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No último dia 21 de março foi comemorado o dia da poesia. E o cordel não poderia deixar de ser homenageado. Isso porque entre lendas, fantasias, notícias imaginadas, críticas, homenagens, vida cotidiana, vilões, heróis, tragédias, comédias, histórias de realismo fantástico... Verso a verso, cabem mil mundos nos pequenos folhetos de páginas simples e, ao mesmo tempo, profundas. Há quem conheça o cordel por seu formato em curtas brochuras impressas e que eram vendidas em cordões nas feiras e mercados. As estrofes da literatura de cordel são companheiras de Abraão Batista, de 85 anos de idade, desde 1949, na cidade sertaneja de Juazeiro do Norte (CE).
O autor é considerado um dos maiores cordelistas brasileiros. "Para fazer o cordel, é preciso disciplina, de métrica, de simetria. É como um poema quase prosa. É alguém que registra os acontecimentos. E o cordel é lido por gente de todas as classes sociais", disse, em entrevista (por telefone) à Agência Brasil. Batista, que é professor aposentado e xilo gravurista, autor de mais de 300 cordéis (com o primeiro livro O menino monstro),publicado em 1970), escreve, ainda com muito fôlego, sobre tudo o que vê e ouve. Assim aconteceu também no último domingo (21), Dia da Poesia, no sítio em que mora. Para se proteger da pandemia, não vai pra rua. Lápis e papel ficam em constante atividade.
"Agora estou escrevendo Era Uma Vez o Cão Coronavírus, uma história sobre a luta contra essa pandemia". O cordelista começou a poetizar há mais de sete décadas sob inspiração da mãe, a pernambucana Maria José, apreciadora da leitura de cordel. Passar o amor pelo texto rimado de geração para geração é uma característica da história dessa família cearense: o filho, Hamurábi (também no Cerá), e a neta de Abraão, Jarid Arraes (hoje em São Paulo), também fizeram da vida uma prosa poética cordelista. "Fico muito alegre (pela família) e também pelos cordelistas novos que estão começando. É preciso disciplina e prestar atenção nas regras". O artista aprecia tratar de temas da história do Nordeste e do país.
Influências
Um fã declarado da família cearense é o cordelista brasiliense Davi Mello, de 31 anos, que se envolve com a arte desde 2013, desde que ouviu em um evento o cordel que contava a luta do acarajé contra o sanduíche americano. Influenciado pela obra de Ariano Suassuna e por artistas populares, o rapaz se aprofundou. "Conheci o Abraão Batista em 2017 na Feira do Livro, quando fiquei encantado de ver aquele banca recheada de cordel. Eu disse a ele que estava tomando coragem e ele me incentivou".
Bem imaterial
Esses versos que circulam de banca em banca, de mão em mão, por todo o país têm reconhecimento como bem imaterial da cultura brasileira, conforme divulga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Um exemplo é que, desde 2018, a literatura de cordel é inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão. O órgão ainda aponta a necessidade de salvaguarda desse tipo de cultura quando aponta a necessidade de que deve prestar apoio à realização de eventos organizados por cordelistas, à circulação dos produtos e também para inclusão da atividade em escolas públicas. Métrica, rima e oração, os três elementos do cordel, podem formar uma lição de casa inspiradora para futuras gerações.
*** Com informações da Agência Brasil. Foto:/Davi Mello/Direitos Reservados.
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