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Em prosseguimento dos trabalhos no Senado na quinta-feira (13/05) a CPI seguiu investigando ações e omissões do governo durante a pandemia. A declaração do executivo gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, (que era presidente da Pfizer no Brasil em 2020), de que a primeira oferta de 70 milhões de doses da vacina Pfizer/BioTech, em 14 de agosto, tinha prazo para resposta de 15 dias e que o governo de Jair Bolsonaro ignorou o prazo e a oferta expirou, trouxe repulsa dos legisladores membros da CPI
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A segunda e terceira ofertas de 70 milhões de doses foram feitas em 18 e 26 de agosto, e também não foram aceitas pelo governo, segundo Carlos Murillo. Todas as ofertas tinham cronograma de início da entrega em 2020. A terceira oferta, em 26 de agosto, previa a entrega de 1,5 milhão de doses ainda em dezembro do ano passado e mais 3 milhões no primeiro trimestre de 2021 — o resto seria entregue ao longo do ano.
Depoimento foi consistente e detalhado
Segundo o depoente Murillo, não houve atrasos até agora no cronograma de entrega da empresa — ou seja, se o governo tivesse aceito alguma das propostas, as primeiras vacinas da Pfizer teriam chegado ao Brasil ainda em dezembro de 2020 e a vacinação poderia ter sido iniciada com um pedido de aprovação da Anvisa para uso emergencial do imunizante. Foi isso que aconteceu com a Coronavac, do Instituto Butantan, contratada pelo governo de São Paulo antes da aprovação da agência.
A vacinação começou em 17 de janeiro, dia em que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) concedeu autorização de uso emergencial à Coronavac. Em fevereiro, a Anvisa deu aprovação definitiva para a vacina da Pfizer, um dos primeiros países do mundo a fazê-lo. Mas o contrato com a empresa só foi fechado em março e a primeira remessa de cerca de um milhão de doses da vacina da Pfizer/BioNTech chegou ao Brasil no final do último mês de abril.
Murillo afirmou à CPI que os outros países fecharam o contrato de compra antes da aprovação das agências regulatórias. Nos EUA, a vacinação começou em 14 de dezembro de 2020 com aprovação emergencial pela FDA, a agência regulatória americana.
Gestão Pazuello: Em novembro Murillo fez nova oferta de 70 milhões de doses
O quadro que se desenha na oitiva dos atores convidados a depor na CPI vem se traduzindo em lamentável episódio na aquisição das vacinas. Dessa vez com Carlos Murillo ao afirmar que teve apenas duas interações com o ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
A primeira, disse ele, foi em novembro, quando ele ligou ao executivo por celular se colocando à disposição para negociar — neste momento tínhamos feito uma nova oferta (além das três iniciais de agosto) de 70 milhões. A segunda foi pessoalmente no ministério da Saúde, em uma reunião em 22 de dezembro, com a equipe do ministério que estava cuidando das tratativas.
"Ele disse que as negociações estavam avançando e que precisávamos de mais doses para o Brasil. E eu afirmei nosso compromisso de buscar cada vez mais doses para o Brasil." Em nenhum dos momentos houve fechamento de compromisso de compra.
O contraditório
Entre os 11 membros da comissão, pelo menos 7 são senadores oposicionistas ou independentes e 4 são aliados ao governo ou próximos do Planalto. No decorrer da sessão, os embates entre os dois grupos foram constantes. Aliados de Bolsonaro tentaram construir a imagem de que o governo fez tudo o que poderia, mas não pode dar celeridade ao processo de negociação com a Pfizer por conta das ditas "cláusulas leoninas".
A oposição, por sua vez, tentou contrapor os argumentos com o objetivo de sinalizar que houve omissão e negligência por parte do Planalto. O senador Jorginho Mello (PL-SC) afirmou que o "Brasil teve toda boa vontade para comprar" o imunizante, mas que o país não poderia fechar o negócio antes da autorização da agência reguladora ou até que fossem sanados os impedimentos jurídicos.
Renan pressiona o depoente...
Já está visível que o relator Renan Calheiros (MDB-AL) procura desconstruir o governo de Bolsonaro. Os que focam o questionamento de forma técnica, demonstram incomodo com a postura do senador. Com Carlos Murillo não foi diferente, quando questionou sobre as falas do presidente da República contrárias à vacina, como em dezembro, quando Bolsonaro falou que quem tomasse vacina poderia "virar jacaré".
"Nós somos uma companhia baseada na ciência. Apesar dessas declarações, continuamos com nosso objetivo de tornar a vacina disponível para o público brasileiro", disse Murillo. "Eu nunca ouvi essas palavras de parte das pessoas que eu estava negociando. Elas nunca fizeram declarações assim."
Por: Roberto Monteiro Pinho/BBC News/Agência Senado/Imagens: Diário de Pernambuco e News Digital.