CPI da Covid: Depoimento de Pazuello não trouxe informações que poderiam complicar Bolsonaro

CPI da Covid: Depoimento de Pazuello não trouxe informações que poderiam complicar Bolsonaro

Ao depor na CPI nos dias 19 e 20 de Maio,  o ex-ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro,  Eduardo Pazuello, não forneceu tão esperadas contradições. As respostas do general evidenciaram a falta de explicações para a atuação da gestão Bolsonaro no enfretamento à pandemia, como o incentivo a uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19 e a demora em firmar contratos para compra de vacinas. 

Um comentário ganhou destaque nos bastidores: “ele não fez prova contra ele mesmo”, e cumpriu à risca toda a orientação do Alvorada.

Pazuello disse, por exemplo, que sempre respondeu às ofertas da farmacêutica Pfizer para a venda de milhões de vacinas, muito embora outro antigo integrante do governo, o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, tenha confirmado à CPI na semana anterior a versão da empresa de que propostas feitas em agosto e setembro do ano passado foram ignoradas. Apenas em março deste ano o contrato para compra de 100 milhões de doses foi firmado.

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O ministro disse que não recebeu ordens do presidente sobre promoção da hidroxicloroquina (remédio sem eficácia contra a Covid-10), assim como afirmou jamais ter recomendado o medicamento. Um dos primeiros atos de sua gestão, porém, foi editar uma nota informativa sobre quais doses deveriam ser ministradas por médicos em casos leves e graves da doença.

Analistas da BBC News avaliaram o depoimento de Pazuello

Os dois analistas ouvidos pela BBC News Brasil consideram que Pazuello estava "bem treinado" para responder à CPI. O ex-ministro ganhou tempo para se preparar, já que seu depoimento foi adiado em duas semanas após ele alegar ter tido contado com pessoas diagnosticadas com Covid-19.

O ministro obteve um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal que lhe garantia o direito de não responder perguntas com potencial de incriminá-lo, já que a Constituição Federal prevê que ninguém é obrigada a produzir provas contra si mesmo. Apesar disso, Pazuello não se calou em qualquer momento do depoimento. 

Para Claudio Couto, da FGV, isso pegou os senadores de surpresa no primeiro dia. "Algumas intervenções foram muito boas, como as do Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e do Otto Alencar (PSD-BA), que confrontaram ele diretamente sobre a falta de base científica da sua gestão", acrescentou.

Em entrevista coletiva após o depoimento, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AM), vice-presidente da CPI, afirmou que Pazuello foi à CPI com intuito de "proteger" Bolsonaro. "Ele se utilizou do habeas corpus não para defender a ele próprio, mas sim o presidente da República. Eu o aconselhei que aqueles que estão ao lado dele nesse momento, não ficarão com ele no futuro."

O senador também afirmou que o relatório final da CPI deve recomendar que Pazuello seja investigado por homicídio. "Pelos menos esses três crimes: homicídio culposo, homicídio doloso e crime contra ordem sanitária. Ele tinha a obrigação de agir e não agiu", afirmou Rodrigues em relação ao colapso no sistema de saúde de Manaus.

Da Redação/BBC News/Imagem: Internet

Por Jornal da República em 21/05/2021
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