Ética meio ambiente e atuação profissional no carnaval

Por Sérgio Almeida Firmino

Ética meio ambiente e atuação profissional no carnaval

O professor Dr. e Dr. Karl Homann lecionava na Faculdade Ciências Econômicas de Ingolstadt na Alemanha em 1994, ano em que eu ingressei na faculdade, precisamente no curso de Administração de Empresas. Esta faculdade está fisicamente distante da Universidade Católica de Eichstätt, com sua sede a 25 quilômetros da faculdade.

Foi nessa atmosfera fantástica que conheci o Professor Karl Homann e sua disciplina, ética econômica empresarial. A sua matéria tinha uma receptiva enorme perante nós alunos, lembro-me das discussões em sala de aula ou mesmo nos “Biergarten” bares ao jardim espalhados pela pequena Cidade com pouco mais de cem mil habitantes.

Com efeito, aquelas aulas lecionadas pelo Herr Professor Homann, formaram a
mente inquieta daqueles jovens, assim como a minha. As expressões ética, moral, desenvolvimento sustentável, responsabilidade social, enfim, um vasto vocabulário, tinha como objetivo desenvolver um sistema de comunicação desses conceitos, entre professor e aluno.

O Professor Homann, atualmente possui um sortimento de publicações, entre
artigos e livros escritos, sob a égide da ética empresarial, da qual asseverou em sala de aula. Com efeito, muitos daqueles conceitos lecionados e repassados aos alunos em poucos minutos, levaram meses ou até anos de reflexões e análises de pesquisadores e estudiosos para estarem prontos ao alcance de todos.

A propositura deste artigo é o de trazer à luz a minha atuação profissional e até
onde ela dialoga com a ética na questão da sustentabilidade ou do meio ambiente, ou seja, este texto suscita, que eu exorte o quanto as aulas de ética econômica empresarial na Alemanha, construíram um novo pensar, sobre uma forma de viver, uma conduta pessoal e silenciosa do raciocínio humano ou realizado em minha vida. Sim!

De fato, as aulas e debates na Alemanha e agora mais uma vez na Universidade Veiga de Almeida, no curso de História, é pontuado pela presença de novos elementos, daqueles vividos há vinte e seis anos atrás. Em todos esses anos, tenho vivido sob esses preceitos como uma religião.

Com efeito, esta é a verdadeira religião, de nos integrar diariamente na forma do viver ético, inclusivo, sustentável, criarmos formas de existência pacífica, ética e em harmoniacom a premissa de pensar no melhor do outro e praticar a ética e a alteridade como projeto de toda vida, enquanto estivermos sobre o planeta Terra.
Sem embargo, viver sob a égide da ética não é tarefa fácil e principalmente  nestes tempos aqui no Brasil.

Talvez fosse bem mais fácil praticar ética na Escandinávia do que na América do Sul. No entanto, este desafio me foi entregue e embora eu seja, brasileiro, vivendo em um país envolto em antiética política, empresarial ou pessoal, minha conduta, não se abala a estes fatores de influência externa, muito pelo contrário, torno-me um estranho ao estabelecer minha própria política ética do viver. Não se trata de ser bom ou mau, a ética é um procedimento, um “ modus operandi”  assim como a solidariedade.

Aqui parafraseio o Senhor Oscar Niemeyer(1907-2012), quando provocado por
uma jornalista espanhola no dia do seu aniversário de cem anos. A moça perguntou ao arquiteto, se ele poderia definir sua vida com uma palavra. Ela perguntou: Oscar você poderia definir sua vida com uma palavra”? O arquiteto respondeu: “ não se pode definir uma vida com uma palavra, no entanto, sem solidariedade não se pode viver neste mundo”. ( Oscar Niemeyer 2003).

Com efeito, sem solidariedade, sem ética, sem alteridade, sem o entendimento sobre a felicidade do outro, não se pode ser feliz. Essas narrativas são o pilar para a formação consciente de cada ser humano sobre o planeta Terra.

