Comércio carioca registra queda de 0,3% nas vendas, em 2023

De acordo com o especialista em varejo Michel Tauil, IPTU alto, violência e baixa renda são alguns dos motivos para o declínio do setor, no Rio de Janeiro

Comércio carioca registra queda de 0,3% nas vendas, em 2023

As vendas do comércio carioca marcaram um declínio de 0,3% de janeiro a dezembro de 2023, em relação ao mesmo período de 2022. O levantamento foi realizado pelo Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio) e pelo Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (SindilojasRio). Além da redução de vendas, a porcentagem aponta a diferença do resultado em relação à outras capitais do país, já que a economia nacional aponta sinais de evolução. O comércio varejista brasileiro registrou crescimento consecutivo nos últimos quatro anos, em 2020 com aumento de 1,2%, 2021 com 1,4%; 2022 com 1,0% e 2023 com 1,7%, já o comércio do Rio de Janeiro marcou, em 2020, um crescimento de 1,2%, porém registou uma queda de 0,5% em 2021, 3,5% em 2022 e 0,3% em 2023. Para o especialista em varejo Michel Tauil, idealizador do Acelera Varejo, organização que conta com a participação de 4 mil empresários varejistas, IPTU alto, violência e baixa renda são alguns dos motivos para o declínio do setor.

 

"Há diversos fatores para que o comércio carioca esteja com o baixo número de vendas e em declínio, diferente de outras capitais que estão registrando um saldo positivo. Um deles é o Custo Total de Ocupação (CTO), o Rio de Janeiro possui um CTO elevado, o m2 é um dos mais caros do país, fazendo com que o IPTU também seja muito caro. Além disso, temos constantes problemas com a luz, sendo muito comum ficarmos certos períodos sem energia. Esses fatores não só desanimam o investidor que buscava empreender no setor de varejo carioca, como também diminuiu suas vendas e o número do seu público", explica o fundador do Acelera Varejo RJ, que conta com 750 varejistas na organização sediada no Rio de Janeiro.

O descontentamento com o saldo negativo do comércio carioca promove o êxodo de profissionais e de investidores, fazendo com que muitos empreendedores busquem por alocações no mercado paulista por conta de maiores salários e por terem mais oportunidades, além de ser um estado próximo ao Rio de Janeiro. A saída de bons trabalhadores, principalmente da capital do Rio, gera o enfraquecimento em cadeia a qualidade de mão de obra. Para o especialista, a violência presente pela cidade e a sensação constante de insegurança também são fatores que provocam o declínio do comércio carioca, fazendo com que consumidores não frequentem mais certas regiões da cidade, como o Centro, antes visto como um dos principais locais para o setor do varejo. Atualmente, é possível ver diversas lojas fechadas na região que um dia já foi um dos maiores polos de vendas do Rio de Janeiro. Além da insegurança, a cidade possui a majoração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), elevando a dificuldade das empresas, o desemprego e uma menor renda da população.

De acordo com um levantamento pelo Serasa, o Rio de Janeiro é o estado com mais endividados em todo o país. São cerca de 7,3 milhões de inadimplentes, o que corresponde a 53% da população fluminense, somente na capital, são quase 2,9 milhões de cidadãos que ainda não honraram suas dívidas. Sendo esse mais um fator para a diminuição do número de vendas do comércio na cidade, além de retardar o processo de recuperação da taxa de consumo entre o público. 

 

"O aumento do custo de vida, sendo que não há um aumento nos salários, demanda soluções desesperadas entre a população. Além de não possuírem mais o poder aquisitivo de antes, fazendo com que só gastem suas finanças com coisas básicas do dia a dia, como o aluguel e a alimentação, a renda da família brasileira está sendo destinada para apostas esportivas e cassinos online. O valor seria usado para comprar roupas, sapatos, bolsas, eletrônicos agora são usados em esses jogos de azar", afirma Michel. 

O conjunto de todos esses fatores leva um problema ainda maior para o comércio carioca: linhas custosas na Demonstração do resultado do exercício (DRE), esse efeito também provoca uma diminuição a margem das empresas. Sendo esse é um problema crônico e sem solução no curto prazo, o que dificulta ainda mais a atividade do comércio, sendo muitas vezes necessário iniciar uma busca por bons pontos espalhados pela cidade com um custo menor. Apesar de ser um recurso, muitas marcas podem perder uma parte de seu público durante essa transição, algo que nenhum investidor quer.

"Há diferentes formas para promover o aumento de vendas, como ter presença em diferentes canais de vendas, principalmente, com sua loja online. Garantindo também um atendimento de excelência para o público, ouvindo o que eles têm a dizer e dando uma atenção maior para suas sugestões. A criação de programas de fidelidade também são positivas para reverter o cenário de declínio de vendas”, recomenda Tauil.

Sobre Michel Tuil: 

Formado em Administração pela PUC-Rio, Michel Tauil é especialista no setor de Varejo, sendo o idealizador e sócio do Acelera Varejo, uma organização que conta com a participação de mais de 4 mil empresários do ramo, atualmente sendo responsável pela curadoria dos membros e de seus palestrantes da sucursal carioca, que hoje conta com 750 membros. Michel também é conselheiro de varejo da Fecomércio RJ e da ABF Rio. Além de ser embaixador da IBMEC, já palestrou em grandes eventos como a Rio Inovation Week e no Senac Summit. 

 

Por Jornal da República em 20/03/2024
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