Em Maricá, bolsas concedidas pelo ICTIM são escândalo público

Uma verdadeira farra nas bolsas concedidas pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) vem sendo exposta pelo vereador Ricardinho Netuno (PL). O parlamentar, esta semana, publicou em suas redes sociais que o atual secretário de Saúde, Marcelo Velho, é agora também mais um bolsista do ICTIM.

Além de seu salário de secretário no valor de R$ 27.093,67, o médico, que é alvo da Operação Salus da Polícia Federal (investiga R$ 71 milhões desviados da Saúde), foi contemplado com uma bolsa de R$ 120 mil no ICTIM. Conforme publicado no Jornal Oficial de Maricá (JOM) 1722, de 11 de abril de 2025, trata-se do projeto de "aplicação intralesional do fator de crescimento epidérmico (Heberprot) em úlceras crônicas de pé diabético".

A pergunta que não quer calar: se o tema é saúde, precisaria mesmo um secretário municipal ganhar uma bolsa de outra instituição da mesma esfera pública? 

Mas para além do gestor já conhecido, o que o mesmo JOM traz é outro "amigo do Rei". Trata-se de Daniel Alvão de Carvalho Junior, que é, digamos, um "velho amigo" (como o próprio relata em uma postagem na rede social) de Celso Pansera, ex-presidente do ICTIM e atual presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). No valor de R$ 60 mil, a bolsa em em questão, cuja validade é de 12 meses, foi assinada pelo atual presidente do ICTIM, Cláudio de Souza Gimenez, indicado por Celso Pansera.

O Última Hora Online constatou, via Portal da Transparência, que Daniel Alvão foi secretário parlamentar (SP22), de 15 de maio de 2015 a 4 de outubro de 2015, no gabinete do então deputado federal Celso Pansera. Quando este tornou-se ministro de Ciência e Tecnologia, Daniel, que mora em Brasília, então logo virou assessor especial do MCTI. De volta à Câmara Federal, Pansera retornou com o fiel escudeiro, que lá ficou como SP24 de 22 de novembro de 2016 a 31 de janeiro de 2019.

Em vigência desde 8 de abril de 2025, a atual bolsa não é a pioneira. Daniel Alvão já havia sido contemplado outras vezes no próprio ICTIM. Curiosamente, a primeira delas foi justamente quando Celso Pansera era o presidente da instituição, conforme traz o JOM 1340, de 1 de agosto de 2022. Ao bolsista amigo do Rei, R$ 60 mil, por 12 meses, para participar do projeto "impacto da pandemia na oferta e qualificação profissional dos postos de trabalho no município de Maricá". 

No ano seguinte, o então presidente do ICTIM, Carlos Alberto de Senna Costa, também indicado por Pansera, concedeu outra bolsa de R$ 60 mil, por 12 meses, a Daniel Alvão. O objeto, segundo o JOM 1506, de 29 de setembro de 2023, passou a ser "aplicação intralesional do fator de crescimento epidérmico (Heberprot) em úlceras crônicas de pé diabético/ensaio clínico".

Daniel Alvão é realmente multifacetado, que vai de pandemia de Covid-19 a pé diabético... Parabéns!

*Influência de Celso Pansera em Maricá já beneficiou até sua esposa*

Generosidade é o segundo sobrenome Celso Pansera, principalmente com os seus amigos e até familiares. Uma das mais graves denúncias trazidas recentemente pelo vereador Ricardinho Netuno, sem dúvidas, é sobre a atual esposa do petista, Mônica Levy Andersen.

De acordo com a denúncia, o Termo de Contrato de Dispensa n° 12/2023, por encomenda tecnológica n° 0020815/2022, entre o ICTIM, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Coppetec, que soma quase R$ 3 milhões, foi construído de maneira sutil para embutir o nome da esposa de Pansera.

Embora tenha sido assinado em 18 de dezembro de 2023, na gestão do atual presidente do ICTIM, Cláudio de Souza Gimenez, o desenrolar do contrato começou muito antes, quando Celso Pansera ainda estava no comando da autarquia. 

