Heloisa Teixeira um novo brilho à ABL

Heloisa Teixeira um novo brilho à ABL

Academia Brasileira de Letras ambiente do pensamento diverso e da palavra talvez seja um dos mais apropriados à Heloisa Teixeira. Professora que rompeu barreiras acadêmicas importantes assume a cadeira nº 30, resignificando mais uma vez, já que essa é a primeira vez que acontece na ABL a sucessão entre mulheres. Heloisa assume a cadeira da saudosa e extraordinária Nélida Pinõn, primeira mulher a presidir a ABL.

Foi recebida por outras mulheres igualmente célebres. Em seu discurso de posse lembrou as primeiras leituras na infância e adolescência, da biblioteca de seu pai, que de certa forma a influenciou e formou, seu perfil profissional e suas escolhas.

Além dessa afetuosa lembrança fez questão de nominar outras acadêmicas de valores aguerridos e caros à literatura, à cultura e ao Brasil. Curioso registrar o hiato de entrada de mulheres à Academia, sempre com intervalos longos, muito diferente dos homens, tal qual o número desproporcional de ocupações. Mas o valioso é saber que mesmo lentamente o cenário muda por capacidade e mérito.

Sua marca registrada foi entre tantas tornar acessível o conhecimento, com certeza, um marco indelével na trajetória de Heloisa e um diferencial para o Brasil. Nisso empenhou seu tempo, entusiasmo, determinação e coragem. Instigadora crítica rompeu barreiras e descobriu atores sociais de campos impensáveis alterando significativa e eficazmente o campo da cultura, trazendo a periferia ao centro do debate, da conversa e do pensamento.

Ousada atitude. Como ela, mulher de admiráveis posturas.

Foi precursora do feminino muito antes de movimentos estabelecidos e soube como poucas pisar o chão da igualdade, sempre por competência, inteligência e atitudes. Fez parte de uma geração que começou a mudar paradigmas especialmente no universo feminino, e por sua dedicação e consciência abarcou o periférico e o excludente.

Heloisa prestes a sua posse decide alterar seu nome evocando sua grei, em particular sua linhagem materna, mais uma de suas arrojadas atitudes, que de certa forma, indicam ainda mais o caminho e a contribuição que trará não só a ABL, mas ao universo por ela ocupado e que felizmente sobeja a todos nós.

Foi recebida pela acadêmica e amiga Ana Maria Machado que a acolheu com um discurso afetuoso repleto de lembranças e citações de sua trajetória pessoal, profissional e sua relação de amizade com a escritora; o colar pelas mãos de Rosiska Darcy de Oliveira e o diploma por Fernanda Montenegro.

Uma constelação. Entre seus pares, seu ingresso à Academia tem aroma de triunfo, de alegria e prestígio. Como afirmou Zuenir Ventura ‘não sei se sua chegada será melhor para ela ou para Academia. Acredito para ambas pelo que Heloisa representa’; para Cacá Diegues, ‘simplesmente formidável’ e Rosiska Darcy de Oliveira confirma a certeza de que ‘sua presença será muito estimulante além de agradável’. E para a nova acadêmica a palavra de ordem desse dia tão singular foi alegria.

Dona de uma escrita inspiradora, iluminada e livre de amarras estruturais, por coragem e verdade, a presença de Heloisa Teixeira à ABL inaugura um período ainda mais promissor e repleto de esperanças renovadas abrindo mais espaço para as ‘quebradas’ tão necessárias e urgentes ao Brasil, a cultura e a sua gente. Como reafirma o ator Leandro Santanna, ‘Helô é uma revolução, cerzindo a cidade através dos fazedores de cultura das periferias’. Tenho muito orgulho de ser um veterano quebradeiro’.

Heloisa, a Helô do famoso revellion de 1968, ano que não terminou, que fez da poesia seu encontro com o discurso da vida, tê-la como guardiã desse tempo inaugura sem sombra de dúvida, um refugo de esperança e luz, especialmente às mulheres e aos excludentes a quem soube dar voz, sobretudo, nesta histórica e memorável cadeira nº 30. Nélida Pinõn não faria por menos. Seja como for, Heloisa Teixeira ou Buarque de Hollanda, como ficou conhecida e reconhecida, é muito bem vinda a esse lugar por aptidão e representatividade do Brasil de verdade. Vida longa a nossa Helô. Sei que posso chamá-la assim.

Por Rogéria Gomes

teatroemcenanoradio@gmail.com

Por Jornal da República em 02/08/2023
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