França em ruínas: Macron quer usar escalada de guerra como desculpa para se manter no poder e derrubar a democracia?

Prisão de fundador do Telegram e adiamentos seguidos de nomeação de primeira ministra colocam o país e seu líder em cheque.

França em ruínas: Macron quer usar escalada de guerra como desculpa para se manter no poder e derrubar a democracia?

Por J. Perim
 
Atolado em problemas internos como questões de imigração, corrupção, concentração de renda e aumento significativo do custo de vida, e possivelmente por parte isso seu bloco político ter sido o grande perdedor das últimas eleições para a Nova Frente Popular de esquerda, há 49 dias Emmanuel Macron e seu grupo ainda estão unilateralmente governando o país.  

Já passando a que denominaram de “trégua olímpica” para o período dos jogos, o governo demonstra que ignora os resultados eleitorais, situação esta nunca vista na 5ª república francesa. Não se esquecendo que Macron anteriormente já tomou decisões e mudou regras legais sem a anuência do parlamento, aumentando substancialmente os poderes do executivo. Com tais movimentos prepara um golpe?

Jean Luc Mélenchon, principal liderança da esquerda francesa, aguarda que Macron se pronuncie quanto a indicação de Lucie Castets - uma alta funcionária publica, e segundo analistas, a desculpa do presidente para não acatar é devido a indicada para o cargo de primeira ministra não fazer parte de seu bloco político. Mas o direito de indicar não é de quem ganha? Quem perde uma eleição não deve respeitar? Não são regras pétreas de sustentação dos pilares republicanos e da democracia?

As referidas eleições de 7 de julho foram convocadas pelo próprio Macron, e com o resultado oposto do esperado agora tem demonizado os vencedores, supostamente tentando fazê-los ceder, como aconteceu com Jeremy Corbin na Inglaterra. Só que o lema do bloco de esquerda é “França não se curva”. E de fato não se curvaram.
Mélenchon foi hábil ao indicar e exigir posicionamento de Macron, colocando-o assim, “contra a parede”. Se Macron disser “não”, admitirá que não acata os resultados das eleições, situação completamente antidemocrática, e cansado de esperar, o bloco vencedor já não aceita mais procrastinações conforme Olivier Faure, um de seus líderes, declarou publicamente.     

Paralelamente a isso, a França está perdendo cada vez mais presença na África para Chineses e Russos – o primeiro está a financiar grande infraestrutura logística em vários países, e o segundo, com seus grupos de mercenários como o Wagner, está a auxiliar líderes locais nacionalistas, como o caso do Níger, ao qual os franceses e americanos perderam o seu total poderio, consequentemente recursos financeiros, Uranio para suas usinas nucleares, sem contar fornecimento barato de outros recursos naturais necessários a sua indústria.

E por fim, ironicamente foi salva por Lula, presidente do Brasil ao ceder exploração em terras tupiniquins. Esperamos que tenha sido uma boa troca para o país, porque de graça não foi. Brasil não iria se indispor com parceiros dos Brics à toa.

Precisaria Macron de subterfúgios que cobrarão um preço alto para a França para se manter no poder? Zelensky, devido ao conflito com a Rússia, ainda “comanda” a Ucrânia mesmo com o termino de seu mandato há tempos.
O “presidente palhaço”, como seus opositores o chamam, declarou ilegais todos os partidos de oposição da Ucrânia e, recentemente. proibiu até a igreja Ortodoxa Ucraniana em seu território. Foi acusado durante um período da guerra de desviar mais da metade dos armamentos enviados pelos países da Otan, e teve que declarar parte disso publicamente.
Cassinos de Monte Carlo ultimamente estão lotados de milionários ucranianos partidários do presidente ucraniano, conforme até vídeos registrados um grande numero de carros super luxuosos com placas da Ucrânia estacionados naquele estabelecimento simultaneamente, possivelmente lavando recursos desviados do conflito, de acordo com denuncias.   