No cronograma de desembolso, o aporte total de R$ 2.903.369,90. Desses, R$ 433.368,90 foram destinados à Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (AFIP), instituição mantenedora do Instituto do Sono (IS). Em seu currículo Lattes, Mônica Andersen afirma seu vínculo empregatício com a AFIP desde 2017 até a atualidade, assim como é diretora de Ensino e Pesquisa do IS.

*E a ex também teve seu quinhão de benefício*

Mas não foi só a atual de Pansera a beneficiada. Graças ao convênio de R$ 3,9 milhões que pagou para a UFRJ, assinado em 2022, quando presidiu o ICTIM, a ex-esposa e mãe de seu filho Diogo, Márcia Cristina Santana de Souza, garantiu (sem esforço) sua vaga no Doutorado, com bolsa integral. Além disso, ela também é a atual diretora administrativa do ICTIM.

O marido dela, Francisco Adão de Paula Andrade, que gerencia um projeto do ICTIM, a Incubadora de Inovação Social em Tecnologias, também conquistou uma vaguinha no Doutorado. Acompanham o coleguinha, o atual presidente do ICTIM, Cláudio de Souza Gimenez, e o diretor de tecnologia, Márcio Francisco Campos.

Já no Mestrado da Federal, o próprio Celso Pansera. Ele e todos os demais estão, coincidentemente, estudando no Programa de Engenharia de Produção da UFRJ, cujo coordenador é o professor Francisco Duarte, gestor do convênio com o ICTIM. 

De acordo com o Google, a UFRJ tem um total de 226 cursos de pós-graduação, divididos em 101 mestrados acadêmicos, 96 doutorados acadêmicos e 29 mestrados profissionais. Mas todos do  núcleo familiar e de amigos de Pansera (inclusive o próprio) foram selecionados para o mesmo programa, coordenado justamente pelo professor que gerencia o convênio com o ICTIM.

Orçado em R$ 3.919.387,76, o convênio  traz outro velho conhecido da política. Além de ter sido assinado, em 2022, por Celso Pansera, como presidente do ICTIM, o documento também contou com a assinatura do então diretor-executivo e sócio administrador da Fundação Coppetec/UFRJ, Fernando Otávio de Freitas Peregrino.

No ano seguinte à assinatura do convênio, Pansera foi convidado a assumir a Presidência da Finep e adivinhem quem passou a ser seu chefe de gabinete: Fernando Peregrino.

Inclusive, recentemente, o próprio foi citado como parte da relação de amigos que Pansera fez questão de agradecer no seu Instagram, por ele ter comparecido ao jantar em comemoração à conclusão de seu mestrado, na casa de Hildegard Angel.

*Quaquá insatisfeito com liderança de Pansera no ICTIM*

Apesar de estar presidindo a Finep desde 2023, o pézinho (e as mãozinhas) de Pansera sempre se manteve em Maricá, em especial no ICTIM. 

O petista, que vive registrando momentos em suas redes sociais ao lado de Quaquá, pertence à alta cúpula de seu líder. Bom... isso é o que a gente acha(va)! Uma pessoa muito próxima ao atual prefeito de Maricá disse o contrário.

É que, segundo a fonte, Quaquá vem se assustando a cada problema no ICTIM que ele fica sabendo pela imprensa. Com isso, Pansera tem sido "acusado" de não ser tão leal quanto parece.

"O comandante já se irritou muito com a gravidade dessa estrutura montada pelo Pansera dentro do ICTIM, que virou um puxadinho da Baixada. Em quatro anos, três presidentes do mesmo grupo e todos da Baixada. Essa turma tem que voltar pra terra deles, esquecer Maricá. Um monte de problemas, Ministério Público, sem pulso lá dentro, e o pior é que muita coisa o comandante não sabia. Tem coisa que ele soube por conta de denúncia da oposição. Pansera já foi de confiança, hoje não é mais, não é mesmo, mas a gente atura", disse, rindo.

Inimigo bom é inimigo perto?