Com efeito, Filipe Jorge Ribeiro de Almeida trouxe elementos importantes em
seu artigo Ética e Desempenho Social das Organizaç?es: um Modelo Teórico de Análise dos Fatores Culturais e Contextuais.O conhecimento, a educação e a cultura podem ser utilizados para construção de um mundo ético e inclusivo.

Nestes últimos vinte e cinco anos, desempenhei função cultural e diretamente envolvido ao segmento do Samba e do Carnaval. Sou responsável pela criação de duas ONGs, a primeira fundada em julho de 2017 e a segunda, muito significativa, fundada em junho de 2021, em pleno momento da pandemia do novo coronavírus.

A Federação da Indústria Criativa Cultural do Carnaval do Estado do Rio de
Janeiro FICCCERJ é uma recém criada organização da sociedade civil pública, sem fins lucrativos, e seu objetivo específico é apoiar e maximizar soluções no âmbito da indústria criativa cultural do Carnaval, em especial as Escolas de Samba, em todo o estadodo Rio de Janeiro. Admitida através da reunião das principais lideranças do Carnaval do Rio de Janeiro, justifica sua criação com o apelo de fomentar, orientar, discutir o melhor desempenho das Escolas de Samba e do Carnaval fluminense.

Empoderada pela presença de profissionais do cenário do Carnaval, a Federação defende a formação de um modelo diferenciado na relação com o segmento - Samba, Escolas de Samba e Carnaval.

Na premissa de que o Carnaval não é apenas uma efeméride fluminense, enquanto grande evento, torna-se irrefutável a criação da FICCCERJ, com especial atenção a presença das Escolas de Samba, jóias de imenso valor cultural, criativo, social, de inclusão das desigualdades e gênero, meio ambiente, sustentabilidade, espaço propício para crianças, jovens, adultos e idosos de qualquer religião ou crença.

A Escola de Samba possui esta capilaridade de receber qualquer um do povo, que esteja pronto para perceber a grandiosidade criativa e cultural que define uma Escola de Samba.

A finalidade da FICCCERJ não é de inventar a roda, pois a roda já foi inventada.
Esta importante parceria com as Escolas de Samba, nasce, portanto, para incentivar, ensinar, criar discussões, fomentar ideias, apresentar profissionais, ajustar-se ao “compliance” e governança da iniciativa privada, ainda de pífia participação no processo fabril em torno da Escola de Samba.

A Federação não é uma captadora de recursos, no entanto, está em busca
deles, tampouco é uma incubadora. A FICCCERJ é uma ferramenta inteligente, criada pelo próprio dirigente do segmento do Carnaval, capaz de propor soluções, resultantes da problematização desenvolvida pelos próprios atores envolvidos diretamente no segmento da indústria do Carnaval e sua preocupação de buscar pessoas, mecanismos, técnicas e acadêmicos, à disposição de otimizar o universo criativo e econômico que será ofertado ao turismo, à educação, à cultura, ao trabalho, à economia das cidades, criando de fato, este ciclo virtuoso, transversal, muito necessário, principalmente no pós-Covid19.

Uma das missões da FICCCERJ, enquanto incentivadora da geração de valores
compartilhados, é trazer à luz a importância de transmitir a cultura do Samba, da Escola de Samba e do Carnaval para a sociedade, que se mostra às vezes cética a sublime presença da Escola de Samba, como fonte de criação, capacitação, trabalho e renda e do que se pode trabalhar a transversalidade a partir dessa realidade.

A facilidade em atender em tempo as demandas da Federação, está no contato
diário de seus dirigentes, e nas discussões já realizadas a partir deste ano da pandemia do novo coronavírus. De fato, a ausência do carnaval em 2021, contribuiu para a criatividade do segmento em criar a FICCCERJ, como mecanismo poderoso de defesa em atenção especial às populações que vivem do Carnaval em todo estado do Rio de Janeiro.

