Casos de maus tratos contra animais disparam no Estado do Rio de Janeiro

Protetores recebem mais de 100 pedidos de ajuda por semana

Casos de maus tratos contra animais disparam no Estado do Rio de Janeiro

Relatos de crimes de maus-tratos e abandono de animais nas cidades do Rio de Janeiro disparou nos últimos dois anos. Durante a pandemia, com a crise econômica, animais domésticos foram, infelizmente, a primeira “despesa” a ser cortada no orçamento, o que levou a uma explosão de casos de verdadeira crueldade com os bichinhos.

Abandono de ninhadas inteiras, animais feridos, famintos e violentados estão entre os relatos dos protetores.

O protetor e ativista João Valois (@joao_valois), que atua na causa animal há 20 anos, idealizador do movimento Cadeia Para Quem Maltrata os Animais, e embaixador do Cadeia Para Maus-Tratos, recebe por semana, em média, 100 pedidos de salvamentos e resgate de animais que correm risco de vida, em todo o Estado.

Um caso emblemático é do cãozinho Chico que foi resgatado em janeiro, na comunidade 24 de Maio, em Petrópolis. Abandonado e doente, Chico estava com metade da face corroída por uma ferida coberta por bicheira. Por muito pouco não perdeu um dos olhos. A salvo, graças ao trabalho do ativista, Chico se recuperou e foi adotado.

Outro caso foi o de Guerreiro, resgatado em maio, no bairro Floresta, também em Petrópolis. O cãozinho foi encontrado com bicheira, muito machucado e desidratado.

Está há mais de um mês internado em recuperação. “O Guerreiro entrou no meu carro cheio de bichos pulando, e o animal apodrecendo. Se eu tivesse mais recursos e pudesse, seriam mais de dez salvamentos por dia, todos os dias recebemos pedidos de ajuda para socorrer animais em situações horríveis”, relata o protetor.

Número de registros nas delegacias ainda é baixo

A cada dois dias, um animal é vítima de crime de maus tratos no Estado do Rio de Janeiro em 2020. Os dados são do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ) que revelam que 193 registros foram feitos nas delegacias do Estado, no último levantamento.

Mas, na prática, este número é muito maior, já que grande parte dos salvamentos e resgates de casos de maus tratos e abandono não chegam ao conhecimento das autoridades.

João Valois, que esteve à frente da Coordenadoria de Bem-Estar Animal da Prefeitura de Petrópolis em 2021, conta que ainda há uma dificuldade muito grande para que esses casos cheguem às delegacias.

“O mais difícil acontece porque o denunciante não quer testemunhar, e a pessoa precisa testemunhar. Ela precisa pegar imagens, fotos, vídeos, juntar pessoas, amigos, para não ir sozinha, porque tem medo. E levar o caso à delegacia, é preciso ter um pouco de paciência. Quando o caso é registrado pela Polícia Civil passa a ser investigado e os responsáveis podem ser punidos pelos crimes”, disse.

Os dados do ISP-RJ mostram ainda que 58% dos crimes contra animais registrados nas delegacias foram cometidos pelos próprios tutores. E 63% deles aconteceram nas residências. No total de registros, os cachorros foram mencionados 117 vezes e ocupam o primeiro lugar no ranking dos bichinhos que mais sofreram maus tratos, seguidos por gatos e aves, com 35 e 29 citações, respectivamente.

A dica do protetor é para que o denunciante leve o relato à delegacia o mais detalhado possível. “Se possível, procure levar por escrito o art. 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9.605 de 1998), uma vez que, infelizmente, há policiais que não estão cientes do conteúdo desta lei”, ressalta João.

Por Jornal da República em 04/07/2022
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