Indústria 4.0: Um novo passo para a cooperação China-América Latina

Qiao Ying, traduzido por Pan Luodan, Diário Chinês para a América do Sul

Indústria 4.0: Um novo passo para a cooperação China-América Latina

Nos Ciclos de conferência China-América Latina que foram organizados conjuntamente pelos CNKI e instituições de pesquisa de vários países da América Latina, Celio Hiratuka, professor do Instituto de Economia da Unicamp, deu uma introdução sistemática ao desenvolvimento e às oportunidades trazidas pela Indústria 4.0, apontando as características do desenvolvimento da América Latina e da China no caminho da Indústria 4.0, e olhou para as perspectivas de cooperação entre a China e a América Latina neste campo.

Novos desenvolvimentos trazidos pela indústria 4.0 - o surgimento de bens intangíveis

A chamada Indústria 4.0, ou a quarta revolução industrial, é uma era de transformação industrial que utiliza tecnologia digital.

Os produtos típicos da Indústria 4.0 incluem a Internet das Coisas, tecnologia 5G, computação em nuvem e armazenamento em nuvem, algoritmos de IA e entre outros, que também fornecem um enorme impulso para aumentar a eficiência econômica das empresas.

Durante a palestra, o professor Hiratuka destacou um dos principais impactos da Indústria 4.0 na economia: o aumento do status de bens intangíveis.

Os bens intangíveis, como o nome indica, são ativos não físicos, incluindo marcas, estratégias de desenvolvimento, patentes, software, etc. Ao contrário dos bens tangíveis, que incluem edifícios, máquinas e equipamentos. Ao contrário dos ativos intangíveis, os ativos tangíveis têm certas limitações, por exemplo, uma máquina não pode ser usada em duas cidades ao mesmo tempo, mas o software pode ser compartilhado em espaços diferentes.

O Hiratuka ressalta que os ativos intangíveis são vitais para as empresas e proporcionam poderosos benefícios econômicos.

Tomando o WeChat como exemplo, quando mais pessoas usarem o WeChat, seu efeito de publicidade dobrará, e esses usuários atrairão um grupo maior de novos usuários, e o custo marginal é quase zero.

Além disso, os bens intangíveis também podem acelerar a expansão das empresas nos mercados internacionais. Na era da Indústria 4.0, a comunicação é mais fácil do que antes, os vários atores da atividade econômica estão ligados mais rapidamente e as empresas estão mais aptas a desenvolver e refinar suas estratégias comerciais.

O Hiratuka se referiu a um conceito: a Curva do Sorriso. A Curva do Sorriso é uma curva que sobe em ambas as extremidades e desce no meio. Os ativos intangíveis são as duas pontas da curva, significando que eles possuem maior valor agregado, as empresas envolvidas nestas áreas de atividade econômica - tais como empresas de software - são capazes de obter maiores lucros.

Empresas no meio da curva - tais como fábricas de montagem de produtos - são menos lucrativas. A Curva do Sorriso é também um reflexo da importância dos ativos intangíveis.

Com o processo da Indústria 4.0, empresas de diversos países passaram a dar atenção aos bens intangíveis.

Nos EUA, por exemplo, em 1975, os ativos tangíveis das empresas americanas representavam 83% do total de ativos, enquanto os ativos intangíveis representavam apenas 17%, mas em 2015, a proporção de ativos intangíveis havia subido para 84%.

Desafios da Indústria 4.0 na América Latina - intangíveis atrasados

O Hiratuka destacou que os intangíveis são a chave para a realização da Indústria 4.0, que é a fraqueza da América Latina.

A América Latina enfrenta muitas dificuldades para melhorar a competitividade dos bens intangíveis, tais como capacidade limitada para construir infraestrutura, o desenvolvimento tecnológico ainda está em estágio inicial e há desequilíbrios, e a promoção de coisas emergentes é lenta.