A Federação poderá atender perfeitamente ao modelo dinâmico de uma “Startup”, sua flexibilidade diante das experiências dos associados, mantém viva a entrega de seu produto principal. Apoiar incondicionalmente as Escolas de Samba e outras formações e movimentos culturais do segmento do Carnaval, sem a intuição natural de estar envolvida financeiramente no processo.

A instituição pertence a todas as lideranças de Carnaval do estado do Rio de Janeiro, portanto, sua simplicidade e capilaridade original, ultrapassa, qualquer empresa ou instituição conhecida.

Seu empoderamento está em realizar todo processo das relações com a iniciativa privada, governos, instituições financeiras, assembleia legislativa, câmaras municipais, mídia, universidades, escolas públicas e particulares, enfim, tudo isso para facilitar e reverberar o poder realizador das Escolas de Samba, através da larga experiência dos associados da Federação, no segmento do Carnaval.

O Carnaval do estado do Rio de Janeiro, principalmente dos municípios do
interior, terá uma representante à altura de sua grandiosidade cultural, econômica e de apelo ético, sustentável e até aqui, pouco observado, diante do Carnaval da capital, sem dúvida exuberante, e ainda não superado no estado ou no Brasil.

Sua contribuição já foi anunciada, através da adesão de todas as agremiações de Carnaval do interior do estado, inclusive das Escolas de Samba Mirim, que possuem, atenção especial pela FICCCERJ. Concluo, que a ética deve ser encarada como forma de viver em harmonia com preceitos do desenvolvimento humano e de seu meio ambiente. No entanto, há de se estudar para identificar estes preceitos e a melhor maneira de cooptação desses princípios éticos, sustentáveis.

O produto final são os resultados obtidos com muito trabalho, dedicação e inteligência, com certeza, espera-se um bem para todos. Sem estes preceitos éticos e morais, não podemos pensar na construção de um mundo melhor e harmônico para se viver. Seja em qualquer segmento de participação do ser
humano, somente na ética, desenvolvemos um círculo virtuoso de resultados, otimizandoem cada momento, uma maneira adequada de existência mútua, do bem e do melhor para todos.

Por Sérgio Almeida Firmino
Assessor de Economia Criativa do Carnaval na Secretaria de estado de Cultura e Economia Criativa.
Presidente da Federação da Indústria Criativa Cultural do Carnaval do Estado do Rio de Janeiro
FICCCERJ
Assessor Especial de Economia Criativa do Carnaval da Secretaria de Estado de Cultura e
Economia Criativa-SECEC.
Diretor Conselheiro do Instituto Cultural Cravo Albin.
Criador do Instituto Cultural Candonga e ex-diretor de Planejamento e Projetos da instituição
Graduando em História na Universidade Veiga de Almeida.

Referências bibligráficas :
ALMEIDA, F. J. R. Ética e desempenho social das organizações: um modelo teórico de análise dos fatores culturais e contextuais (Links para um site externo.).

Revista de Administração Contemporânea. V. 11, n. 3. Curitiba. Julho/Setembro 2007.

Agradecimentos:
Agradeço ao professor Rafael Oliveira da Mota pela excelente e instigante propositura da atividade.

Agradeço a todas as lideranças de Carnaval do estado do Rio de Janeiro, assim como, as comunidades Quilombolas e instituições sem CNPJ, que contribuem para a economia criativa do Carnaval.
O meu muito obrigado a: AEST, LIBESP, ABOIPIC, LIACM, LIESI, UNESCAF,
LIESAM, GRCESM, LIGABBZP, LIERJ, LIESB, LIESA, ABCAR, LUBESNI,
LESNIT, UESBCN, LIESBENF, GRES CONGOS, GRES CHINÊS. .
Agradecimento especial: ao economista Marcel G.Balassiano, Subsecretário Municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação do Rio de Janeiro.

Por em 17/02/2022
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