De general para general, João Lourenço fecha fronteiras para Mourão

Vice-presidente e general da reserva, Hamilton Mourão fracassa em sua tentativa de fazer lobby com o presidente de Angola, João Lourenço, também general, a favor da Igreja Universal

De general para general, João Lourenço fecha fronteiras para Mourão

 

DA REDAÇÃO - Angola foi um dos primeiros países a fechar suas fronteiras para a entrada de cidadãos provenientes do Brasil. Com apenas 969 mortos, segundo dados  (desta segunda-feira, 19) do JHU CSSE COVID-19 Data, o país da costa ocidental da África, mais uma vez voltou a impor barreiras para o Brasil.  Dessa vez, para a tentativa do vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB-RJ), de usar sua agenda pública no encontro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para fazer lobby privado para a Igreja Universal do Reino de Deus.

De concreto, a CPLP aprovou acordo de mobilidade que promete facilitar a concessão de visto e autorizações de residência e também a circulação de pessoas nos países do grupo. Já em relação às tratativas para atender o Bispo da Igreja Universal Edir Macedo, “a pedido do PR”, como o próprio Mourão se referiu, o buraco foi mais embaixo.

Segundo reportagem do Estado de S. Paulo, o presidente de Angola, João Lourenço, general que lutou na Guerra de Libertação contra Portugal, rejeitou receber uma delegação de parlamentares brasileiros para defender os interesses da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). A instituição foi expulsa do país africano sob denúncia de ter cometido crimes como lavagem de dinheiro.

A missão seria liderada pelo deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da Universal. Ainda segundo a reportagem do Estadão, Bolsonaro escalou o general Mourão para tentar resolver a crise financeira do empresário da fé Edir Macedo: intervir diretamente na gestão da crise da Igreja com o governo angolano. O governo brasileiro tem sido cobrado pela Universal e pela bancada evangélica para se engajar na defesa da instituição no país africano.

Mourão confirmou ter conversado com Lourenço sobre o assunto a pedido do presidente brasileiro. “Por orientação do PR (presidente da República), conversei com o presidente angolano”, afirmou. “A diplomacia está buscando uma forma de fazer com que as partes se entendam.”

Durante sua estadia em Angola, ele também havia declarado, em entrevista à Agência Lusa: “O governo brasileiro gostaria que se chegasse a um consenso entre essas duas partes e que aqui o Estado angolano recebesse a delegação parlamentar brasileira que quer vir aqui para tentar chegar a um acordo e a um ponto em que se arrefeça as diferenças que ocorreram”.

O resultado do encontro, no entanto, não foi o esperado. Segundo informou a Folha de S.Paulo, de acordo com interlocutores, foram dois os pedidos de Mourão a Lourenço sobre a Universal: que o governo angolano garantisse um tratamento justo à igreja nos processos judiciais que correm contra a denominação no país e que o presidente de Angola recebesse uma missão de parlamentares evangélicos. Mas o mandatário africano fechou as portas - ao menos no curto prazo.

Interlocutores avaliam também que “a irritação de Lourenço com a Universal hoje é praticamente irreversível.”

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) anunciou nesta terça-feira, 20, que vai entrar com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) e na Procuradoria da República no Distrito Federal para apurar possível crime de improbidade administrativa na viagem do vice-presidente Hamilton Mourão. 

Fontes angolanas ouvidas por essa Tribuna garantiram que o encontro não teve a menor repercussão no país africano, que apoia integralmente a expulsão dos membros brasileiros da Universal que são acusados, além de além de lavagem de dinheiro e charlatanismo, de serem racistas.

Sinal dos tempos de um país que já teve Antonio Houaiss à frente da Comunidade dos países de Língua Portuguesa.

 

Por Jornal da República em 20/07/2021
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