Em resposta, ele deu um conjunto de dados: na perspetiva da cobertura da banda larga fixa e móvel em todo o mundo, entre América do Norte, América Latina, Caribe, Europa, Ásia, África, Estados Árabes e países independentes (ou seja, países que ocupam um continente exclusivamente), a América Latina e o Caribe têm a terceira pior cobertura, logo acima da África e dos Estados Árabes, com uma taxa de cobertura de apenas cerca da metade da América do Norte.

Ao mesmo tempo, o professor mostrou os dados de previsão da taxa de aplicação da tecnologia 5G em todo o mundo em 2025. Segundo os dados, em 2025,a taxa de adoção de 5G na América do Norte e na China será próxima de 50%, na Europa próxima de 35% e na América Latina inferior a 10%. Isto significa que a América Latina é lenta no desenvolvimento da tecnologia 5G e ficará atrás de muitos outros países.

Além disso, a penetração da Internet no cotidiano das pessoas na América Latina ainda é muito baixa, e o desenvolvimento de tecnologias como Internet das Coisas e IA é ainda mais limitado, o que significa que a América Latina ainda tem muito espaço para desenvolvimento na Indústria 4.0. Mas para promover o crescimento dos bens intangíveis, também significa que é necessário muito apoio financeiro.

Se as economias da América Latina podem suportar as enormes exigências financeiras é outra questão.

A direção da cooperação China-América Latina na Indústria 4.0 - complementando os pontos fortes um do outro

O Hiratuka explica que, após a reforma e abertura, a sociedade chinesa mudou drasticamente em todos os aspectos, incluindo ciência e tecnologia, principalmente porque o governo chinês vem enfatizando a importância da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento há muitos anos.

A China tem feito muitos esforços para promover a ciência e a tecnologia, tais como aumentar o investimento em analise e desenvolvimento, apoiar universidades para conduzir pesquisa, estabelecer fundações de orientação científica e tecnológica, e apoiar empresas privadas em desenvolvimento de pesquisa. Com sua riqueza de ativos intangíveis, a China alcançou um rápido desenvolvimento em muitas áreas, e assim foi capaz de responder eficazmente aos problemas que o país enfrenta em seu processo de desenvolvimento.

Nesse sentido, ele forneceu um outro conjunto de dados, mostrando a tendência de mudanças na proporção do investimento científico e tecnológico no PIB de vários países nos últimos anos. Os dados indicam que o investimento da China neste campo cresceu mais rapidamente, superando os países europeus em 2019. Em termos de escala de investimento, a China também ficou atrás apenas dos EUA em 2019.

Outra informação digna de nota é que em 2011, havia apenas 56 empresas de P&D na China, e o valor do investimento foi de apenas 13,913 bilhões de euros, mas em 2019, o número de empresas chinesas de P&D aumentou para 256, e o valor do investimento também atingiu 85,851 bilhões de euros, atrás apenas dos Estados Unidos e Japão. Pode-se ver que a pesquisa e o desenvolvimento científico e tecnológico da China fizeram grandes conquistas nos últimos anos.

Além disso, a maioria das maiores empresas de tecnologia do mundo está localizada nos EUA e na China. E a China ultrapassou os EUA como o país com o maior número de patentes em IA, o que significa que ela é o país líder em IA.

Por fim, o Hiratuka concluiu que, a partir dos dados acima, pode-se constatar que a China é líder mundial no desenvolvimento da Indústria 4.0, o que também oferece a possibilidade de cooperação entre China e América Latina neste campo.

A China tem força suficiente para poder “ajudar a América Latina” por meio da cooperação nesse caminho, especialmente na construção de infraestrutura digital, cidades inteligentes, saúde, tecnologia e agricultura. Ao mesmo tempo, porém, a América Latina também deve fortalecer sua capacidade de aplicar novas tecnologias e garantir que possa promover uma série de planos de desenvolvimento científico e tecnológico por um longo tempo, a fim de fortalecer sua cooperação com a China.

Por Jornal da República em 31/05/2022
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