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Por Jamil Chade, UOL - Se o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, dominou as manchetes da imprensa brasileira nos últimos dias por fazer um gesto obsceno a manifestantes em Nova Iorque, ele não foi o único no governo de Jair Bolsonaro a adotar uma postura polêmica.
No carro que levava Queiroga, outro ocupante era o chanceler Carlos França que, no momento de confrontar as pessoas que protestavam nas ruas, também reagiu e fez um gesto de "arminha" em direção às pessoas.
Internamente, a atitude foi recebida com indignação por parte do corpo diplomático, que esperava de França um comportamento mais moderado. O chanceler substituiu Ernesto Araújo no comando do Itamaraty, depois que o primeiro escolhido para chefiar o ministério no governo de extrema-direita abriu uma crise com diversos grupos políticos.
Em colapso, inclusive administrativo, o Itamaraty via na escolha de França uma esperança de redução da ideologização da política externa e o fim do sequestro da diplomacia pela ala mais radical do bolsonarismo.
E, de fato, o novo chanceler tentou resgatar alguns dos principais pilares da diplomacia brasileira, como o apoio ao multilateralismo e a busca por alianças em todos os continentes. Mas sempre pairou a dúvida se, de fato, um diplomata com pouca experiência de comando e de formulação de política externa, teria condições de liderar o Itamaraty. O diplomata havia sido escolhido pelos aliados mais próximos do presidente, entre ele seu filho Eduardo Bolsonaro.
Também pairavam dúvidas sobre a real influência de França na condução da diplomacia, diante da sombra de personagens como Eduardo Bolsonaro e as ligações com o movimento ultraconservador americano.
Não por acaso, quando as imagens de França fazendo "arminha" foram divulgadas, a reação interna no corpo diplomático foi de uma mistura de decepção e constrangimento.
Pelo menos duas incoerências foram destacadas. A primeira: o fato de um diplomata cuja missão é contraditória a uma guerra ter usado justamente uma arma para responder aos manifestantes. A segunda incoerência: fazer esse gesto em Nova Iorque e às vésperas da abertura da reunião anual da ONU, organismo criado para tentar silenciar os tambores da guerra.
Uma parcela dos diplomatas, na condição de anonimato por temer serem punidos por comentários, indicaram que o sentimento do Itamaraty ainda é de "muita apreensão", além de "incredulidade" de que França tenha sido capaz de fazer o gesto.
Houve ainda quem se disse "decepcionado". "Embora soubéssemos quem o indicou, considerávamos que ele poderia procurar blindar o Itamaraty do radicalismo da extrema-direita", explicou. "Ledo engano", lamentou.
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