Movimentos estratégicos militares da Ucrânia ao invadir Kursk fazendo também uso armas químicas proibidas como cloro e atacar civis, mesmo considerada até por altos oficiais estadunidenses como missão suicida, indica que os países líderes da NATO não querem terminar o conflito, mas no mínimo prolonga-lo, ou escalá-lo caso não obtenham os resultados almejados, mesmo sabendo de antemão serem quase impossíveis, devido ao poderio bélico do opositor dentre outros fatores. Instigam uma resposta de força nuclear?  

A Ucrânia já montou e perdeu 5 exércitos, não possui mais nenhum veterano no front e dependendo principalmente de mercenários supostamente se declarando nazistas, cada vez mais recebe recursos e armamentos em quantidade e qualidade superiores sucessivamente, inclusive da França, e como já foram capturados soldados de países membros pelo exército Russo, denuda-se o que já era sabido: a guerra é de fato entre a NATO e a Rússia, e colateralmente contra a China, que já sofre embargos comerciais de grande parte do Ocidente sem justificativas de fato plausíveis.

O que pretende afinal Macron e seus partidários? Ganhar tempo para arranjar oportunidades locais jurídicas ou o início de uma grande escalada para “justificar” se manter no poder e não dividir com quem ganhou as eleições? É uma hipótese que não deve ser descartada num momento de mudanças no cenário mundial. A França tem muito a perder com a mudança de forças, principalmente seus grupos corporativos, alicerces e apoiadores de Macron.  Desde o escândalo de propinas entre políticos como Sarkozy e a família Bettencourt, dona de um dos maiores conglomerados empresariais do mundo, já se sabe como a França funciona, na pratica. E a esquerda também não é santinha.

Nota-se que a NATO em nome da Ucrânia tem “esticado a corda” nas ultimas ofensivas enquanto Putin, mesmo perdendo apoio popular interno - que lhe tem exigido cada vez mais ações de resposta militares mais agressivas, ainda segura tais intenções tendo em vista sua estratégia de não cair em armadilha da propaganda de guerra, esperando seus opositores a primeira ação militar em que consequências gerem abertura para criar comoções,  por fim estigmatiza-la perante a opinião pública ocidental.

Apoio interno é fundamental a um país em estado de guerra. Opostamente a França, a Alemanha por pressão e exigência popular, tem iniciado recuo de participação do conflito, mesmo já tendo anteriormente enviado soldados e equipamentos pesados como tanques. Sua situação financeira tem deteriorado com o aumento do custo de energia após início do conflito, preterindo seu parceiro energético, a própria Rússia, e pagando caro aos EEUU por recursos energéticos. Confirmou-se recentemente atuação de ucraniano na explosão do gasoduto russo que a abastecia. 

Outra ação do governo Macron, que aumentou ainda mais as tensões com a Rússia, foi a prisão de Pavel Durov, sócio e fundador do aplicativo Telegram. O que fundamenta a sua prisão seria o descumprimento de normas francesas. Porém, a própria Rússia anteriormente já havia processado a mesma empresa por situações análogas, e, de forma contraditória agora, 26 grandes ongs financiadas pelo think tank ocidental como a Human Rights Watch, Anistia Internacional e Repórteres sem fronteiras,  fizeram defesa pública em massa em defesa do aplicativo, levando supostas denúncias até perante a ONU, acusando a Russia de agir contra a liberdade de expressão e privacidade.

Paralelamente, há notícia ainda não confirmadas publicamente de que hackers roubaram dados sensíveis e confidenciais de Israel, e os tem publicado em canais do Telegram, que por sua vez recusou pedido para censurá-los a pedido daquele, igualmente pedido negado também a Rússia em caso análogo.  Macron ainda mantem firme apoio a Israel, que já declarou ontem que pretende atacar o Líbano justificando ser “ação preventiva”. Não conseguiram desculpas “melhores” antes.

Veremos em breve quais serão a novas manifestações de Macron e seu governo, e o que finalmente fará. Mas também estamos testemunhando algo extraordinário na história francesa, que demonstra como a França está cada dia mais antidemocrática: seus cidadãos votaram e até agora seu voto não foi respeitado por aqueles que detém o poder.

 

 

Por Jornal da República em 25/08/2024
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