Grupo LGBTQIAPN+ saem em apoio a um grupo terrorista islâmico no Rio de Janeiro

Grupo LGBTQIAPN+ saem em apoio a um grupo terrorista islâmico no Rio de Janeiro

Artigo de Pedro Carmona, no jornal "diagonal"
Tradução de Adriana Lopera

Na Palestina existe uma forte rejeição institucional e social da homossexualidade. Outros países árabes do seu entorno - Líbano, Jordânia, ou a Síria- experimentam uma leve abertura, mas a Palestina tem resistido a 60 anos de ocupação militar fechando-se nas suas próprias tradições e não se vai dar nenhuma mudança social até à libertação nacional. "O fim da ocupação, primeiro, o resto, depois" é um lema habitual perante as demandas dos direitos civis, do laicismo ou da igualdade de género. Mas no caso das reivindicações LGBT, o tabu manter-se-ia inclusive após a libertação da Palestina.

Um tabu que é mais estranho ainda, pois relaciona-se com certos valores de pertença e de fidelidade ante a ocupação: a percepção comum de que ser gay é ser anti palestiniano não se baseia só na ideia, tão ingénua como estendida, de que "não há gays na Palestina" e se houver é por causa da nociva influência israelita.

Também não se baseia só no facto de parte da população LGBT palestiniana desejar viver em Israel à procura de maior permissividade, mesmo sabendo que tal opção é imperdoável no seu país e que se se vão embora nunca poderão voltar. Baseia-se sobretudo, na utilização da homossexualidade por parte do exército israelita para obter confidentes: alguns gays palestinianos, na sua vontade de obter permissões de residência em Israel para fugir de uma sociedade fortemente homofóbica, passaram a prestar serviços à potência ocupante; em muitos outros casos, no entanto, a iniciativa partiu dos serviços secretos israelitas que, quando descobriam a homossexualidade de algum palestiniano, lhe faziam uma cruel chantagem: em troca de não o "tirar do armário", o que levaria a uma pressão social insuportável, a vítima deveria prestar serviços de espionagem para Israel. Por toda esta rede de factores, a equação "um gay é um traidor à Palestina" ficou lema: no início da segunda Intifada houve alguns espancamentos de gays palestinianos pelos seus conterrâneos.

População LGBT na Palestina e Em Israel

Em alguns casos limites de homofobia, algumas pessoas LGBT palestinianas optaram por fugir para Israel atravessando a linha verde de campo, o que lhes pode custar a vida nas mãos de soldados israelitas. Se sobreviverem, encontrar-se-ão com um outro inferno diferente: uma sociedade permissiva com os gays, mas completamente repressiva com os árabes.

Em Israel, centenas de lésbicas e gays palestinianos sem permissão de residência passam cada dia por controlos policiais sob o estigma de serem "possíveis terroristas". A ameaça da repatriação pende sobre as suas cabeças: "Voltar a casa não é uma opção" diz Abdu, que fugiu para Tel Aviv, cidade que para ele continua a fazer parte da Palestina e onde sobrevive dedicando-se à prostituição. "Se eu voltasse seria pior. Aqui por ser árabe, lá por ser gay, eu não tenho onde viver sem ser um estranho". Cair numa rusga policial israelita significaria escolher entre três opções sem saída: a prisão, a volta para casa ou emigrar para a um terceiro pais enquanto refugiado. Descartada por impossível a terceira saída, milhares de palestinianos que vivem sem papéis em Israel tiveram de escolher entre a prisão ou voltar ao lugar do qual fugiram ou do qual foram expulsos e onde, além do estigma sexual, seriam acusados de serem traidores da Palestina por terem emigrado. Muitos temem pela sua integridade física, ou pela sua vida, se escolherem uma prisão israelita. Se escolherem voltar para casa, também.

Poucos conseguem regularizar a sua situação de residência em Israel, com a ajuda do movimento israelita LGBT: uma gestão cada vez mais difícil, dada a paranóia pela segurança do Estado sionista, onde qualquer árabe é suspeito. Israel apresenta-se internacionalmente como o Estado que garante os direitos LGBT, mas a dita magnanimidade é só aplicada à população judaica.

