Encontros e Despedidas

Por Rogéria Gomes

Encontros e Despedidas

Duas cantoras brasileiras de primeira grandeza, Doris Monteiro e Leny Andrade saem de cena hoje deixando um legado notável ao som de efusivos aplausos de amigos, familiares e fãs que foram se despedir no Theatro Municipal do RJ. Falar de suas trajetórias é praticamente chover no molhado. Não há muito que se diga que não se saiba, à vista do que foram e representaram.

Doris e Leny são pérolas da MPB. Falar do legado que deixaram não caberia em um artigo, muito menos quando misturado à amizade. Sair do lugar do oficio e falar como amiga, é sem dúvida, a parte mais difícil. Nessa hora as palavras faltam mesmo pra quem delas é companheira.

Conheci ambas por conta da profissão, desde a época de estagiária. Já havia decido pelo jornalismo cultural e na faculdade comecei a estagiar na extinta e lendária Revista Nacional, suplemento do cultural do jornal do Comércio, com circulação nacional aos domingos. Publicação do competente jornalista e editor Mauritônio Meira. Ao lado de alguns mestres, entre eles, Fernando Lobo, que se sentava ao meu lado, aprendi muito. E foi nessa época, aspirante a jornalista que conheci as duas. Meu recorte era quase sempre teatro e música. Adiante o teatro tomou uma proporção maior. Mas foi na Revista Nacional que fiz inúmeras entrevistas culturais, conquistando aos poucos as paginas centrais da revista, com entrevistas memoráveis. Algumas com Doris e Leny que já conhecia por meus pais que acompanhavam suas carreiras, especialmente minha mãe, fã de Doris. Nessa fase nos tornamos próximas e nos encontrávamos com freqüência. Alguns hiatos de tempo, mas o mesmo afeto nos unia. Sempre encontros especiais.

Leny era dona de uma verve extraordinária, humor afinado, gostava de contar histórias e de boas risadas.  Cantou nos melhores lugares do Rio de Janeiro e do Brasil, assim como construiu linda e prestigiosa carreira no exterior, onde morou por anos. Fez parte da nata da bossa nova e com aquele vozeirão único e improviso arrebatador marcou pra sempre sua trajetória e a MPB.  Tornou-se a diva jazzística brasileira. Sua alegria em estar no palco era notória. Absoluta no som que fazia com maestria.

Doris traçou uma carreira permeada de sucessos e foi considerada um must desde o inicio de sua carreira ainda muito jovem ao lado de sua mãe pelos programas de calouro. Apesar de a família lhe traçar outro destino não abriu mão de seu sonho. Seguiu em frente e ganhou cada vez mais espaço e prestigio. Cheia de bossa e suingue, com divisões singulares que segundo alguns críticos, só ela sabia fazer, passou pela bossa nova, samba canção e influenciou gerações. Foi atemporal. Inúmeras cantoras que fizeram sucesso na música popular sonhavam em ser Doris Monteiro. Aliás, uma de suas marcas foram a generosidade e atenção as novas gerações. Nos anos 50 ficou nas paradas de sucesso meses a fio, daí em adiante seu estilo e voz peculiares dominaram a cena musical, seguido de outros tantos sucessos no Brasil e no exterior.  Reinventou-s e gravou diversos compositores ícones. Brilhou em mais de 70 anos de uma carreira que marcou indelevelmente a música brasileira e o cenário artístico. Estar com ela era certeza de papo gostoso, risadas soltas e muito afeto.

Doris e Leny foram o ‘the créme de La créme’ do cenário artístico brasileiro e sempre dispostas a ir onde o povo está.  A música brasileira fica mais pobre, triste, mas terá pra sempre o selo de qualidade que Doris e Leny imprimiram e seguirá potente porque tem fonte pra beber. Por aqui permaneceremos celebrando a vida e a trajetória dessas artistas que transpassaram gerações e deixam uma lacuna imensa. Guardarei no coração as lembranças dos encontros alegres e carinhosos, agora regados à saudade, mas fortalecidos pelos momentos vividos. E claro, sempre grata pelas ótimas entrevistas que me concederam e pela confiança naquela jornalista principiante. Não à toa, decidiram seguir juntas numa ‘batida diferente’ sincopada na voz magistral de Leny, para encontrarem ‘os mocinhos bonitos’ que só Doris soube enlevar com seu canto único e suingado, que agora ao lado de Gal Costa, Rita Lee, Erasmo Carlos e do inigualável piano de João Donato ‘vão fazer muita gente feliz’.

Rogéria Gomes

Teatroemcenanoradio@gmail

Por Jornal da República em 26/07/2023

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