É HORA DE DEIXAR A MONOCULTURA EXTRATIVISTA PARA TRÁS - Por Luciano Martins

É HORA DE DEIXAR A MONOCULTURA EXTRATIVISTA PARA TRÁS - Por Luciano Martins

  Quem já teve a oportunidade de conhecer as propostas de Roberto Mangabeira Unger sobre a economia se depara com uma defesa incisiva da necessidade de uma transformação radical no país. Para o renomado Professor da Universidade de Harvard, o Brasil atravessa um momento crucial, onde as soluções tradicionais se revelam não apenas ineficazes, mas ultrapassadas. Segundo Unger, para que o Brasil alcance o desenvolvimento pleno e se posicione de maneira relevante no cenário global, é imperativo abandonar a lógica arcaica de exportação de “natureza bruta por inteligência” e construir uma economia que não só extraia recursos, mas também produza e distribua conhecimento.

 

A primeira impressão sobre os ideais do filósofo e teórico social brasileiro pode parecer utópica, quase uma catarse solipsista, mas, na realidade, não o é. Sua proposta é plenamente viável, embora a longo prazo, centrada em três eixos fundamentais: a economia, a educação e a segurança pública. A situação da economia brasileira é preocupante: o país ainda depende de um modelo extrativista, no qual exporta commodities como soja, minério de ferro e petróleo em sua forma bruta, gerando pouco valor agregado. Para romper com essa dependência, é essencial reconfigurar nosso papel no mercado global. O Brasil não pode permanecer apenas como fornecedor de recursos naturais. Seu verdadeiro potencial reside não só em suas vastas riquezas naturais, mas também na capacidade de inovar e gerar conhecimento. Ao impulsionar uma economia diversificada, podemos criar um ambiente mais competitivo, sustentável e, sobretudo, mais próspero.

 

Entretanto, a mudança necessária não pode se limitar ao campo econômico. O sistema educacional brasileiro, tal como é estruturado atualmente, não responde às exigências de um mundo em constante transformação. O Brasil precisa de uma revolução educacional que ultrapasse a visão tradicional do ensino técnico e formativo. Devemos capacitar nossos cidadãos a pensar de maneira crítica, ser criativos e desenvolver soluções inovadoras que impulsionem o país para o futuro. O ponto de inflexão estará nas salas de aula, onde devemos cultivar uma mentalidade empreendedora, capaz de projetar um Brasil mais avançado.

 

Integrar a educação à inovação tecnológica será decisivo. Para que o Brasil se insira de maneira efetiva no cenário global, é fundamental criar um ambiente onde pesquisa científica, tecnologia e educação se complementem, formando um ciclo virtuoso de inovação. O desenvolvimento de habilidades do século XXI, com foco em conhecimento, criatividade e adaptação, será o alicerce para um Brasil mais competitivo e apto a enfrentar os desafios globais. A falta dessa transformação educacional condena o país a permanecer preso em um ciclo de subdesenvolvimento e desigualdade.

 

No entanto, para que essa revolução seja plena, não podemos negligenciar a questão da segurança pública. A violência e o avanço do crime organizado são reflexos de uma falência estrutural do Estado em garantir os direitos fundamentais à população. O crime não é um fenômeno isolado, mas sim um reflexo direto da ausência de políticas públicas eficazes, especialmente nas áreas de educação e geração de empregos. Onde o Estado falha, o crime preenche o vácuo, exacerbando as desigualdades sociais. O combate ao crime organizado deve, portanto, fazer parte de uma estratégia mais ampla que aborde suas causas, e não apenas suas consequências.

 

A segurança pública no Brasil precisa ser abordada de forma mais integrada e multidisciplinar. O enfrentamento ao crime não deve se resumir à repressão policial, mas envolver uma abordagem coordenada que contemple educação, saúde, emprego e segurança. Só assim poderemos criar uma rede de proteção social que não apenas enfrente a violência, mas elimine suas raízes. Isso exigirá investimentos substanciais em educação e políticas sociais, buscando uma verdadeira transformação que fortaleça as instituições e construa uma sociedade mais justa e igualitária.

 

Em última análise, a convergência entre esses três pilares — economia, educação e segurança pública — não é apenas uma possibilidade, mas uma necessidade urgente. O Brasil não pode continuar a se contentar com os resultados de um modelo ultrapassado, que limita seu crescimento e perpetua a desigualdade social. A revolução necessária exigirá coragem, mas é absolutamente vital para o futuro do país. Para ultrapassar as limitações impostas pelo passado, precisamos de um compromisso radical com a transformação de nossas instituições e políticas. O Professor tem razão.

 

Luciano Martins é advogado, assessor legislativo e vice-presidente da União Brasileira de Apoio aos Municípios (UBAM) no Estado de Mato Grosso do Sul. Atuou como secretário-adjunto de Governo, controlador-adjunto e diretor-presidente da Fundação Social do Trabalho no Município de Campo Grande (Funsat).

Por Gestão, Governança e Empreendedorismo em 21/01/2025
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