Até ao início da segunda Intifada era mais simples: existia bastante liberdade de movimentos nos territórios ocupados. "A convivência entre palestinianos e judeus só existia no parque da Independência de Jerusalém" - Brinca amargamente Yosi, activista gay israelita, falando de uma zona onde gays palestinianos e israelitas se engatavam cada noite sem problemas. Existiam casais gays mistos (árabe-israelita) que se viram separados pelo conflito, depois de os palestinianos terem sido confinados aos territórios de Gaza e Cisjordania. A inexistência de casamentos gay privou-os de um recurso legal, que casais heterossexuais em casos similares puderam beneficiar .

Um movimento lésbico palestiniano

O único movimento LGBT palestiniano é Asuat, um grupo de lésbicas palestinianas que são legalmente "cidadãs israelitas" radicado em Haifa, com um âmbito de actuação em ambos os lados da linha verde. Nas suas assembleias também participavam lésbicas palestinianas oriundas dos territórios ocupados (sem cidadania israelita), que passavam controles militares e proibições familiares, até que o governo israelita acabou com a possibilidade das palestinianas se deslocarem. Na sua tripla luta pela libertação ("palestinianas numa sociedade israelita, mulheres numa sociedade de homens, lésbicas numa sociedade heterossexual"), Asuat converteu-se no único movimento social palestiniano que está comprometido ao mesmo tempo com o fim da ocupação e com os direitos LGBT: "Estamos contra todas as ocupações: a israelita, a machista e a heterossexual" declara Rauda Morcos, fundadora do grupo. Na sua rede de alianças, levaram a voz palestiniana aos grupos feministas israelitas e a voz LGBT às associações de mulheres dos territórios ocupados. Não é fácil: no último encontro internacional de Mulheres de Negro em Jerusalém, grupos palestinianos de mulheres vetaram-nas por serem lésbicas. E em Israel, são vetadas pelo feminismo sionista e as instituições oficiais. "Falamos uma linguagem que mais ninguém fala", declarou numa ocasião Morcos para explicar as dificuldades do seu grupo.

Asuat opôs-se a celebrar a Marcha Internacional do Orgulho LGBT convocada em Jerusalém no próximo Agosto: "Há uma ocupação, há um muro ilegal, estão a matar pessoas. Não há nada para celebrar aqui".

"A nossa sexualidade está incluída na Palestina"

Suad Bashir nasceu num campo de refugiados de Beirute e é membro do grupo LGBT libanês HELEM: "Ser refugiada palestiniana é já de per si uma etiqueta, e a classe de palestiniana que escolhas ser - a heroína, a vítima - vai determinar outras coisas". Sobre a homossexualidade nos campos, afirma: "È duro, ser lésbica ou gay, não se ajusta às imagens do refugiado palestiniano. Quando se lhe pergunta pela sua sexualidade, não encontra referentes: "Tudo faz com que te sintas diferentes, anormal e culpada por não seguir uma "identidade palestiniana". E aqui, sentir-te palestiniana é prioritário". Uma sensação estranha que na sociedade libanesa também seria igual, mas sem essa contradição com a fidelidade devida à causa. A isso soma-se a rejeição social, embora haja excepções:"Houve gays que conseguiram respeito social em troca do seu activismo nos comités de refugiados e por excluir a sua sexualidade do âmbito palestiniano, sem aceitar que a comunidade LGBT palestiniana exija os seus direitos: todo o esforço político tem de ser consagrado à Palestina". Mas para Suad ser activista LGBT não significa trair nenhuma causa:"não se trata de escolher entre a Palestina e a própria sexualidade. Ao contrário: lutar pela Palestina implica a libertação de todo tipo de opressões. Lutar pela Palestina não só para conseguir a terra, mas também para conseguir os direitos"

Por Jornal da República em 12/10/2023
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