CERVEJA: Com investimentos da Faperj, startup em Seropédica desenvolve produção de lúpulo brasileiro

Primeira biofábrica produtora de mudas de lúpulo brasileiro por cultivo in vitro em laboratório recebeu investimentos da Faperj. (Divulgação)

CERVEJA: Com investimentos da Faperj, startup em Seropédica desenvolve produção de lúpulo brasileiro

Criadores querem superar desafios como adaptação ao clima, pragas e doenças que acometem a lavoura para contribuir com espécies mais produtivas para agricultores.

A primeira biofábrica produtora de mudas de lúpulo brasileiro por cultivo in vitro em laboratório tem a proposta de utilizar uma das técnicas mais modernas de melhoramento genético para edição do genoma da planta e criação de novas variedades. As mudas de lúpulo usadas no país para a produção de cerveja são importadas, principalmente, dos Estados Unidos e da Europa, e não adaptadas ao clima brasileiro.

Sediada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a BioHop é a startup de biotecnologia com foco em produção de mudas por cultivo in vitro com testes de sanidade por técnicas moleculares, uso de engenharia genética para o desenvolvimento de novas variedades de plantas e projetos de inovação para empresas. A startup recebeu investimentos da Faperj para a montagem de um laboratório e a implantação de uma biofábrica e viveiro de mudas de lúpulo, no município de Seropédica, no estado do Rio de Janeiro.

A empresa também propõe o uso da tecnologia CRISPR para edição gênica de plantas, “ligando e desligando os genes”, de acordo com as características almejadas. No caso das plantas, permite o desenvolvimento de novas variedades no laboratório em curto prazo, diferente do melhoramento por cruzamento de plantas.

O aroma e o sabor tropicais serão os aspectos almejados das mudas de lúpulo brasileiro. Além disso, os criadores querem superar desafios como adaptação ao clima, pragas e doenças que acometem a lavoura e contribuir, assim, com espécies mais produtivivas para agricultores. E como produto final, um valor comercial mais baixo para os cervejeiros artesanais.

- Queremos uma cerveja 100% brasileira. O lúpulo precisa de um impulsionamento do mercado para diminuir a importação do produto, que é um dos mais caros para indústria cervejeira. Queremos ser também exportadores de bebidas com características tropicais. O produto com aroma possui alto valor de mercado, podendo alcançar a cifra de R$ 600, o quilo - ressalta Cássia Coelho, doutora em Agronomia e fundadora da BioHop.

 

Coelho explica que há um crescimento de produtores nacionais de lúpulo e que a geração de mudas em laboratório pode alcançar alto rendimento por planta matriz, obtenção de plantas isentas de patógenos, mudas sadias em qualquer época do ano, em curto período de tempo, e espaço reduzido. Também é possível a clonagem de plantas de difícil propagação vegetativa por métodos convencionais e preservação de matrizes sem risco e infecção. Além dessas vantagens, o cultivo in vitro, a longo prazo, possibilita a redução dos custos e aumento da produtividade das plantas.

A meta agora é estabelecer parcerias com laboratórios e empresas para o desenvolvimento das novas variedades e escalar a produção para a comercialização. A criação de uma nova planta por cruzamento consome de 10 a 15 anos para seu desenvolvimento completo, explica Coelho, enquanto com a técnica do CRIPR este prazo se acelera, decaindo para até quatro anos.

Com mestrado e doutorado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com período sanduíche durante o doutorado na Washington State University, Cássia tem focado sua trajetória em estudos da biotecnologia de plantas. Pelo edital Doutor Empreendedor da Faperj, ela recebeu R$ 50 mil de auxílio, mais duas bolsas: uma de Iniciação Tecnológica e outra de Doutor Empreendedor para tocar a proposta da biofábrica de biotecnologia de plantas, visando oferecer ao mercado consumidor, além do lúpulo brasileiro, produtos diferenciados. Em 2022, a startup ainda foi agraciada no Programa de Bolsa de Treinamento e Capacitação Técnica (TCT) em Apoio ao Desenvolvimento do Setor Agropecuário e da Agroindústria do Estado do Rio de Janeiro, lançado igualmente pela Faperj, e recebeu R$ 150 mil, além de bolsas de Inovação Tecnológica e do edital Doutor Empreendedor.

Segundo Coelho, a BioHop tem sido procurada por outras empresas para testar bioinsumos orgânicos como fertilizantes para diferentes plantas, observando a resposta da planta, desde a expressão dos genes, metabolismo e crescimento dos vegetais.

Importação

Essencial na fabricação de cerveja, o lúpulo utilizado nas cervejarias brasileiras é praticamente 100% importado. O país só produz 1% do que consome que é de mais de 4.700 toneladas, totalizando mais de R$ 450 milhões, segundo dados da Embrapa. E o mercado de lúpulo tem crescimento de 20% ao ano. O lúpulo é o responsável pelo amargor e aroma característicos da bebida.

Por Jornal da República em 26/10/2023
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