Ditadura Militar proibia imprensa de mostrar fome no país

A Ditadura Militar no Brasil proibia a imprensa de usar a palavra “fome” e mostrar as pessoas, incluindo crianças que morriam por falta de alimentação no país.

Ditadura Militar proibia imprensa de mostrar fome no país

A Ditadura Militar no Brasil proibia a imprensa de usar palavra “fome” e mostrar as pessoas, incluindo crianças, que morriam por falta de alimentação no país. No final dos anos 1970 e início dos 1980, o sertão nordestino enfrentou o auge da maior seca do século 20. Em cerca de cinco anos, 3.5 milhões de pessoas morreram de fome e enfermidades ligadas à desnutrição; sendo que a maioria das vítimas eram crianças.

O drama começou em 1979, com o início de uma longa estiagem. A crise se agravou ano após ano. Em 1983, o cenário já afetava 10 milhões de flagelados da seca, o que representava mais de um terço da população do Nordeste, apontam dados da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

“Foi uma época muito difícil. Era um período em que o Nordeste era recordista mundial de mortalidade infantil nos longos períodos de seca. Era terrível naquela época”, recorda o jornalista Francisco José.

“Hoje ainda existe a seca, mas já não morre mais as pessoas. Morre ainda os animais por falta de água. Naquela época morriam os animais e morriam as pessoas. Principalmente as crianças recém-nascidas, que eram enterradas ainda sem nome, sem identidade”, explica.

Chico recorda que muitas delas nasciam mortas ou padeciam pouco tempo depois de virem ao mundo. “Eram levadas para ser enterradas na área rural, perto da casa se abria uma cova rasa.”

“Eu lembro que eu entrevistei um senhor e ele estava enterrando o terceiro neto. E as palavras dele foram: ‘Esse é o terceiro anjinho que eu estou enterrando aqui’. Quer dizer, os anjos da seca”, recorda.

O regime da Ditadura Militar do Brasil proibia a imprensa brasileira de mostrar a dor da fome no país. Chico Francisco relembra que, na época, os agentes responsáveis pela censura ficavam na redação e que também havia palavras que não podiam ser ditas em suas reportagens. “A gente sabia que uma das palavras proibidas era fome”.

Contratado da Rede Globo por mais de quatro décadas, onde fez reportagens para o Jornal Nacional e em mais de 100 edições do Globo Repórter, Chico José aponta que o cenário do sertão nordestino é totalmente diferente nos dias atuais.

A ditadura atingiu o auge de sua popularidade na década de 1970, com o “milagre econômico”, no mesmo momento em que o regime censurava todos os meios de comunicação do país e torturava e exilava dissidentes. Na década de 1980, assim como outros regimes militares latino-americanos, a ditadura brasileira entrou em decadência quando o governo não conseguiu mais estimular a economia, controlar a inflação crônica e os níveis crescentes de concentração de renda e pobreza provenientes de seu projeto econômico, o que deu impulso ao movimento pró-democracia.

O regime acabou quando José Sarney assumiu a presidência, o que deu início ao período conhecido como Nova República.

Fonte Observatório do Terceiro Setor 

Por Jornal da República em 25/09/2023
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