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Centenário da Assembleia de Deus Recebe Quase R$ 1 Milhão, Após Marcha Para Jesus Ter Sido Contemplada com R$ 1,5 Milhão
Em um país onde o estado é oficialmente laico, a influência religiosa na política tem se mostrado cada vez mais evidente. Como diria o saudoso jornalista Roberto Marinho, fundador do Grupo Globo, "a liberdade de imprensa e a liberdade religiosa são pilares fundamentais da democracia". Mas o que fazer quando essas liberdades se confundem com interesses eleitorais?
A Prefeitura do Rio de Janeiro, comandada por Eduardo Paes, tem sido alvo de questionamentos após destinar verbas significativas para eventos evangélicos em pleno ano eleitoral. Depois de patrocinar a Marcha para Jesus com R$ 1,5 milhão, agora a gestão municipal está destinando R$ 950 mil para o "projeto Centenário da Assembleia de Deus no Rio de Janeiro".
A vereadora Teresa Berguer (PSDB) já solicitou acesso ao processo para entender o plano de trabalho do patrocínio. Afinal, como dizia o escritor Millôr Fernandes, "a única coisa que separa a Igreja do Estado é a quantidade de dinheiro que cada um tem".
O Brasil é o país mais “crente” do mundo?
Quase nove em cada dez brasileiros dizem acreditar em Deus, segundo a pesquisa Global Religion 2023, produzida pelo Instituto Ipsos.
Eles eram minoria, mas podem ser maioria nos próximos anos. Nas últimas três décadas, o número de evangélicos cresceu rapidamente no Brasil, país onde a espiritualidade tem um papel preponderante na sociedade.
Uma faceta desta expansão do protestantismo no Brasil é a multiplicação de templos, como mostra uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM/Cepid) da Universidade de São Paulo (USP).
De 17.033 templos evangélicos, em 1990, o Brasil passou a contar com 109.560, em 2019. Um aumento de 543%.
Apenas em 2019, último ano do levantamento, 6.356 templos evangélicos foram abertos no Brasil — uma média de 17 por dia.
Eduardo Paes aposta em Votos Evangélicos com patrocínios polêmicos em Ano Eleitoral
Em 2020, por exemplo, uma pesquisa do Datafolha indicou que 31% da população brasileira se declarava evangélica — um crescimento que tornou este segmento central na política nacional.
Como o total de membros da Casa é 513, a Maioria deve possuir 257 Deputados. A Frente Parlamentar Evangélica, com 203 deputados e 26 senadores, ou seja, representa mais de 31% da população brasileira, declarada evangélica e é uma das principais alas conservadoras no Congresso Nacional, ao lado da bancada da bala.
Sua representação desproporcional em relação ao número de evangélicos no Brasil levanta a questão: será que evangélico vota apenas em evangélico, ou consegue angariar votos até mesmo de quem não compartilha da mesma fé?
Em um momento em que a laicidade do estado é posta em xeque, cabe lembrar as palavras do líder indiano Mahatma Gandhi: "a religião é um assunto pessoal. O estado não tem religião".
Resta saber se os representantes eleitos pelo povo estão dispostos a seguir esse preceito ou se sucumbirão à tentação de misturar fé e política em busca de votos.
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