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Queridas companheiras e queridos companheiros, queridos ministros e queridas ministras que estão aqui presentes, queridos companheiros representando o movimento social brasileiro e estrangeiros que estão aqui presentes, eu vou pedir desculpas aos companheiros porque eu não vou precisar utilizar a nominata. Janja, você pode vir aqui me ajudar com essa papelada.
Eu, cumprimentando a minha companheira Janja, eu estarei cumprimentando todas as mulheres aqui presentes, e cumprimentando o companheiro Márcio Macêdo, eu estarei cumprimentando todos os ministros e todos os homens aqui presentes
Eu estou preparado hoje para falar apenas 5 minutos, porque vocês sabem, eu tenho seis discursos para fazer até terça-feira e cada discurso não pode ser mais que 5 minutos. Isso é importante a gente aprender: os presidentes que viajaram do mundo inteiro para vir aqui, eles só podem falar 5 minutos e, quando eu viajo para fora, às vezes uma viagem de 24 horas, também a gente só pode falar 5 minutos. E isso faz com que a gente aprenda a ter mais dificuldade para fazer o discurso, e eu passei a tarde de ontem com um grupo de assessores discutindo cada discurso, porque a gente tem menos palavras e, portanto, elas têm que ser mais preciosas, mais estudadas, e mais delicadas para a gente fazer o discurso.
Eu só queria, antes de fazer o meu discurso escrito que está aqui, dizer para vocês que não é fácil a gente trabalhar para engajar a sociedade em participar em determinadas atividades oficiais de governo.
Todo mundo se lembra que, quando eu estava na presidência, no outro mandato, que a gente fazia a reunião do Mercosul, o movimento social e o movimento sindical, no final de cada reunião, apresentava para os presidentes da América do Sul e do Mercosul as reivindicações deles e a gente ouvia eles fazerem seu discurso. E depois, isso acabou, porque depende muito da vontade de cada presidente.
E eu participei do primeiro G20 em 2008, por conta da crise do subprime, aquela crise que aconteceu sobretudo nos Estados Unidos, onde os americanos perderam 10 milhões de casas. Vocês se lembram. Eu participei da primeira vez, participei da segunda vez, em Londres, e na última vez eu já levei a Dilma [Rousseff, ex-presidenta do Brasil e atual presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento] porque ela tinha sido eleita presidente, na Coreia. Depois, eu votei 14 anos depois, e estou participando agora no Brasil.
Eu já participei na África do Sul. Não, eu participei na China e na Índia. Bem, eu só poderia inventar o foro social do G20 aqui no Brasil, eu não poderia dar palpite para que outro presidente fizesse no seu mandato. E eu fiquei imaginando como é que a gente ia fazer para que a sociedade, em todos os países do mundo, pudesse assumir o trabalho de reforçar para que as coisas acontecessem de verdade para o povo, com o povo ajudando a decidir.
Eu convidei o presidente [Cyril] Ramaphosa, da África do Sul, liguei pessoalmente para ele. Ele me disse que viria, depois ele ligou dizendo que, por motivos pessoais e motivos políticos na África do Sul, ele não poderia vir e ele mandou o seu ministro das Relações Exteriores. E eu tenho certeza que o presidente Ramaphosa vai fazer um foro social do G20 na África do Sul, e eu espero estar presente para participar do social e participar do G20 oficial.
O que é importante é que este é um momento histórico para mim e um momento histórico para o G20.
Ao longo deste ano, o grupo ganhou um terceiro pilar, que se somou aos pilares político e financeiro: o pilar social, construído por vocês.
Aqui tomam forma a expressão e a vontade coletiva, motivadas pela busca de um mundo mais democrático, mais justo e mais diverso.
De forma inédita, os grupos de engajamento puderam interagir com os chanceleres e com os ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais das maiores economias do planeta Terra.
Tive a satisfação de dialogar pessoalmente com os representantes de cada grupo.
