Com R$ 150 bi, fundo cristão dos EUA pressiona empresas contra políticas progressistas

Fundos como o GuideStone foram encorajados pela guinada política à direita nos EUA e pelo avanço de ativistas conservadores

Com R$ 150 bi, fundo cristão dos EUA pressiona empresas contra políticas progressistas

Empresa de investimentos fundada há 106 anos no Texas (EUA), a GuideStone faz parte de uma coalizão emergente de investidores cristãos conservadores que começam a usar sua influência acionária para combater políticas corporativas progressistas, como o financiamento de paradas do orgulho LGBTQ+ ou o custeio de viagens de funcionários para abortos. Eles também estão focando em bancos que supostamente encerraram contas de clientes com base em motivações políticas ou religiosas.

Segundo reportagem da Bloomberg, o fundo administra cerca de US$ 24 bilhões (cerca de R$ 149 bilhões) em ativos. A empresa atende aposentados batistas do sul dos Estados Unidos que, por motivos religiosos, de uma forma geral se opõem a práticas como aborto, transições de gênero ou pesquisas com células-tronco embrionárias..

Chefe de advocacia acionária da GuideStone, Will Lofland diz que há atualmente cerca de meio trilhão de dólares em investimentos de fundos religiosos e fundos de pensão de estados conservadores que podem ser usados para influenciar o comportamento corporativo. A coalizão inclui a Inspire Investing, a maior gestora de ETFs baseados em fé, tesoureiros estaduais republicanos e o grupo legal conservador Alliance Defending Freedom.

Conforme atraem mais dinheiro, membros da coalizão estão se reunindo com executivos corporativos e apresentando propostas de acionistas. Embora o sucesso tenha sido limitado até agora, eles pretendem ampliar o número de apoiadores e pressionar mais empresas neste ano, disse Lofland.

“Os investidores querem honrar o Senhor com todos os seus recursos”, afirmou ele. “Eles querem que seus dólares sejam investidos de uma forma que consideram estar de acordo com os princípios de Deus.”

Expansão de investimentos religiosos nos EUA

Esse tipo de foco religioso em investimento existe há décadas, geralmente voltado para causas mais liberais, como direitos trabalhistas e mudanças climáticas. A diferença é que fundos como o GuideStone foram encorajados pela guinada política à direita nos EUA e pelo avanço de ativistas conservadores que já pressionaram empresas a reduzir ou encerrar iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI).

O interesse em fundos religiosos está crescendo. De acordo com Tim Macready, chefe de investimentos globais da Brightlight, os ativos em ETFs e fundos mútuos alinhados à fé ultrapassaram US$ 100 bilhões no ano passado, um aumento em relação aos US$ 72 bilhões de 2020.

Base de apoio

Nesse formato, um dos primeiros esforços da GuideStone, que funciona em um discreto escritório em Dallas, foi apoiar, em 2023, uma proposta acionária contra a Microsoft sobre benefícios relacionados a cuidados reprodutivos e disforia de gênero, que recebeu apenas 1% dos votos.

Diante do apoio modesto, Lofland acredita que os fundos religiosos precisam atrair mais investidores institucionais, como fundos de pensão estaduais conservadores. Esses investidores já demonstraram força coletiva, como no caso de 15 tesoureiros estaduais republicanos que assinaram uma carta pedindo o fim de programas de DEI em empresas da Fortune 1000, controlando coletivamente US$ 590 bilhões em ativos.

A Inspire Investing e os Cavaleiros de Colombo são outras gestoras de fundos religiosos que tentam influenciar o comportamento corporativo.

A Inspire participou de uma ação judicial contra a Target, alegando que as perdas após o boicote contra produtos LGBTQ+ resultaram em prejuízos bilionários para investidores.

Para Amelia Miazad, professora de Direito na Universidade da Califórnia, coalizões conservadoras ainda não obtiveram amplo apoio nas votações de acionistas, mas elas podem ter sucesso em influenciar as decisões executivas e cita como exemplo o movimento anti-ESG.

 

Por Jornal da República em 05/01/2025
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