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Quase 20 milhões de brasileiros passam fome. Eles declaram passar mais de 24 horas sem ter o que comer em alguns dias. 24,5 milhões não têm certeza se conseguirão se alimentar no dia a dia ou já reduziram a quantidade e qualidade do que comem. Outros 74 milhões estão inseguros com a possibilidade de passar fome.
Os dados são de levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). A pesquisa ainda mostra que mais da metade da população (55%) sofria de algum tipo de insegurança alimentar em dezembro de 2020. O estudo foi feito em 1.662 domicílios urbanos e 518 rurais, segundo a Folha.
Desde 2014, segundo a FGV Social, o rendimento domiciliar real per capita do trabalho diminuiu de R$ 249 mensais para R$ 172, em média, na metade mais pobre do Brasil.
De acordo com Daniel Balaban, do United Nations World Food Programme (programa mundial de alimentos da ONU), ao contrário de muitos países africanos, o Brasil não implementou mudanças em sua estrutura tributária. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, a carga de impostos sobre alimentos no Brasil equivale a 22,5%, ante 6,5% na média mundial.
"A tributação sobre o consumo é uma das mais injustas, porque os pobres consomem toda a sua renda no dia a dia. Temos que modificar isso, para que os mais ricos contribuam mais via Imposto de Renda", disse Balaban. "Quando defendemos isso, não queremos que todos sejam iguais, mas que ninguém morra de fome", complementou.
Pesquisa Datafolha para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor mostra também que brasileiros têm comido mais alimentos ultraprocessados e baratos. Entre os que mais consumiram este tipo de alimento estão os adultos na faixa dos 45 aos 55 ano, que passaram de 9% a 16%.
Norte e Nordeste sofrem com a fome
No Norte e no Nordeste, a fome, classificada como insegurança grave, afeta respectivamente 18% e 14% dos domicílios. No Centro-Oeste, que concentra a produção do agronegócio, mais de um terço das famílias sofre insegurança leve.
A pesquisa foi feite antes da inflação acumulada nos últimos meses. Em setembro, o IPCA para alimentos teve aumento de 64%.
Aumento de favelas
Uma estimativa do IBGE apontou que o total de "aglomerados subnormais” (favelas, palafitas, etc.) aumentou de 6.329 em 323 municípios para 13.151 em 734 cidades de 2010 a 2019.
Caracterizadas por padrão urbanístico irregular e falta de saneamento básico, a quantidade de moradias nessas condições subiu de 3,2 milhões para 5,1 milhões no período.
Os dados de 2010 são do Censo e os de 2019 foram estimados pelo próprio IBGE com o objetivo de subsidiar a operação do próximo Censo, em 2022, e distribuir o trabalho aos recenseadores.
Segundo essas projeções, um de cada quatro desses domicílios precários fica nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro; mas a proporção é bem maior em capitais como Belém (55,5% do total de residências), Manaus (53%) e Salvador (42%).
"O Brasil está se tornando um país margeado por favelas. O que não podemos é chegar numa situação de não reversão, embora isso não esteja distante", afirma Edu Lyra, ex-favelado e fundador do Instituto Gerando Falcões, ONG voltada à promoção social de crianças e adolescentes. (Do DCM e Brasil247)
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