Nos últimos dias, pela primeira vez na trajetória do G20, a sociedade civil de várias partes do mundo, em suas mais diversas formas de organização, se reuniu para formular e apresentar suas demandas à Cúpula de Líderes.
Nos dezesseis anos desde a primeira Cúpula, o G20 se consolidou como o principal fórum de cooperação econômica mundial e como importante espaço de concertação política.
Mas a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas.
Elas não estão só nos escritórios da Bolsa de Nova York ou na Bolsa de São Paulo, nem só nos gabinetes de Washington, Pequim, Bruxelas ou Brasília.
Elas fazem parte do dia a dia de cada um de nós, alargando ou estreitando as nossas possibilidades.
Os membros do G20 têm o poder e a responsabilidade de fazer a diferença para muita gente.
Para as mulheres, ao fomentarem o empreendedorismo e a autonomia econômica feminina, como fez o Grupo de Trabalho sobre Empoderamento.
Para os povos tradicionais e indígenas, ao promoverem os produtos da biodiversidade, como fez a Iniciativa sobre a Bioeconomia.
Para os afrodescendentes, ao adotarem o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 18 sobre igualdade racial, como fez o Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento.
Para o planeta, ao incentivarem a ambição climática em linha com o objetivo de limitar o aquecimento global a um grau e meio, como fez a Força Tarefa do Clima.
Nada disso teria sido possível sem a contribuição de todos vocês que estão aqui hoje.
A presidência brasileira não teria avançado nas três prioridades que escolheu se não fosse a participação decisiva das organizações e movimentos que integram o G20 Social.
A mobilização permanente de vocês será fundamental:
• para impulsionar os trabalhos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e avançar na tributação dos super-ricos;
• para garantir o cumprimento das metas de triplicar o uso de energias renováveis e antecipar a neutralidade de emissões;
• e para levar adiante nosso Chamado à Ação pela Reforma da Governança Global, assegurando instituições multilaterais mais representativas.
A presidência brasileira do G20 deixará um legado robusto de realizações, mas ainda há muito por fazer para melhorar a vida das pessoas.
Para chegar ao coração dos cidadãos comuns, os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a “voz dos mercados” e a “voz das ruas”.
O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias.
O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas.
Precisa ouvir a juventude, que enfrentará as consequências das tarefas que deixarmos inacabadas.
Precisa preservar o espaço público, para que o extremismo não gere retrocessos nem ameace direitos.
Precisa se comprometer com a paz, para que rivalidades geopolíticas e conflitos não nos desviem do caminho do desenvolvimento sustentável.
Vou levar as recomendações contidas na declaração final que vocês me entregaram aos demais líderes do G20 e trabalhar com a África do Sul para que elas sejam consideradas nas discussões do grupo.
Espero que esse pilar social do G20 continue nos próximos anos, abrindo cada vez mais nossas discussões para o engajamento da cidadania.
Essa cerimônia de encerramento marca o começo de uma nova etapa, que exigirá um trabalho contínuo durante os 365 dias do ano e não só às vésperas das reuniões de líderes.
Também conto com a força de vontade e o dinamismo da sociedade civil para dois outros eventos que o Brasil sediará no próximo ano: a Cúpula do BRICS e a COP30.
Nós vamos seguir construindo, juntos, um mundo justo e um planeta sustentável.
Mas eu não posso terminar sem fazer o meu discursinho de improviso para dar um recado para vocês. O recado é curto e simples: aqui todo mundo teve experiência de participação do fórum social mundial.
Eu participei do primeiro como presidente da República e participei do segundo, e o fórum social mundial teve um problema. É que a gente juntava muita gente do mundo inteiro, a gente fazia muita discussão, mas a gente voltava para casa sem saber o que fazer no dia seguinte. E a gente só ia ser chamado para participar de outro fórum social no ano seguinte.
