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Por Heloisa Villela
O bafafá que o boné dos ministros do governo Lula provocou não foi surpresa para quem lançou a ideia. Daniel Baracho profetizou, no recado enviado ao ministro Alexandre Padilha, no dia 26 de janeiro, que a ideia iria viralizar. E ela não nasceu do acaso. Foi pensada com cuidado antes de ser repassada para o ministro, via mensagem de whatsapp. A resposta foi imediata, com a garantia de que os bonés já estavam sendo confeccionados com a frase “O Brasil é dos brasileiros”.
Daniel Baracho é filho da periferia paulistana. Nasceu e passou a infância no Parque Arariba onde perdeu amigos para a violência típica “daqueles processos de periferia”, como disse ao ICL Notícias. Ele perdeu a mãe por um câncer, aos 8 anos de idade, tem outros seis irmãos e aos 15 já cuidava da própria vida. Apesar de voltar ao bairro da infância volta e meia, hoje ele mora em Moema, passou um período na Califórnia, nos Estados Unidos, é gerente de TI, e contrariou o futuro que o sistema injusto da sociedade brasileira tinha traçado para ele.
“Não sou exemplo pra ninguém, mas me deram um garfo para furar uma rocha enquanto outras pessoas tinham picaretas e outras ferramentas”, disse Daniel. Ele tem plena consciência que contrariou, na prática, a história que estava reservada para a grande maioria da população que nasce e cresce nas mesmas condições que ele enfrentou. Por isso mesmo não se conforma com as desigualdades e injustiças que o país enfrenta até hoje.
Daniel não é filiado ou militante do PT, como chegaram a dizer alguns veículos de comunicação. Mas ele sabe exatamente de que lado está na disputa política. “Sou simpatizante da esquerda. Ela tem as melhores pautas”, afirma. Elas são inclusivas, falam da dívida que o país tem com os negros, não recriminam amor algum. “Cada um faz o que quiser com a própria vida e o próprio corpo.Vamos amar! É melhor do que guerra e briga”, resume.
Daniel sugeriu ideia do boné ao ministro Alexandre Padilha. Senador Randolfe Rodrigues também usou
Sugestão do boné foi feita a Alexandre Padilha
E o ministro Alexandre Padilha? Como conseguiu se comunicar com ele?
Quando o PT e o PSOL se reuniram para apurar os votos da última eleição para a prefeitura de São Paulo, Daniel decidiu dar uma passada no local, na Liberdade. Estava chateado com a derrota de Guilherme Boulos. Chegando lá, ele avistou o ministro. Se aproximou, lamentou o resultado, e em poucos segundos os dois descobriram que frequentaram o mesmo bairro por alguns anos. “A mãe de Padilha era voluntária na paróquia do local. Dava atendimento médico aos moradores. E eu me tratava ali porque, naquela época, não tinha posto de saúde nem nada, só a paróquia mesmo”, recorda.
Estabelecida a conexão, Padilha e Daniel trocaram números de telefone lá se vão três meses. Mas agora, depois da eleição de Donald Trump, ao ver tantos políticos de direita usando o boné do presidente dos Estados Unidos, ele se irritou profundamente. Movido pela indignação, pensou em um boné bem brasileiro, com uma frase que não poderia ser contestada por um verdadeiro patriota. “Foi coisa pensada”, diz Daniel. Ele bolou duas frases que colocam, quem lê, diante de uma decisão: contra ou a favor? Para criticar, explicou, seria preciso se embananar e dizer que o Brasil não é dos brasileiros. Complica.
Na mensagem que enviou ao ministro, Daniel sugeriu duas frases diferentes. A outra era “orgulho de ser brasileiro”. A equipe do governo escolheu a que todos hoje conhecem e Padilha avisou que os bonés já estavam na cabeça dos ministros. Daniel ainda não pode usar a própria ideia na cabeça, e contou à Padilha que está difícil conseguir o boné que tomou conta das conversas no Brasil. Mas não vai demorar muito. O ministro prometeu que vai entregar um exemplar ao Daniel em breve, talvez já neste sábado (8).
O governo que fique de olho. Assim como tinha certeza do sucesso dessa ideia, Daniel tem outras tantas que quer oferecer. Adianto um exemplo: hubs de start ups nas periferias. Com o conhecimento que hoje tem na área de TI, ele garante que com um computador e um celular, muitos jovens têm toda a condição de criar aplicativos úteis para a comunidade e para o país. Fica a dica de quem bolou a frase mais falada do país essa semana. Com ou sem boné, a cabeça do Daniel é uma caixinha de boas surpresas.
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