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No dia 20 de dezembro de 2019, uma reportagem, de Ricardo Balthazar, na Folha, deu o melhor raio-x da mais abjeta cobertura da história do jornalismo brasileiro, um episódio que manchou indelevelmente a imagem de veículos, jornalistas, Ministros do Supremo, procuradores, delegados da Polícia Federal mas, especialmente, da mídia, reflete Luís Nassif em texto originalmente publicado em seu site Jornal GGN.
Segue o decano do jornalismo.
Segundo a reportagem, em março de 2015 um editor escreveu a Deltan para dizer que o filho de um ministro do Supremo Tribunal Federal estava vendendo facilidades no mercado. O jornalista afirmou que o procurador podia contar sempre com sua colaboração, porque tinham objetivos comuns.
“Na mesma época, três repórteres procuraram o chefe da força-tarefa para contar que assessorias de comunicação que trabalhavam para empreiteiras investigadas pela Lava Jato estavam alimentando as Redações com informações sobre disputas internas na Polícia Federal”, continua a reportagem.
“Outro jornalista relatou a Deltan nessa época conversa que tivera com advogados de uma empresa e o que descobrira sobre a estratégia que eles desenvolveram para enfrentar a operação. O repórter contou que tinha gravado o encontro e disse que poderia mandar uma transcrição”, num exercício abjeto de jornalismo.
Repórteres submetiam a Deltan textos de reportagens, antes da publicação. Outros publicavam entrevistas nas quais o próprio Dallagnol incluía as perguntas – algo que eu não via na imprensa desde os tempos terríveis de José Serra.
Segundo a reportagem, Deltan declarou (e foi registrado na Vazajato): “O repórter deu liberdade para fazer novas perguntas, desconsiderar o que entendesse impertinente, criar”, disse o procurador aos assessores certa vez. “Temos na nossa mão o que queremos para dar o foco em que quisermos… as perguntas que criarmos aparecerão como dele, mas temos que manter é claro sigilo sobre isso rs”.
A Lava Jato não caiu apenas devido à Vazajto, mas ao ato do Procurador Geral da República Rodrigo Janot, atingindo o então presidente Michel Temer – interrompendo todos os negócios que estavam sendo entregues por Temer ao mercado.
Enquanto viver, minhas retinas cansadas jamais de esquecerão das três cenas que mais me chocaram e me envergonharam, como brasileiro.
Um deles, a condução coercitiva de Lula para o Aeroporto de Congonhas, de uma violência simbólica indescritível. Depois, o desespero da militância, correndo até o aeroporto e impedindo o seu sequestro,
O delegado que interrogou Lula foi Luciano Flores, cujo irmão é desembargador da 8a Turma do TRF-4 empenhado em atrapalhar as investigações sobre a Lava Jato.
Outro episódio foi a divulgação da conversa entre Lula e Dilma. Assisti no televisor do aeroporto de Congonhas, onde vi também o atentado das Torres Gêmeas. O impacto foi o mesmo. É como se a cidadania tivesse sido derrubada por bombas incendiárias lançadas por terroristas tresloucados.
O terceiro episódio foi Lula impedido de ir ao velório do irmão Vavá
As indignidades não pararam por aí. A reprodução de diálogos da Vazajato, com procuradores ironizando a morte de dona Mariza e do próprio neto de Lula é a exposição nua da banalidade do mal.
É terrível o processo de desumanização do “inimigo”. Não respeitam morte de parentes, atribui-se qualquer demonstração de humanidade (a dor pela perda) a jogos de cena. É possível que em outros ambientes houvesse demonstrações tão horripilantes de desumanidade e que não foram registradas para a história. Mas a Vazajato fará com que cada personagem dos diálogos abaixo levem para o túmulo a vergonha de um dia terem se comportado dessa maneira. Serão malditos para sempre, a vergonha recobrirá todos seus descendentes, filhos e netos e jamais seus atos serão escondidos pela história.
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