E a gente discutia, era muita discussão, era muito caderno, era muito panfleto, e a gente ia embora sem saber o que fazer no dia seguinte. Até que isso cansou e as pessoas resolveram começar a parar de participar.
Esse Fórum Social do G20 não pode parar aqui. Vocês não estão fazendo o encerramento do fórum social. Vocês estão fazendo a abertura de uma luta que vocês vão ter que dar sequência durante 365 dias por ano.
Isso aqui é apenas o começo. Não espere a África do Sul para a gente fazer uma nova reunião. Isso aqui, os temas que nós colocamos, são três temas muito importantes.
Quando eu saí da Polícia Federal, a primeira coisa que eu fiz foi procurar o Papa Francisco e o Conselho Mundial da Igreja porque eu queria fazer um documento sobre a indignação da sociedade sobre as mazelas da sociedade.
Vocês sabem que nós temos em cada país uma quantidade enorme de pessoas que são tratadas como se fossem invisíveis. São as pessoas que os governantes não querem enxergar, são as pessoas que aparecem nas estatísticas, todo mundo sabe que elas existem, mas elas são desprezadas no orçamento das prefeituras elas, são desprezadas no orçamento do Estado, e elas são desprezadas no orçamento da União.
E quem sabe que vocês não são invisíveis são vocês. E é por isso que nós colocamos esses três temas na ordem do dia. O primeiro, a luta contra a desigualdade, a fome e a pobreza. E não é apenas alguma desigualdade. É desigualdade racial, é desigualdade de gênero, é desigualdade de comida, é desigualdade na saúde, é desigualdade na educação, é desigualdade nos bairros que a gente mora, é desigualdade na casa que a gente usa, é desigualdade no acesso à água, é desigualdade em quase tudo que a gente faz o dia inteiro.
E é por isso que a gente colocou, porque a gente não tem que esperar o Ramaphosa convocar o G20 para que a gente faça o encontro lá não. O G20 tem que acontecer todo santo dia no nosso dia a dia, porque são setecentos e trinta e três milhões de pessoas que vão dormir toda noite sem ter o que comer.
O mundo gastou no último ano dois trilhões e quatrocentos bilhões de dólares em armamento, e não gastou quase nada para dar comida para as pessoas que precisam tomar café de manhã, almoçar e jantar.
Nós tivemos, nesses últimos anos, mais conflitos, é o período de maior conflito desde a segunda guerra mundial. E só há uma possibilidade de evitar os conflitos: é a gente dar importância ao Conselho de Segurança da ONU e a gente ter mais representatividade.
Quando a ONU foi criada, só tinha cinquenta e seis países participando, e hoje são cento e noventa e seis países. E eu fico me perguntando aonde é que está o continente africano na ONU, aonde é que está o continente latino-americano, aonde é que está grande parte dos países asiáticos, onde é que está os países importantes.
Só o Egito, são cento e seis milhões de habitantes, a Etiópia, cento e vinte e seis milhões de habitantes, a Argélia, duzentos e dezesseis milhões de habitantes, mais a África do Sul, mais o Brasil, duzentos milhões de habitantes, mais o México, mais de cem milhões de habitantes, mais a Alemanha, mais a Índia. Onde que esses países estão que eles não participam do Conselho de Segurança Nacional para tomar decisões coletivas e ajudar a gente a implantar as coisas que temos que implantar?
É por isso que nós temos que ter claro que essa luta é a luta do dia a dia. A questão do clima não é mais uma questão da Marina Silva, do Meio Ambiente, não é mais uma questão dos estudantes da USP.
A questão climática é uma questão que a gente está vendo acontecer no nosso quintal, na nossa rua, no nosso bairro. Esses dias eu vi neve na Arábia Saudita. Esses dias eu fui ao Pantanal e vi outro deserto. E esses dias a gente viu a enchente do Rio Grande do Sul. A gente viu o que está acontecendo em Valência, agora na Espanha, a gente viu o que aconteceu na Alemanha, na Itália.
