Conheça o método de conservação que preservou o corpo do Rei Pelé por cinco dias

A ‘tanatopraxia’ conserva a matéria orgânica com o objetivo de retardar o tempo de decomposição do corpo; cerimonial e funeral foram realizados pelo grupo Bom Pastor e o craque foi sepultado na tarde de terça-feira (3), no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos.

Conheça o método de conservação que preservou o corpo do Rei Pelé por cinco dias

Rei do Futebol, Pelé (foto) morreu aos 82 anos. (Foto: Reprodução/Instagram)

Cinco dias após sua morte, o Rei do Futebol, Pelé, foi sepultado no cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, na tarde de terça-feira (3). Para manter o corpo conservado durante esse tempo, foi utilizado um método chamado tanatopraxia - já aplicado antes no corpo da Rainha Elizabeth 2º e no Papa Bento 16, morto em 31 de dezembro.


De acordo com o diretor estratégico do serviço funerário do Grupo Bom Pastor, que faz parceria com o Memorial, Nelson Pereira Neto, a técnica consiste na reparação e conservação da matéria orgânica após a morte. Isso permite que o corpo possa ser
transportado a grandes distâncias ou mesmo o prolongamento do funeral, o que dá oportunidade de familiares distantes participarem, por exemplo.

O corpo do Rei, no caso, além dos dias entre a morte e o funeral, foi velado por 24 horas, período em que recebeu o carinho de santistas e personalidades que vieram de vários lugares para se despedir.

"Este é um método pouco invasivo, que respeita a integridade do corpo, no qual é injetado um líquido a base de formaldeído em uma veia", explica. Na tanatopraxia, o profissional utiliza um equipamento que faz o líquido circular pelo corpo. Em seguida, outro aparelho é usado para aspirar uma porção do líquido e de sangue. As frações que sobram permanecem no organismo.

Além da conservação, Neto explica que a técnica visa evitar a propagação de moléstias contagiosas e doenças para a comunidade, visto que com essa preparação o corpo recebe um tratamento especial com substâncias germicidas. Apesar de ter um conceito parecido com o embalsamento, os procedimentos diferem. A tanatopraxia, por exemplo, não exige a retirada de todos os órgãos, como acontece no embalsamento.

O conceito da tanatopraxia é justamente de retardar o tempo de decomposição do corpo. O método é antigo e foi criado no século XIX, durante a Guerra da Secessão, nos EUA, com objetivo de transportar corpos de soldados mortos. Ele se aprimorou, espalhou pelo mundo e, em 1993, chegou ao Brasil.
"Alguns aspectos são considerados antes de realizar o procedimento, como peso, causa da morte e o tempo desejado de conservação. Por meio dele, conseguimos dar uma aparência de calma e sonolência ao falecido. Isso ajuda a confortar a família em seu sofrimento pela perda do ente querido, que é o principal objetivo da técnica”, aponta Neto, que também foi um dos profissionais que realizou a tanatopraxia em Pelé e fez estágios na Espanha e na Itália, na Associação Italiana de Tanatopraxia. O diretor concluiu seu programa de trabalho - estudo através do professor Dr. Javier Eduardo Chaves Inzunza, mestre em ciências
funerárias na Europa.


Segundo o diretor, após a confirmação da morte, no dia 29 de dezembro, a equipe foi até o Hospital Albert Einstein realizar o procedimento. Pelé também passou por uma necromaquiagem, que ajuda a dar uma aparência próxima de quando estava vivo. Depois, o corpo do craque foi coberto com lençóis e colocado em uma sala climatizada até a hora do
transporte, que aconteceu na segunda-feira (2).
O corpo do Rei foi transportado em limousines de padrão americano, premiadas pela revista Car and Driver e exclusivas no Brasil. Uma limousine branca, do grupo Bom Pastor, levou a urna do Memorial, em Santos, até o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde Pelé faleceu. Uma limousine preta, do Memorial, juntamente com a branca, fez o cortejo do hospital até a Vila Belmiro. Elas permaneceram no estádio durante todo o funeral e acompanharam o
cortejo junto ao carro dos bombeiros até o cemitério Memorial.


A empresa ainda disponibilizou duas Mercedes com motorista para fazer o transporte de parentes e amigos do craque até a cerimônia do funeral.

Sepultamento no Memorial

Após ser velado na Vila Belmiro, a cerimônia seguiu pelas ruas de Santos até o Memorial Necrópole Ecumênica na tarde de terça-feira (3). No local, ele foi sepultado apenas na presença da família, em um mausoléu no primeiro andar.

Pelé teve um espaço reservado no nono andar do Memorial desde 2003, com uma vista para
a Vila Belmiro. A escolha foi uma homenagem ao pai, que quando jogava, usava a camisa nove. O pai do Rei está enterrado naquele andar. No entanto, a família e o cemitério fizeram um acordo para que o craque fosse sepultado no mausoléu por uma questão de logística para o acesso ao local. No futuro, o espaço deve ser aberto ao público.


Desde o dia da morte do Rei, em 29 de dezembro, o time de floristas do Grupo Bom Pastor foi em busca da seleção de flores especiais e nobres na cor branca, orquídeas, a pedido da família.

Devido ao clima quente, entre a decoração e reposições de flores, durante o período do velório, foram preparados dois caminhões refrigerados com as flores brancas. Esse sistema de sala de flores é aplicado em países de primeiro mundo e o grupo é o único do Brasil a utilizá-lo.

O Memorial Necrópole Ecumênica é o primeiro cemitério vertical da América Latina, considerado o mais alto do mundo pelo Guinness Book, com 14 andares. Sua estrutura conta com cerca de 18 mil lóculos, ossuário, salas de velório, mausoléus, entre outros. São, ao todo, 40 mil m² de extensão - 90% desta área, reserva nativa preservada da Mata Atlântica.

Por Maicon Salles 

 

 

Por Jornal da República em 08/01/2023
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