De 'Deus, Pátria e Família' ao maquiador: contradições no discurso conservador

A escolha da ex-primeira-dama para representar o ex-presidente na posse de Trump, acompanhada por um maquiador, expõe incoerências entre o discurso religioso e as ações políticas.

De 'Deus, Pátria e Família' ao maquiador: contradições no discurso conservador

Durante as campanhas eleitorais, ouvimos insistentemente o discurso de "Deus, Pátria e Família" como o tripé moral e político do ex-presidente e sua base conservadora. Púlpitos religiosos foram transformados em palanques eleitorais, líderes influentes orientaram votos, e milhões de brasileiros foram convencidos a apoiar essa retórica em nome de valores cristãos. No entanto, as ações recentes dos protagonistas desse movimento parecem contradizer a mensagem que tanto pregaram.

Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro no aeroporto de Brasília, momento antes do embarque. Foto: divulgação 

A escolha da ex-primeira-dama para representar o ex-presidente na posse de Donald Trump, acompanhada por um maquiador, causa estranheza por vários motivos. Em um evento de tamanha relevância política e simbólica, seria mais natural que um de seus quatro filhos políticos assumisse esse papel. Afinal, todos ocupam cargos de peso: um senador, um deputado federal, e dois vereadores. Por que não priorizar figuras públicas legitimadas pelo voto popular, especialmente em um contexto que carrega implicações políticas evidentes? Isso parece destoar do discurso de "família" como pilar central da atuação pública.

Michelle Bolsonaro e seu maquiador a caminho da posse de Donald Trump. Foto: Diário do Centro do Mundo.

Além disso, chama atenção a ausência de um representante religioso ao lado da ex-primeira-dama. Se "Deus" e os valores cristãos foram colocados como guia dessa trajetória política, não seria mais coerente que ela fosse acompanhada por uma figura ligada à fé? A escolha de um maquiador, embora prática, soa dissonante em relação à imagem que eles mesmos construíram e reforçaram.

Outro ponto que merece reflexão é o uso eleitoral das igrejas e púlpitos durante as campanhas. Pastores e líderes religiosos influenciaram milhares de fiéis a votar no ex-presidente com o argumento de que ele representava princípios cristãos inegociáveis. Mas, diante dessas recentes decisões e de rumores sobre contradições em sua vida pessoal, cabe perguntar: o que dizem agora os líderes que endossaram sua candidatura em nome da fé?

Essas escolhas abrem espaço para interpretações que questionam a autenticidade do discurso conservador. Os valores cristãos e familiares foram realmente pilares dessa liderança, ou apenas uma estratégia retórica para conquistar votos?

Por fim, deixo a reflexão: e você, que votou influenciado por esses discursos, como avalia essas decisões? A coerência entre discurso e prática não deveria ser a base para confiar em qualquer liderança? É hora de debatermos se os valores que nos guiam como sociedade estão sendo defendidos com sinceridade ou usados apenas como ferramentas de manipulação eleitoral.


Por Paulo Ciro
Evangélico, Policial Militar reformado, Pedagogo, Pós-graduado em Administração Pública, Empresário.

Por Jornal da República em 19/01/2025
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