O clima está mudando e se tem um responsável, se chama ser humano. Nós somos responsáveis com a única casa que a gente tem que é o planeta Terra. Então essa luta que a gente tem que fazer é uma luta do dia a dia nosso.
É importante, companheiro Márcio, eu sou muito agradecido pelo sucesso do G20, mas é preciso ter uma programação. O que é que a gente vai fazer no mês de janeiro, o que é que a gente vai fazer no mês de fevereiro, o que é que a gente vai fazer no mês de março, no mês de maio.
Nós precisamos programar para que a gente possa começar a transformar em política as coisas que a gente acerta. Eu dizia que a gente só ia acabar com a fome o dia que a gente transformasse a fome num assunto político. Enquanto ela for apenas um assunto social, ela não será tratada com respeito.
É preciso a gente assumir responsabilidade e é isso que eu vou tentar fazer ao entregar esse documento para os países que estão aí. É verdade que os países que estão aí representam 85% do PIB mundial, representam quase 80% do comércio e representam praticamente quase dois terços da população mundial.
Então a gente pode fazer a diferença, mas se a gente enquanto dirigente não assumir vocês é que tem que fazer a diferença. Gritem, protestem, reivindiquem porque senão as coisas não acontecem
E aqui eu quero terminar, companheiro Eduardo Paes. Eu não sei se o G20, se o BRIC vai ser feito aqui. Agora isso vai depender da avaliação que vocês fizerem. Se o Rio de Janeiro tratou vocês bem, se vocês comeram bem, se vocês dormiram bem, se vocês estão satisfeitos, porque nós temos dois eventos importantes para marcar a nossa história. Nós temos os BRICS, que vai ser aqui no Brasil, e nós vamos ter a COP30 no estado do Pará.
Ou seja, todo mundo no mundo inteiro fala da Amazônia. Você vai na Alemanha, fala da Amazônia, você vai na África do Sul, fala da Amazônia, você vai nos Estados Unidos, fala da Amazônia, você vai na Argentina, fala da Amazônia, você vai no México, fala da Amazônia. Agora chegou a hora da Amazônia falar para o mundo o que é que nós queremos.
As pessoas têm que saber que embaixo de cada copa de árvore tem um ser humano, tem um pescador, tem um seringueiro, tem um indígena, tem um pequeno trabalhador rural, tem um extrativista, e as pessoas têm que saber. Para que a gente possa proteger a nossa floresta, esse povo tem que comer, e para ele comer, os países ricos têm que ajudar a financiar a proteção da nossa floresta, para que a gente possa cuidar com dignidade dela e cuidar do nosso povo.
Por isso, companheiros e companheiras, meus agradecimentos. Mas eu quero que vocês, ao saírem daqui, vocês saiam dizendo: não foi o fórum social aquela assembleia que o Lula participou, aquele documento que o Lula recebeu… Ah, peraí, eu vou falar ainda. Esse aqui, o documento que vocês me entregaram não é o fim de um processo, é o começo de um processo, e hoje eu tenho um segundo discurso que eu vou fazer no show, também, o festival Aliança Global. Se vocês estiverem aí e forem lá, eu posso até cantar um pouco para vocês.
Mas o que é importante é que a gente tem que envolver o movimento social, tem que envolver artistas, tem que envolver empresários, tem que envolver catadores de papel, tem que envolver papeleiros, ou seja, nós temos que envolver o mundo porque a gente pode mudar se a gente tiver vontade.
Por isso, companheiros e companheiras, muito obrigado. De coração, Márcio, obrigado pelo trabalho. Quero agradecer a todas as pessoas que ajudaram você a fazer isso, mas quero agradecer sobretudo ao povo brasileiro pela generosidade, pela bondade e pela vontade da gente mudar a história do Brasil e a história do planeta Terra.
Um abraço, felicidade para vocês e até a noite, no show da Cúpula Global contra a miséria e a pobreza.
Um beijo no coração.
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