sr acha razoável, em pleno século 21, tratamento de choque,  uma tortura violenta e brutal para fritar os neurônios de quem nasceu no espectro autista ?’ 
 Sr. Presidente, isso é inaceitável !
Sinceramente, o Criador sugere atitudes e não só  palavras até no termo ORAÇÃO= Orar + Ação= ORAÇÃO. 
Não há economia certa e política correta quando não se equaciona e desperta empatia. Não podemos chamar de Pai, sem nos considerar irmãos, sem irmos além do visível, do material, da carne que nos envolve.
Se o senhor é Cristão, no mínimo refletirá  e colocar-se-á em nosso lugar. Entretanto, na qualidade de mandatário apure e seja firme para não permitir que essa tortura seja adotada como tratamento.

A causa é nossa, mas é sua também.

Janaina Sampaio e Bernardo Ariston

Por Jornal da República em 19/12/2021
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