Coitadismo: estratégia de Bolsonaro de usar facada para reverter críticas nas redes ‘deu ruim’

Gráficos do Twitter mostram que interações negativos ou irônicas superaram menções positivas da milícia virtual incitada por Bolsonaro a aderir ao

Coitadismo: estratégia de Bolsonaro de usar facada para reverter críticas nas redes ‘deu ruim’

A tentativa de Jair Bolsonaro (PL) de resgatar o caso Adélio Bispo para gerar comoção nas redes e reverter as críticas sobre o desprezo com as vítimas das chuvas no Sul da Bahia deu chabu. É o que mostram gráficos do Twitter compilados pelo analista de dados Antônio Arles com exclusividade para a Fórum nesta terça-feira (4).

“O bolsonarismo no Twitter é como um animal praticando mimetismo, tentando parecer maior do que aquilo que realmente é“, afirmou Arles ao analisar os dados captados na rede.
Horas após interromper as férias e se internar às pressas no Hospital Vila Nova Star com problemas intestinais, Bolsonaro comandou uma ofensiva para atribuir o mal estar ao atentado sofrido durante a campanha de 2018.
Juntamente com uma foto mostrando estar abatido – diferentemente do que pôde ser visto durante suas férias em Santa Catarina, que desencadearam as críticas -, Bolsonaro escreveu que a internação e os sintomas são “consequência da facada (06/set/18) e 4 grandes cirurgias”.

 

O “coitadismo” foi repercutido pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que ecoou a ladainha aos seus moldes “religiosos”.
“Agradeço as orações e as mensagens de carinho, recebidas pela internação do Jair decorrente do atentado que sofreu em 2018. Sequela que levaremos para o resto de nossas vidas. Mas Deus é bom e tem o controle de todas as coisas”, escreveu em um storie.

 

Marcelo Queiroga, médico que comanda o Ministério da Saúde, já havia feito a mesma ilação. Ao mesmo tempo, Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o comandante da milícia virtual sinalizou com o “apito de cachorro” na publicação do pai no Twitter – que omitia o caso Adélio.
“A turma do ódio do bem ou ódio permitido invade mais uma publicação! Crer que a facada de antigo filiado do PSOL foi um fato isolado não é inocência”, escreveu.

 

A partir dai, a tese se alastrou levada pela já conhecido #QuemMandouMatarBolsonaro, que foi impulsionada com força máxima pela milícia virtual ligada ao clão presidencial.
Mesmo assim, a ação foi insuficiente para alcançar maioria no Twitter. “As postagens desfavoráveis e humorísticas interagiram bem mais com as postagens neutras, somando 62%, enquanto o bolsonarismo ficou isolado, com 30% das menções”, afirma Edgar Piccino, analista de dados da Fórum, que também teve acesso aos gráficos.

 

Internado pela sétima vez desde a facada, a estratégia de usar a mesma tática de fotos enfermo gerou ainda mais revolta nas redes. A repercussão deve ser ainda pior com a provável alta médica nesta quarta-feira (4), após Bolsonaro conseguir evacuar sem precisar de cirurgia, mostrando a falta de gravidade da situação – que provocou até mesmo a vinda urgente do médio Antônio Luiz Macedo das férias nas Bahamas.
 

“Fica claro que nem com força máxima, explorando politicamente um problema de saúde, o bolsonarismo não consegue mais superar seus opositores, quanto mais hegemonizar o debate nas redes sociais”, complementa Piccino.
Os gráficos confirmam que Bolsonaro vem perdendo força nas redes sociais, sua principal plataforma eleitoral. Dados da Consultoria Quaest mostram que Lula terminou 2021 à frente no Índice de Popularidade Digital (IPD). Segundo o levantamento, o petista marcou 73,4 pontos e Bolsonaro, 68,9.
Dados do Twitter compilados entre os dias 26 de dezembro e 1º de janeiro mostram uma avalanche de manifestações espontâneas com menções a Lula no Twitter, principal plataforma de embate político na internet.

 

“Além de menor quantitativamente, o bolsonarismo parece também mais concentrado, falando para menos lados do que compõe o Twitter. Essa falta de diversidade pode ser um fator decisivo. O bolsonarismo age para tentar pautar o debate, mas o que o Twitter está mostrando, principalmente através dos Trending Topics, pode estar distorcido em relação ao todo distribuído da Rede.

E por que eles fazem isso? É porque sabem que como ecossistema o Twitter é um hub de influenciadores, principalmente no meio jornalístico. Sabem que esses influenciadores se guiam pelos TTs, mas que estes não são a expressão exata do que se fala na Plataforma”, afirma Arles. (Da RevistaFórum)

Por Jornal da República em 04/01/2022
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