Assine nossa newsletter e fique por dentro de tudo que rola na sua região.
Baratas e eficazes contra a Covid-19, as máscaras agora entram na mira de iniciativas contra a obrigatoriedade irrestrita de uso. Primeiro, coube ao presidente Jair Bolsonaro encomendar o fim da obrigatoriedade (ele ainda aguarda resposta do Ministério da Saúde, que estuda a medida). Mas agora São Paulo e Rio de Janeiro estudam flexibilização da regra, enquanto Duque de Caxias se antecipou e decidiu abolir o uso em ambientes fechados ou abertos.
Abolir o uso das máscaras faz sentido?
Especialistas que acompanham a evolução da pandemia desde as primeiras mortes fazem alertas contra a medida. Em resumo, eles apontam que:
• Medida pode ser viável em algumas situações ao ar livre
• Centros de comércio popular e aglomerações ainda exigem prevenção
• É essencial que medida permaneça em ambientes fechados
• Pressa dos EUA para abolir máscaras foi considerada um erro de estratégia
• Máscaras funcionam, são baratas e comprovadamente eficazes contra a Covid-19
• Pandemia não está sob controle e patamar de mortes ainda é inaceitável
Veja abaixo, em detalhes, a análise dos especialistas:
Medida pode ser viável em algumas situações ao ar livre
"Eu não acho um absurdo se discutir a flexibilização do uso de máscaras em espaços abertos e, deixando bem claro esse ponto, ventilados." - Vitor Mori, doutor em engenharia biomédica e pesquisador na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos.
"Eu tomaria como contrapartida da flexibilização do uso de máscaras que se gaste mais energia e tenha mais controle sobre os espaços fechados", explica Mori.
Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, concorda: "Sem dúvida que, caso essa decisão seja tomada, ela deve ser aplicada apenas em ambientes abertos e por pessoas completamente vacinadas".
Nem todo ambiente aberto é seguro
Outra ressalva para os especialistas é que nem todo ambiente aberto é igual ou seguro. "Se eu saio para andar, por exemplo, no centro de São Paulo, ou se eu vou passear na Rua 25 de março, onde há várias pessoas, a máscara pode ser, sim, necessária", explica Denise Garret, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin.
Vitor Mor lembra que espaços abertos são mais seguros, desde que se respeite o distanciamento.
"Um evento como um festival de música ou uma festa na praia, por exemplo, são um risco porque as pessoas teriam um contato próximo, face a face, cantando ou gritando, paquera e beijos. O ponto central desses eventos é que eles misturam muitos espaços abertos e fechados. Mesmo que o evento seja em espaço aberto, pode ser que haja uma banca de bebidas em um espaço menos ventilado ou mesmo o banheiro. Nunca é espaço aberto o tempo todo", explica Vitor Mori
Situação da pandemia não está controlada
"Eu acho que o Brasil está se precipitando um pouco porque eu acho que nós não temos uma situação tão controlada da pandemia. Por mais que o percentual da população brasileira vacinada seja alto, os números que apresentavam uma queda pararam de cair e estão em fase de estabilização." - Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas
Erros de condução nos EUA
Os EUA chegaram a liberar, mas depois recuaram e determinaram que todos, até os que já estão vacinados, voltem a usar máscaras em ambientes fechados nas regiões com alta transmissão de Covid. À época, por trás da decisão estava o avanço da variante delta, que fez saltar o número de novos casos diários de 13 mil no país inteiro para mais de 57 mil em poucas semanas.
"Eu acho que a flexibilização do uso de máscaras, tanto em espaço aberto quanto em espaços fechados, foi um dos grandes erros na condução da pandemia nos Estados Unidos. Lá, se liberou geral e a gente acabou vendo um repique causado pela variante delta." - Vitor Mori
No Brasil ainda não se sabe se a variante ainda pode mudar o curso da pandemia, na visão dos especialistas. "Me parece um pouco precipitado (liberar). Eu esperaria um pouco mais. Quando a gente conseguir vencer esse cabo de guerra que é variante delta, eu acho que é hora", explica Hallal
O que dizem CDC e outros órgãos?
A orientação do CDC (sigla em inglês pra Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) para uso de máscaras, divulgadas em 13 de agosto, é para manutenção em locais fechados e a recomendação é para que elas também sejam usadas em ambientes externos em áreas com altos índices de transmissão e com reunião de grande número de pessoas.
No Brasil, a recomendação para o uso ainda está em vigor, apesar de o ministro Marcelo Queiroga dizer que é contrário à obrigatoriedade do uso de máscaras. Desde junho Queiroga recebeu o pedido de Bolsonaro para desobrigar o uso de máscara por vacinados.
Quando a medida foi anunciada, especialistas classificaram como uma temeridade. Cerca de um mês depois, o ministro disse que qualquer decisão seria tomada com "base na ciência" e ainda não houve decisão sobre o tema. (Do G1)
Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!