G20: planeta está perto de ponto de difícil retorno

Três quartos da população dos países ricos defendem proteção ambiental; prioridade é apoiar ações decisivas para inverter esse caminho, mesmo que implique perder lucro econômico

G20: planeta está perto de ponto de difícil retorno

DA REDAÇÃO - A maioria da população dos 20 países mais industrializados do mundo concorda em tornar prioritário o combate à crise climática e a proteção da natureza. Os empregos e lucros podem passar para segundo plano, dizem 74% da população dos países do G20, de acordo com pesquisa feita para a Global Commons Alliance. 

A atividade humana empurra o planeta para um ponto de difícil retrocesso. A opinião é três quartos da população dos países mais ricos do mundo. Para eles, a prioridade é apoiar ações decisivas para inverter esse caminho, mesmo que implique perder lucro econômico.

Entre os entrevistados nos países do G20, 58% afirmam que estão extremamente preocupados com o estado do planeta.

"O mundo não caminha como um sonâmbulo para a catástrofe. As pessoas sabem que estamos correndo riscos colossais, querem fazer mais e querem que seus governos façam mais", afirma Owen Gaffney, da Global Commons Alliance, um dos autores do estudo.

Para ele, "os resultados da ciência devem fornecer aos líderes do G20 a confiança para agir mais rapidamente e implementar políticas mais ambiciosas para proteger e regenerar nossos bens comuns globais"

O estudo mostra que, entre as nações do G20, 73% das pessoas acreditam que a "atividade humana empurrou a Terra para perto de pontos de inflexão".

Os países menos ricos têm maior consciência desses riscos - Indonésia (86%), Turquia (85%), Brasil (83%), México (78%) e África do Sul (76%) - comparativamente às respostas dos países mais ricos - Estados Unidos (60%), Japão (63%), Grã-Bretanha (65%) e Austrália (66%), que reconhecem menor perigo.

Quatro em cada cinco entrevistados afirmaram que estavam dispostos a alterar o seu cotidiano para ajudar a regenerar os bens comuns globais.

Elizabeth Wathuti, ambientalista queniana, escreveu no prefácio da pesquisa que "as pessoas começam a sentir que a natureza está reagindo".

"As pessoas no poder parecem achar que não há problema em derrubar árvores velhas ou destruir ecossistemas naturais para construções ou estradas, ou extrair petróleo, desde que plantem novas árvores. Mas essa abordagem não está funcionando, e as descobertas no relatório mostram que muitas pessoas não apoiam mais essa idiotice econômica", alerta Wathuti.

Resistência
Os autores do trabalho acreditam que vão encontrar resistência entre grandes grupos econômicos e investidores, mas por outro lado, o documento representa a opinião pública desses 20 países industrializados.

Mais de 8% das pessoas ouvidas pretendem proteger o equilíbrio da natureza e 69% defendem que a proteção dos sistemas de suporte à vida do planeta custará menos que os danos causados pelas alterações climáticas. Os brasileiros são os que mais apoiam essa ideia e os franceses, menos.

Apenas 25% das pessoas questionadas dizem que os governos devem manter a prioridade em garantir empregos e lucros.

Pandemia
A Covid-19 também foi assunto do estudo - 75% das pessoas acreditam que a pandemia demonstra como o comportamento humano pode se alterar de um momento para outro e abrir porta para a mudança.

Se a ONU e outras organizações internacionais deveriam receber mais poder para proteger a natureza, o consenso entre indianos, chineses e turcos ultrapassou os 75%. Os americanos são quem menos apoiam - apenas 49% apresentaram resposta favorável.

O relatório também identificou que a consciência e a vontade de agir são menores entre os homens, pessoas mais velhas, habitantes rurais, população dos Estados ricos e pessoas de tendência política nacionalista.

O trabalho foi realizado em abril e maio, antes das ondas de calor, inundações e incêndios do verão do Hemisfério Norte.

O levantamento fará parte da base de trabalho de reuniões e conferências internacionais sobre a vida planetária, a Cop26, que ocorrerão em novembro deste ano em Glasgow, na Escócia. (Por RTP – Lisboa via Agência Brasil)

Por Jornal da República em 17/08/2021
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